Hasta
“Na cuba dos dias de hoje, acabou-se o tempo onde uns comiam sem trabalhar” (Che Guevara).
A poucos dias o mundo globalizado pode assistir um grande fato histórico mundial que foi a renuncia de Fidel Castro ao Governo Cubano após 49 anos no poder, para muitos, uma perda irreparável e para outros uma euforia histérica.
Tenho acompanhado tudo o que se produziu nos meios de comunicação de massa, principalmente aqueles veículos que tem mais audiência, e mais uma vez pude constatar a grande verdade que poucos sabem: as grandes empresas de comunicação, só servem para apresentar fatos de maneira tendenciosa, criar ‘consensos’ e servir aos interesses dos grupos dominantes.
O grande Jornal da Globo na madrugada do dia 21 de fevereiro, estreou com toda pompa da sua qualidade visual onde se via na tela de fundo um céu turvo com o rosto em perfil de Fidel e alguns trechos cuidadosamente escolhidos do seu discurso de renúncia. O melhor foi a fala do repórter: “Vencido pelo tempo, o ditador cubano deixa o poder, depois de ter sustentado um regime falho e tirânico, baseado em idéias antigas que foram aplicada na prática e a História provou sua inoperância. O povo de Cuba respira aliviado na esperança do sonho democrático”.
No outro dia, olho os jornais escritos e o discurso era quase o mesmo, a frase de ordem era: “O ditador caiu”. Na televisão, analises mil dos economistas sobre os rumos da economia cubana. Minha cabeça era um misto de perplexidade e indignação, pelo fato de que para tudo que serve de interesse só se mostra o que convém. Ninguém, nenhum veículo de comunicação parou para analisar profundamente as coisas, eu digo analisar mais profundamente as coisas e não apresentar uma “informação” recoberta de efeitos especiais com pretensão de ser dona da verdade, mas, extremamente desprovida de argumentos totalizantes.
Virou lugar comum nos discursos chamarem o regime cubano de ditadura e Fidel Castro de ditador e pronto! Poucos avançam no debate poucos querem virar a moeda para ver as duas faces. Antes de rotular qualquer pessoa ou sistema, prefiro começar a fazer um paralelo básico: em Cuba existe pobreza e não miséria e até a pobreza de lá é bem diferente da nossa desde até quem venha a ser pobre. Lá é pobre do médico até o lavrador, mas uma pobreza também diferente, pois, é pobreza com dignidade. O pobre de lá tem condição de estudar numa escola com qualidade extraordinária e esse mesmo pobre estudante vai saber que ali ele terá como colega de turma o filho do doutor e do agricultor, pois, em Cuba não existe escola particular “melhor” pra separar rico de pobre. O cubano tem saúde pública com uma das melhores qualidades do mundo, onde o médico mesmo depois do paciente sair do hospital com seus medicamentos em mãos, o médico vai acompanhar semanalmente o tratamento em sua casa.
Em Cuba nenhuma profissão é encarada como mais importante do que a outra, por isso os salários são praticamente iguais. O leitor pode está se perguntando se é justo alguém estudar tanto como um doutor e ganhar quase a mesma coisa que um agricultor. Ai eu lanço outra pergunta: será que é justo o agricultor perder suas forças no trabalho do campo e não poder nem alimentar os filhos como acontece no nosso sistema? São olhares como esse, por todos os ângulos que nos fazem enxergar melhor. Será que esse discurso de que o trabalho intelectual é superior ao braçal não é o discurso do doutor político que para convencer a todos porque filho de doutor tem condição de um dia ser doutor também e filho de lavrador é quase impossível que um dia chegue a ser doutor, mas irá sempre trabalhar sempre para o doutor.
É aquela velha história do político dizer que está fazendo de tudo pela saúde pública, que ambos os sistemas estão em pleno desenvolvimento, mas seus filhos e famílias tem os melhores planos de saúde e estudam em escolas particular e em qualquer piripaque terão uma equipe medica avançadíssima para que não sinta uma dor em uma unha. Os grandes defensores da propriedade privada ou são proprietários ou são meros reprodutores de discurso dominante. Enquanto que quem tem condições de estudar quer ser doutor a todo custo para ganhar bem na tal ditadura cubana, o indivíduo só vai estudar para ser doutor se tiver aptidão para tal.
Realmente, a pobreza em Cuba foi socializada e muitas das causas e dos problemas se chama embargo dos americanos que poucos analisam. Poucos olham que esse embargo dos EUA é uma indignação do governo americano por ver uma ilha pequena localizada quase no seu quintal se negar ao imperialismo capitalista e dizer não ao consenso de Washington e esse imperialismo capitalista hoje caracterizado ou evoluído para uma forma que chamamos de GLOBALIZAÇÃO. Sempre que alguém se negará a essa submissão é pintado de demônio. A figura de diabo latino, hoje, não é estendido só a Fidel, outros são figurados assim como Hugo Chaves e Evo Morales.
Aqui todos vivem na malha do medo da violência que é produto da exclusão, enquanto em Cuba se pode andar de madrugada no meio da rua porque armas só quem tem é o exército. E não acontecem crimes? Acontecem, porém na maioria das vezes passionais, e nos presídios o que há são prisioneiros políticos o que é um erro, admito. O maior erro do regime cubano é a falta de liberdade de expressão, isso é um crime de fato.
Lá, ninguém compra roupa de grife, mas ninguém anda maltrapilho lá quase não se come carne, mas todos têm direito a comer, e é impossível que se encontre alguém esquálido de fome. Lá existe sim o tão comentado El Paredon, onde se fuzila criminosos, mas muitos corruptos já morreram lá por roubarem dinheiro público o que é bem diferente daqui onde a impunidade garante a permanência da corrupção.
A educação cubana é tão eficaz que consegue formar homens e mulheres éticas, que respeitam a liberdade religiosa e estão longe de suas práticas preconceitos raciais e sexuais. Pouco estão interessados pela cor da pele ou com quem o indivíduo vive ou vai pra cama. Respeita-se todos e não quem tem mais dinheiro. Ora! Ora! Então Cuba é o céu? – Não, existem muitos defeitos, pois, não existem regimes perfeitos. Vou enumerar os seus defeitos a meu ver, a falta de liberdade e de democracia política, pois atrelado ao sistema, poderia haver tudo isso. Se houvesse igualdade e liberdade esse seria o verdadeiro socialismo, mas mesmo assim não desmereço o ex-líder de ter estruturado o “fidelismo” com todos os seus defeitos, mas na intenção de produzir o socialismo real.
Só sei que em Cuba todos comem, recebem assistência de saúde, estudam e tem seus dentes completos e aqui a maioria não sabe o que é comer, são maltratados nos hospitais, estudando ou não são explorados e grande parte banguelos.
Queria apenas mostrar os dois lados de ambos os sistemas para nos levar a ver quais dele é mais humano, para acabar com essa babozeira de quem tem sua casa, sua barriga cheia, sues planos de saúde, suas boas escolas, bater no peito e dizer que quem passa fome é quem não quer trabalhar ou que ao invés de roubar no supermercado um pacote de fubá, o indivíduo deveria viver de comer bananas para não roubar. Esses seres que reproduzem esse discurso hipócrita ainda se dizem cristãos, igualitários e justos, quando na verdade só querem reproduzir o modelo do macho adulto e branco sempre no comando, onde a ordem é riscar os índios e nada esperar dos pretos, além de não reconhecer valor em pobre, gays e mulheres sozinhas e dizer que tudo vai bem e que o Brasil é um país democrático onde o indivíduo é livre para escolher seus governantes.
Espero firmemente que um dia se cumpra o que Fidel um dia falou: “A História me absolverá”.
Escrito por: Kleber Henrique
E-mail: prof_kleber_henrique@hotmail.com
Professor de História
2 comentários:
GOSTARIA SÓ DE PARABENIZAR NO MAIS ALTO NÍVEL!!!
QUE TEXTO EXTREMAMENTE REFLEXIVO E CORAJOSO, SÃO POSTAS INÚMERAS VERTENTES DE ANÁLISE DO REGIME CUBANO E O ESCRITOR AINDA COLOCA-SE COMO QUE NUMA POSIÇÃO DE RECONHECER QUE O SISTEMA AINDA NÃO É O SOCIALISMO QUE SONHAMOS E LUTAMOS, MAS QUE É UM CAMINHO ALTERNATIVO AO DEGRADANTE MODELO QUE VIVEMOS.
FIQUEI SURPRESO E ATÉ INTRIGADO COMO É QUE UMA CIDADE QUE NINGUÉM DAR NADA POR ELA, COMO É O CASO DE SÃO VICENTE QUE EU CONHEÇO, EXISTA UM VEÍCULO DE INFORMAÇÃO COM TANTA QUALIDADE E QUE A JUVENTUDE A PARTIR DA BRAVURA DE ALGUNS COMO OS ESCRITORES DO CUCA, TEM A OPORTUNIDADE DE TER EM MÃOS AS PREMISSAS NECESSÁRIAS PARA DISCUTIR POLÍTICA EM UM NÍVEL NECESSÁRIO PARA AS DECISÕES DOS TEMPOS DUVIDOSOS COMO OS DA ATUALIDADE.
CORAGEM E SUCESSO, POIS IMAGINO AS BORDOADAS QUE VOCÊS DEVEM PASSAR TAMBÉM!!
TENHO QUE CONCORDAR COM UM COMERCIAL DA REDE GLOBO QUE DIZ QUE OS HÉRÓIS EXISTEM, SÃO PESSOAS COMUNS, MAS COM GRANDES ATOS.
ZEZO CABRAL
PROFESSOR
Cada vez que vejo alguma coisa feita pelo senhor, como foi o caso desse texto, sinto-me orgulhoso de ter sido seu aluno de uma pessoa que admiro muito e me sinto triste também porque o tempo foi pouco pra aprender com o senhor. Foi uma grande perda para o Ceru não lhe ter mais no quadro de professores, a escola perdeu e os alunos mais ainda. Já terminei os estudos do Ensino Médio e apaixonado por História por sua causa, sinto falta de novos contatos e debates.Veja aí se promove palestras, cursos,alguma coisa.Sentimos falta!!!!
Paulo Francisco
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