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quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Eu No Tempo!

Nós somos também construtores de flores

“Aos estudantes”

Era 13 de agosto de 2007, a poucos dias da 3ª edição do “Cuca Livre”, um dia após, um maravilhoso encontro etílico comemorando mais uma translação que a terra deu em torno do sol (dia de aniversário) do nosso amado camarada Kleber Henrique. Sentia-me incomodado pelo fato de ainda não ter certeza do que escrever, foi aí que pensei, pensei, e lembrei que agosto é o mês que se comemora o dia dos estudantes. Daí, viajei no tempo, lembrando daqueles famosos movimentos estudantis feitos durante a ditadura militar, lembrei das belíssimas músicas de resistência que até hoje nos trazem inúmeras reflexões. Pensava com meus botões quanta coragem e preocupação por uma vida melhor, uma sociedade justa e além de tudo o direito de viver em liberdade e exercer a cidadania. Aqueles bravos guerreiros (estudantes) enfrentavam repressão e muita censura, onde muitos morreram por seus ideais.

Participar do movimento estudantil era, acima de tudo, correr riscos. Risco de perder a vida, perder a esperança, e, especialmente perder a liberdade.


Hoje, com as mudanças no cenário político-econômico nacional, muitos dos ideais originais do movimento estudantil se perderam e a maioria dos estudantes parece "aprisionada" dentro de um sistema que não prioriza o coletivo, porém, jovens considerados por muitos como obstinados e idealistas se sobrepõem às dificuldades e continuam lutando, mostrando que a história do movimento estudantil está ligada, sobretudo, à resistência à criação de uma sociedade individualista.


A música que escolhi para identificar a classe estudantil foi “Pra não dizer que não falei das flores” (canção de Geraldo Vandré), essa canção é símbolo de uma época de maior efervescência do movimento estudantil e de lutas populares. Acredito que todo brasileiro já ouviu trechos dessa canção:

Caminhando e cantando e seguindo a canção
Somos todos iguais, braços dados ou não
Nas escolas, nas ruas, campos, construções
Caminhando e cantando e seguindo a canção

Vem, vamos embora que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora não espera acontecer

Essa canção, é um hino considerado pelos estudantes e pelas lutas populares no Brasil, em seus versos mostra que as lutas estudantis não visavam apenas sua classe, mas as questões sociais da época, como, a questão agrária do país, a repressão dos militares, que na maioria das vezes se interpõe contra o povo e em favor dos interesses da elite, essas duas estrofes deixam clara a preocupação da classe estudantil, com problemas sociais da época e a esperança de uma sociedade menos individualista e repressiva:

Pelos campos há fome em grandes plantações
Pelas ruas marchando indecisos cordões
ainda fazem da flor seu mais forte refrão
e acreditam nas flores vencendo o canhão

Há soldados armados, amados ou não
Quase todos perdidos de armas na mão
Nos quartéis lhes ensinam a antiga lição
de morrer pela pátria e viver sem razões”.


Os movimentos estudantis, ficaram marcados de lutas por ideais em várias épocas principalmente nos períodos em que as questões relacionadas aos destinos do país e às decisões que viessem alterar a vida do povo como um todo era seu alvo maior. Olhar para a história recente do país sem perceber a atuação estudantil é sem dúvida, um grande equivoco.


Quantos jovens estudantes perderam a vida em busca de uma sociedade mais justa e humana e até hoje suas memórias foram sepultadas pela poeira do tempo, mas sem deixar que seus exemplos morressem.


Atualmente, a classe estudantil se subdivide em diversas alas, quando se considera seu papel nas lutas sociais. Nas cidades grandes existem duas alas: aqueles que se integram e se engajam nas lutas, nas manifestações, nas ações e nos protestos e aqueles que simplesmente vão à escola, mas não se mobilizam por não se sentirem simpáticos para com essas atuações, limitam o ser estudante apenas a quem freqüenta uma sala de aulas.


Nas cidades do interior, dificilmente se encontra movimento estudantil organizado, muitas vezes seus grêmios estudantis são meros órgãos promovedores de eventos ligados à diversão, mas distantes das questões de interesse coletivo.


Nesse texto, pretendi dedicá-lo em especial aos estudantes e deixar um recado: estudante não é simplesmente espectador da história, mas um forte agente de mudanças. Todo dia é dia de estudante, não façamos mais do 11 de agosto só um momento de festa, mas dia de consciência e mobilização. Festas, os políticos nos dão quase que constantemente, e são necessárias também, desde que não nos faça crer num mundo de conto de fadas ou que as mudanças só acontecem de “cima para baixo”. Todas as mudanças do mundo na melhoria da vida do povo só foram reais porque a “classe de baixo” lutou muito.


A realidade de nossas escolas, na grande maioria beira o caos: falta de recursos, professores mal pagos e mal capacitados, alunos desestimulados e o resultado todos já conhecem.


A luta estudantil é um caminho de mudanças, e um passo importante, digamos que seja o primeiro degrau.


Gostaria imensamente de no próximo 11 de agosto escrever outro texto, só que de felicitações e força para os grêmios estudantis que possam surgir em nossa cidade, dos quais tenho certeza que todos que acreditam na força do jovem estão prontos para dar os braços e caminhar juntos, pois juntos somos muito mais fortes.


Deixo o forte chamado das últimas estrofes da música que escolhi.


Nas escolas, nas ruas, campos construções
Somos todos soldados armados ou não
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Somos todos iguais, braços dados ou não”.


Os amores na mente, as flores no chão
A certeza na frente, a história na mão
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Aprendendo e ensinando uma nova lição”.


Escrito por: Josias Albino
Técnico em informática e um dos diretores do Cuca Livre.
E-mail: josiasbad@hotmail.com


P.S.: Quero agradecer ao camarada e ex-professor de História, Kleber Henrique, por ajudar a mim e demais alunos em nossa formação educacional como também no despertar de nosso senso critico e a Daniel Ferreira, também professor, por está fazendo um belo papel de educador comprometido com as mudanças sociais. Dedico também a todos os professores de minha infância e adolescência que contribuíram positivamente com meu aprendizado. Desejo à todos muito sucesso e que continuem fazendo sempre o belo trabalho de educador.


Um Desenho

Os Filhos Deste Solo

Tentar escrever sobre a vida de alguém é algo que bifurca em dois caminhos: a dificuldade de fazê-lo e ao mesmo tempo o prazer que isso traz quando tivemos a oportunidade de conhecer essas pessoas sobre as quais escrevemos e que nos deixaram ricas lições de vivência.

Ainda lembro que quando eu era menino, seu Caetano como todos o chamava, trazia em si as características de um mito vivo, aquele senhor baixinho, quase centenário, que conservava o hábito de usar paletó, com uma voz forte e cheia de propriedade no que falava. Guardava na memória muito conhecimento e a história de sua terra. Era a alegria da meninada da Rua Coronel Henrique que enchia a calçada alta do sobradinho que ele morava e já era certo todas as noites vê-lo descer as escadas de casa para ir à igreja. Com os bolsos do paletó cheio de nego-bom desafiava a criançada com perguntas de conhecimentos gerais para ganharem os doces. No final era certo todos ganharem, mais ele deixava a lição: Vão ler meninos! Vão ler!


Manoel Caetano – Guardião da Memória Viva de São Vicente Férrer


Manoel Caetano de Oliveira, nasceu em São Vicente Férrer, no Sítio Estreito em 12 de dezembro de 1891, sabia relatar a formação de sua família, que era descendente de portugueses com indígenas. Seu pai José Caetano de Oliveira era neto de uma índia. Numa batalha entre índios defendendo a terra e brancos pela tomada da mesma, no desenrolar do conflito, uma indiazinha perdida e com medo se escondeu no mato e salvou-se de ser morta, posteriormente essa índia casou-se com um português que era seu avô e tiveram 10 filhos, entre eles seu pai José Caetano de Oliveira que casou-se com Elvira Maria da Conceição, sua mãe.

A família muito grande se dispersou para várias áreas do país e nós vicentinos, tivemos a sorte de seu Caetano ficar por aqui, herdou dos portugueses ousadia e dos índios coragem e bravura.

Sua família era de agricultores plantadores de café e tinha uma pequena propriedade no Sítio Estreito, não valorizavam a cultura letrada, apenas o cuidado com a terra. Manoel Caetano tinha muita vontade de aprender a ler, mas seu pai não achava necessário. Cuidar do café bastava. Quando bem jovem soube através de amigos que havia um professor em Macapá (Macaparana) e tapeou o pai dizendo que ia trabalhar num comércio na rua, começou como balconista no armazém do Coronel Nestor Gomes de Moura, quando terminava os expedientes, muitas vezes foi a pé para Macapá ter aulas. Aprendeu a ler e escrever bem e daí a leitura foi sua grande parceira, lia tudo, revistas, livros, jornais e ouvia rádio para manter-se informado.

Com sua inteligência e perspicácia participava das conversas nas grande rodas de políticos, coronéis da republica velha, comerciantes, proprietários de café e senhores de engenho.

Quando jovem gostava imensamente de carnaval e se esbaldava nas folias de Momo, contava que em certa feita, um jovem estudante de direito, o Dr. Cláudio Cunha veio passar o carnaval em São Vicente e convidado pela rapaziada para cair na farra, se recusou, era um intelectual e esteticamente cair nessas “coisas do populaxo” não ficava bem ao jovem doutor. Depois de muita insistência, decidiu ir a cavalo só ver as festas que saía da antiga Fazenda Recreio, a turma preparou um plano que fez com que o cavalo desse uma queda no Doutor no meio do bloco. Depois que caiu literalmente, resolveu cair na dança.

Ainda bem jovem, apaixonou-se por Adélia Pessoa de Almeida, filha única de Rita Maria da Conceição e Gonçalo Francisco de Almeida, grande mestre pedreiro que construiu tanto parte da igreja matriz, quanto a ponte da Rua Coronel Henrique que em forma de arco, na época, ninguém acreditava que durasse, mas está de pé até hoje.

Adélia nasceu na Paraíba e era moça fina que estudou e tornou-se professora. Começaram a namorar (ela e Manoel Caetano) sem a aprovação dos pais da mesma que tinham preconceito porque a família de Caetano era de Analfabetos. Diante da proibição, deram o namoro por acabado, mas Manoel Caetano articulou um plano: começou a namorar uma moça analfabeta e lhe enviava cartas constantemente, a mesma retrucou como iria ler sem saber e ele lhe aconselhou que procurasse Adélia para ler para ela. E assim começou o indo e vindo de cartas, até que dona Rita desconfiou e terminou junto com seu Gonçalo permitindo o casamento, pois Adélia já tinha 19 anos e poderia “encalhar”.

Um ano depois de casados, 1915, foi nomeado sacristão da Matriz, cuidava da igreja como de sua casa, presenciou e trabalhou pela construção da torre em 1930. foi sacristão por 70 anos, era querido pelo povo católico, pois na falta de padres, ele batizava e evangelizava.

Tiveram cinco filhos: Maria José, Maria Margarida, José Bartolomeu, Maria Mercês e Maria Cleonice. Seu maior esforço foi educar os filhos. Seu filho homem estudou no Ginásio Pernambucano (Recife), Maria José e Cleonice se formaram professoras no internato de moças em Timbaúba (Escola Santa Maria). Ele exigia muito desempenho dos filhos nos estudos, pontuava: “a média do colégio é 6, mais a minha média é 7 e se não passar no fim do ano volta para casa pra tirar café” .

Seu Caetano era apaixonado por política, fã incondicional de Getúlio Vargas, era filiado ao PTB (Partido Trabalhista Brasileiro). Fez questão de conhecer Getúlio quando veio a Recife, e de fato foi e conversou com o Presidente. Firme em sua posição política, décadas depois como membro do PSD (Partido Social Democrático), também um partido getulista, travou lutas tremendas em campo local, pois era adversário do político Sr. Sandoval Maranhão do Egito (Prefeito muitas vezes de São Vicente que era membro da UDN(União Democrática Nacional)). Nunca se beneficiou da política para ganhar favores pessoais. Lutou ativamente pela Emancipação do Município em 1953, conversou com Paulo Guerra que era Deputado Estadual e que quase o tirava a esperança, quando disse que era preciso 1000 (mil) assinaturas para emancipar a cidade, e o pediu que arrumasse ao menos 500 (quinhentas). Voltando a São Vicente, andou de casa em casa e até pelas zonas rurais e conseguiu as Mil assinaturas e assim a vila Manoel Borba voltou a ser São Vicente Férrer independente politicamente de Macaparana.

Trabalhou na extinta Cooperativa dos Agricultores de São Vicente já bem idoso. Aos quase 71 anos de um casamento feliz em 09 de janeiro de 1986, perdeu sua companheira Adélia.

Dono de uma inteligência e memória excepcional teve vários ofícios e era fonte viva da história da cidade, discutia qualquer tema. Era super cogitado por estudantes e universitários que vinham entrevistá-lo. Sem titubear era uma correnteza branda de informações. Portava um amor fora do comum pela cidade. O passar de seus últimos anos foi cumprir com as exigências do cansaço do corpo provocados pela ação das lutas, do trabalho e do tempo. Ficou sem andar, mas com uma mente lúcida até seu quase centenário, faltava apenas 26 dias. Uma de suas maiores alegrias com relação a cidade, foi receber a noticia de que a comarca havia voltado a funcionar em São Vicente na gestão do prefeito Honorato Leitão, que fez questão de ir dar essa noticia pessoalmente.

Em 12 de novembro de 1991, deitado em sua cama rodeado pelo carinho e dedicação da família, orações e a meninada da rua, com sua missão cumprida e seu exemplo nos deixou o nosso bom velhinho.

A equipe do Jornal faz um apelo ao poder público que providencie o recolocamento da placa na praça Manoel Caetano de Oliveira locada no Pátio da Capela de Nossa Senhora da Conceição no Bairro da Cohab. A memória desse cidadão vicentino precisa ser conhecida e perpetuada.

Escrito por: Kleber Henrique

Professor de Historia

E-mail: prof_kleber_henrique@hotmail.com

P.S.: Agradeço imensamente a minhas vizinhas e amigas Guida, Cléo e Merça (Filhas de seu Caetano de Oliveira) que me receberam muito bem. Cedendo as informações e acima de tudo pelos momentos agradáveis de conversa.



Obs.: Foto – Casamento de Manoel Caetano de Oliveira e Adélia Pessoa em 1914.


Umas Palavras


Gilvan Guedes (Empresário e Agricultor)

Data: 12/08/07

Local: Sua Residência (Fazenda Mirim – S.V.F).

Cuca Livre: Como o senhor se sente em ser vicentino? Ou melhor, o senhor nasceu aqui?

Gilvan Guedes: Eu não nasci aqui não, nasci em Recife. Meu pais como outras pessoas que tinham posses iam parir em Recife. Mas, eu só nasci no Recife e vim logo praqui. Vivi a infância toda no engenho. Eu me sinto bem, é a região que eu gosto,clima muito bom, chove bem. Gosto de estar aqui, mas o que me faz sentir muito é ver uma região tão boa não se desenvolver tendo tudo pra isso. Só não se desenvolve pelo desinteresse de muitos com essa terra.

Cuca Livre: De suas lembranças, o que ficou mais vivo do exemplo de seu pai (o sr. Pedro Pereira Guedes) e dos tempos do Engenho Gracioso da Serra?

Gilvan Guedes: Era aquele movimento que tinha, os matutos carregando cana, fazendo rapadura, os partidos de cana-de-açúcar, o cheiro, o cheiro é muito vivo, o mel. Eu até hoje quando passo na praça onde era o engenho me lembro do cheiro mel.

Do meu pai, me lembro muito de sua facilidade de fazer amizades, espirituoso, muito alegre, fazia amizade com muita facilidade. O povo gostava muito dele.

Cuca Livre: Como filho de um proprietário industrial da cana, como o senhor encara a importância dos engenho naquela época para São Vicente Férrer?

Gilvan Guedes: O engenho movimentava muita coisa porque era como se fosse uma pequena industria hoje. O engenho era como se fosse uma pequena usina. Tinha muitos empregados, muita mão-de-obra empregada e isso já é muito importante porque tira muita gente da miséria. Para a época era muita inovação, pra você ter idéia, até pra chegar energia aqui papai deu muita idéia.

Cuca Livre: Seu pai, o senhor Pedro Pereira Guedes, além de um industrial (digamos assim) era representante de uma elite agrária e foi também prefeito do município. Quais os feitos em nível social que você lembra como essenciais para o povo ou inovadores na administração do seu pai?

Gilvan Guedes: De obra social do tempo de papai, eu não me lembro de nenhuma (risos). Papai não era bom administrador, até para algumas coisas do engenho, é tanto que ele nunca ia acompanhar o trabalho ou ir para dentro do plantio.

O grande feito social de papai, é que no tempo dele como prefeito não havia perseguição. Não tinha nem como fazer muito em termos de obras, naquela época as prefeituras não recebiam as verbas que vem hoje. Ele fez algo pela educação, lembro que comprou carros para levar estudantes para outras localidades. Até tinha políticos que o aconselhavam para que alguns alunos não fossem no carro da prefeitura e papai não aceitava essa visão, dizia: “a prefeitura é de todo mundo”. Não tinha ginásio aqui e os rapazes e moças iam para Macaparana ou Timbaúba estudar.

Não sei se ele lembra, mas na época, Zé Hélio era estudante e era de partido contrario ao de papai, Sandoval na época, disse a papai: “Pedro, num deixa ele ir no carro não, tu tai criando cobra pra te morder” e papai com aquele riso fino disse: “cobra só presta grande!”. (risos).

Cuca Livre: Em nossa visão, o Engenho Gracioso da Serra deveria ter sido preservado em sua estrutura original e se transformado ou ter sido aproveitado de maneira racional como um centro de história e cultura, embora a idéia da praça não fosse abolida. Como foi para o senhor presenciar a destruição de um patrimônio histórico-cultural de uma época?

Gilvan Guedes: Foi muito triste aquilo. Foi uma perca muito grande para o município. Foi no tempo da administração de Laete. Como é que um governante chega a destruir um patrimônio daqueles? Até poderia ser feitas áreas de praça nas áreas livres ao redor do engenho, lanchonetes e tal, mas sem destruir tudo. Usasse os barracões para a venda de artesanato e cultura.

Cuca Livre: Em sucessivas administrações municipais presenciamos a descaracterização da praça Pedro Pereira Guedes que inicialmente chamava-se praça Governador Moura Cavalcanti. Como o senhor encara essas atitudes para com esse patrimônio público do povo vicentino?

Gilvan Guedes: Isso é um absurdo! Porque ali não deveria nem ter bares, poluição sonora nem o lixo que a gente ver. Não podia ter aquilo tudo, nem lanchonete móvel deveria ter ali dentro, nos arredores sim. Aquilo que fizeram para os moto taxistas foi outro absurdo. Os meninos trabalham e mereciam um lugar, mas ali não. Acho que nem os meninos gostaram muito daquilo, nem usam.

Cuca Livre: Uma visão muito própria da equipe do jornal é que já que o engenho não existe mais, os órgãos de cultura e educação do município deveriam propor ações mínimas aos poderes da administração local como por exemplo: preparar uma espécie de outdoor com fotografias e relatos sobre o antigo engenho para ser postado na praça como uma maneira de registro e conhecimento público do que foi aquele espaço. É já uma dica, o senhor concorda com essa idéia?

Gilvan Guedes: É uma ótima idéia! Tem aqueles azulejos que fazem e que resistem ao tempo e que podem ser feitos com as informações, poesias, fotos e que é uma coisa linda.

Não sei porque também não aproveitaram aquela várzea na entrada da cidade. Existe um projeto pronto que foi prometido também fazer com lagoa e área de caminhada e etc.

Cuca Livre: Na história política do município sabemos que as ideologias e as lutas públicas muitas vezes são suprimidas por rancores pessoais. A praça como sendo um dos pontos mais destacados da cidade, sofreu ao longo dessas rinhas sendo o alvo dessas disputas. Como o senhor ver esse bem público servir de “porta voz” desses embates inúteis? Até a administração recente de seu irmão (Pedro Augusto Pereira Guedes – Pedoca) não ter dado o devido valor e atenção àquele patrimônio?

Gilvan Guedes: Acho horrível! Eu não sei o que Pedoca fez, ele poderia ter feito mais coisa em prol da história e da memória do povo. Ele não deu muita importância também não. Deveriam dar mais atenção.

Cuca Livre: Como o senhor, profissional que tem no beneficiamento da banana o alvo maior na representação dos produtos da terra, vê o incentivo dessa via?

Gilvan Guedes: Eles não dão importância, deveria se dar, mas atenção, fazer parceria com órgãos. Antigamente aqui em São Vicente tinha uma cooperativa dos agricultores (Cooperativa Dr. Manoel Borba) e era muito bom, possuíamos até tratores, comprávamos adubos e sementes mais barato, além de instrumentos agrícolas, hoje não tem mais, parece que andamos para traz.

O SEBRAE no Rio Grande do Norte levou a gente para a FISPA em São Paulo para divulgar os produtos, foi produto para o Japão, para Itália e etc. Já demos vários cursos por aí, lá fora as pessoas dão muito valor. O Globo Rural veio aqui outro dia nos entrevistar. O que falta é buscar apoio.

Bate Bola

Cuca livre: O mundo?

Gilvan Guedes: É belo.

Cuca livre: as pessoas?

Gilvan Guedes: Indispensáveis.

Cuca livre: uma tristeza?

Gilvan Guedes: É muito ruim

Cuca livre: uma possibilidade?

Gilvan Guedes: Sempre ter esperança.

Cuca livre: um gesto?

Gilvan Guedes: Sempre ser nobre.

Cuca livre: uma palavra?

Gilvan Guedes: Amizade.

Cuca livre: uma frase?

Gilvan Guedes: Encantadora

Cuca livre: um sonho?

Gilvan Guedes: Belo

Liberducação

Vagina patrimonial e as vertigens do Papai Noel”

No ano de 2006 fiz um trabalho monográfico solicitado como exigência para conclusão do curso em Especialização em História do Nordeste pela Faculdade de Formação de Professores de Nazaré da Mata – FFPNM, intitulada São Vicente Férrer: um patrimônio histórico a ser resgatado. Inúmeras foram as dificuldades para a conclusão deste trabalho, como: a obtenção de depoimentos das pessoas mais idosas da cidade, fotografias e fontes que me ajudassem a explicar melhor a importância em se preservar as construções e a memória das pessoas que tornaram possível a existência da cidade de São Vicente Férrer.

Após a apresentação do trabalho acima citado, a Professora e Drª Maria do Carmo e o Professor Luís Severino ambos professores da FFPNM me elogiaram pelo trabalho realizado e ousadia não apenas, por escolher um tema pouco explorado, com fontes limitadas, mas também por minha falta de preparação em relação ao campo patrimonial, visto que no período em que freqüentava a graduação não havia dentro de sua grade curricular uma disciplina sobre patrimônio.

em São Vicente Férrer os comentários sobre o trabalho que eu havia realizado não duraram mais que uma semana. Salvo algumas alunas do IV Normal Médio do ano passado Ana Márcia Leitão da Silva, Erilene de Souza Araújo e Renata da Silva as quais fizeram um trabalho com a mesma temática. O trabalho delas intitulado São Vicente, Nossa história... Nossa gente foi bastante comentado pelos professores no Normal Médio, mas, também em pouco tempo foi esquecido pela atratividade manifestada pelos DITOS NOVOS TCC - Trabalho de Conclusão de Curso.

Este ano estou participando na orientação de um TCC com muita alegria porque a temática do trabalho das alunas Ana Lígia dos Santos e Alexandra da Cunha Cavalcanti do IV Normal Médio é bastante semelhante aos das alunas-mestras do ano passado. O trabalho História e memória da Chã do Esquecido é muito mais que um trabalho, é também um grande desafio, pela ausência de fontes escritas e fotografias que remetam aos primeiros anos do povoamento da região. Acredito que esse trabalho sortirá um efeito positivo em pouco tempo entre os mais jovens, no que se refere ao conhecimento e apreciação da memória de seus antepassados. Não se entenda que os moradores da Chã do Esquecido sejam mais conscientes quanto a essas questões pertinentes aos patrimônios de sua localidade, porém, mais cuidadosos quanto à preservação das raízes que remetem a existência do grupo.

Todavia, tal reação é mais comum entre os moradores idosos. Ficando a cabo desses e da escola local a transferência da memória que estimula o sentimento de pertença, compreensão da existência de datas comemorativas vivenciadas no local, casarios antigos, praças, ruas, hospitais, etc. Sem essa contagem da história dos antepassados e das origens do lugar onde se vive, surge no âmago dos habitantes locais a frieza aos bens patrimoniais de qualquer espécie. Não se ver sentido em manter-se existente algo que remeta ao passado, ao velho, ao regresso.

A cidade de São Vicente Férrer – PE, também possui uma história, construída ao longo dos tempos e que se manteve viva através da memória dos mais velhos da cidade. Os objetos mais usados em períodos específicos do tempo analisado, os relatos das pessoas desde a mais alta camada social ao mais simples morador da localidade, os casarios, as igrejas, os engenhos, etc., são sem dúvida quando não comprovações, são indícios de existência dos habitantes que neste município residiram.

Todavia, pouca valia tem se dado aos bens patrimoniais e a própria memória dos primeiros moradores. Essa falta de preocupação pode ser perfeitamente visualizada em alguns atos depredatórios empreendidos por moradores de classes diversas, ausência de investimentos regulares com o intuito de preservação e manutenção das edificações mais antigas que remontam a história da cidade.

Esse último item concede significado ao objeto observado, permitindo ao observador liberar o campo de abstração pessoal para as reflexões, pertinentes à moda, às artes, à economia, à política, à religião e educação, tornando-se mais um conhecedor da história local, assim, as praças, igrejas e monumentos de natureza múltipla passam a ter significado, diminuindo as chances de novos ataques depredatórios aos bens patrimoniais locais.

No entanto, os casos de agressão ao patrimônio tem se manifestado com maior intensidade não por pessoas pertencentes a camadas inferiores ou de educação deficitária, mas, pelos próprios representantes do poder político de nossa cidade, e isso abre uma discussão em relação a preservação patrimonial.

Seria de fato a ausência de conhecimentos sobre as origens dos antepassados que estimulam a destruição de seus próprios bens? Existiria uma intenção por parte do agressor ao patrimônio público em preservar-se apenas o passado dos seus familiares fazendo uso do poder conferido de forma democrática e dita racional pelos seus súditos? Estaríamos vivenciando o tempo da ignorância da sabedoria, onde o que se aprende perde posição/espaço diante daquilo que se pode ganhar?

Durante muito tempo a educação escolar foi estigmatizada como a responsável por todos os desajustes da sociedade, contudo foram-lhe sempre negadas as condições mínimas de funcionamento. Acredito que a escola possui um papel muito importante na transmissão e na construção da sensibilização a preservação da história de um povo específico, tendo em vista que a execução dessa prática estimula a autonomia, e assim o individuo reúne mais elementos que podem culminar no reconhecimento próprio na comunidade em que está inserido, busca a integração com outros grupos da sociedade, objetivando a consolidação de uma coletiva e comum do patrimônio.

Porém, se faz necessário o investimento em educação, contudo, em uma educação voltada ao reconhecimento do patrimônio cultural de uma determinada comunidade, proporcionando a construção de uma série de significados para o educando, promovendo entendimento particular do indivíduo a cerca do meio em que vive (e mesmo do mundo), de caráter concreto e ordenador de seu pensamento e comportamento.

Nesta perspectiva, a educação patrimonial tem papel fundamental na preservação dos monumentos, na construção da cidadania e na perpetuação da memória. Portanto, cabe aos educadores e órgãos que financiam a educação, participar da preparação dos seus educadores, fornecendo-lhes os subsídios necessários, como também, o custeio de oficinas, palestras e seminários, na intenção de absorverem métodos que atualizem suas práticas, como também, o contato das gerações futuras com o patrimônio presente.

Escrito por: Daniel Ferreira

Professor de História e especialista em História do Nordeste

E-mail: prof_daniel.al@hotmail.com


Vista de Um Ponto

CUIDANDO DO AMBIENTE, GARANTINDO O FUTURO


Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e a coletividade o dever de defendê-lo para as presentes e futuras gerações (Art.225-Constituição Federal 1988, p:124).

Para que tenhamos mais compreensão do que venha a ser meio ambiente e possivelmente conhecer a importância desse meio para nossa sobrevivência é preciso que cada cidadão possa sensibilizar-se da preocupação mundial que nos afetará em tão larga escala e em poucos anos, mas, vale salientar que já estamos sentindo os reflexos da situação ambiental, devido à negligência humana em poluir e degradar o meio em que vive em busca do lucro, assim sendo coloca em risco toda biodiversidade existente. Nossos filhos e netos é que sofrerão as conseqüências futuras como: falta d`água (recurso finito), doenças provenientes da ausência d`água (sérios problemas renais), fome, secas, anomalias etc.

Existem muitas definições para o significado do termo meio ambiente, mas que tenhamos uma visão específica, temos o seguinte: Meio Ambiente: é o conjunto de condições naturais e de influências. a) Natural: é constituído do solo, fauna, flora, água, ar, etc. b) Artificial: composto pelas alterações do meio natural se compõe dos espaços funcionais construídos pelo homem, tais como, edifícios, ruas, praças, hidrelétricas, etc. c) Cultural: é constituído pelos patrimônios histórico, arqueológico, artístico, turístico. Mas, também fazemos parte de um ecossistema e que dentro dele existe uma biodiversidade e que precisam está em equilíbrio para manter a sobrevivência dos seres vivos em geral. E como definição pode chegar a seguinte conclusão:

Ecossistema: é o conjunto dos relacionamentos que a fauna, flora, microorganismos e o ambiente, composto pelos elementos solo, água e atmosfera mantém entre si. Todos os elementos que compõe o ecossistema se relacionam com equilíbrio e harmonia e estão ligados entre si. A alteração de um único elemento causa as modificações em todo o sistema podendo ocorrer a perda do equilíbrio existente. Se por exemplo, uma grande área com mata nativa de determinada região for substituída pelo cultivo de um único tipo de vegetal, pode-se comprometer a cadeia alimentar dos animais que se alimentam de plantas, bem como daqueles que se alimentam destes animais.

Precisa-se conhecer a importância do respeito ao meio ambiente e das leis existentes no país de proteção para garantir nosso bem estar e a boa qualidade de vida, com isso alguns países já tentam buscar recursos e alternativas para minimizar as conseqüências que estarão por vir. Em Recife, houve o 17° Encontro Nacional da ANAMMA (Associação Nacional de Órgãos Municipais de Meio Ambiente) onde a proposta foi cobrar dos gestores ambientais capacitados em 2006, mais compromisso nos municípios, pois cabe a nós conhecer e cobrar o respeito e a preservação da nossa fauna e flora. Os temas discutidos no 17° Encontro Nacional da ANAMMA foram : Mudanças climáticas e aquecimento global-responsabilidades dos municípios; Áreas urbanas de preservação permanente; Mecanismos de financiamento da gestão ambiental municipal; Competências e atribuições municipais a partir da regulamentação do Artigo 23 da Constituição Federal; Educação Ambiental participativa; Resíduos Sólidos Urbanos; Áreas Verdes e Arborização Urbana, Recursos Hídricos, Política e Gestão, entre outros assuntos.

O Ministro interino do Meio Ambiente presente na abertura do 17° Encontro Nacional da ANAMMA, na qual para esta, houve
frevo no palco, com a apresentação da Escola de Frevo do Recife, e muita disposição para três dias de palestras recheadas com muita informação. Foi nesse clima que os participantes da mesa de abertura do 17° Encontro Nacional de Órgãos Municipais de Meio Ambiente (ANAMMA) encerraram a solenidade de abertura do evento, minutos atrás, coordenada pelo vice-presidente da ANAMMA, Mauro Buarque. O discurso de encerramento do ministro interino de Meio Ambiente, João Paulo Capobianco deu ênfase ao 'Crescimento com responsabilidade socioambiental', iniciou a fala, lembrando que o Brasil está vivendo um momento especial. "Abriu-se uma janela de oportunidades que há muito tempo não víamos. O país está crescendo economicamente com inclusão social e melhoria na qualidade de vida da população", disse. Capobianco ressaltou, focando atenção nos órgãos municipais, entretanto, que há, na nação, uma grande lacuna na sua capacidade de planejamento e gestão. "Deveríamos ter uma cultura de planejamento que há muito foi abandonada, o que aumentou e muito a nossa dificuldade". Ainda fazendo menção à cultura, continuou dizendo que os municípios não podem ser lembrados apenas quando há a necessidade de uma licença ambiental ou quando há um problema gravíssimo nessa área. "Eles têm que participar do processo de decisão. Hoje, gasta-se pouco da nossa capacidade pró-ativa. Temos que sair do 'não posso'. Isso exige mudança de postura", frisou.

CAPACITAÇÃO-O ministro interino de Meio Ambiente concluiu seu discurso, informando o balanço antecipado deste ano do Programa Nacional de Capacitação de Gestores Ambientais. Segundo Capobianco, até dezembro próximo o Programa terá sido implementado em 1.626 municípios brasileiros, o que corresponde a 34,6% dos 5.502 municípios que existem no mapa do país. Isso significa 6.803 gestores capacitados.

Capobianco foi incisivo ao dizer que capacitar os municípios é fundamental para que o Brasil possa crescer com responsabilidade socioambiental. E que o caminho contrário significa "reducionismo". Ilustrou a urgência com dados do Instituto Brasileiro de Geografia de Estatística de 2002 _ "ainda atuais"_sobre o perfil da gestão ambiental dos municípios. A pesquisa aponta, 20 anos depois da instituição da Política Nacional do Meio Ambiente e dez anos após a Resolução do CONAMA ( Conselho Municipal de Meio Ambiente), que 77,8% dos municípios brasileiros não possuem conselhos municipais ativos. O estudo mostra também que 93,4% não têm fundo municipal para o meio ambiente, e 86,4% desconhecem legislação ambiental próprias. Outro dado da pesquisa, ainda mais grave, é que apenas 2,2% dessas cidades possuem os três instrumentos de gestão ambiental: conselho municipal, fundo municipal para o meio ambiente e legislação ambiental municipal.

Estive no congresso como pesquisadora pela UFRPE- Universidade Federal Rural de Pernambuco - pelo curso de Extensão Rural e Desenvolvimento Local (mestrado) e pude observar que ainda temos muito por fazer e sendo conhecedora da responsabilidade do gestor ambiental por ter sido capacitada para tal e atuar no município de São Vicente Férrer- PE, vejo que a única forma de garantirmos que o planeta continue oferecendo para as gerações futuras o que hoje oferece para todos nós, é com o trabalho de empresas socialmente responsáveis, aliado às pessoas conscientes da importância do seu comportamento para a preservação ambiental e do seu papel na sociedade.

LURDINALVA PEDROSA MONTEIRO

ESPECIALISTA EM METODOLOGIA DO ENSINO DE BIOLOGIA e Gestora ambiental representando a sociedade civil de São Vicente Férrer

Nalva_terra@hotmail.com

A Luta de Cada Um!


Dandara: A Face Feminina de Palmares



“Eu quero uma história nova
Não este conto de fadas brancas e ordinárias
Donas de nossas façanhas
Eu quero um direito antigo
Engavetado em discursos
Contidos, paliativos
(Cheios de maçãs e pêras)
Bordados de culpas e crimes
Eu quero de volta, de pronto
As chaves dessa gaveta
Por arquivos trancafiados
Onde jazem meus heróis
Uma “nova” história velha
Cheia de fadas beiçudas
Fazendo auê, algazarras
Com argolas nas orelhas,
De cabelos pixaim
Engasgando príncipes brancos
Com talos de abacaxi”
.

Durante os quase quatro séculos de escravidão negra no Brasil, a luta do povo negro e sua resistência sofreu tentativas sucessivas de serem apagadas das páginas da história oficial das elites. Renomados intelectuais como o Pernambucano Gilberto Freyre, em sua famosa obra “Casa Grande & Senzala” que ressalta a importância da miscigenação no Brasil, porém criou mitos como a “democracia racial”, ou seja, a errônea idéia de que no Brasil não existe racismo, quando sabemos que o negro até hoje é vítima de preconceitos que permeiam diversos níveis e que não os fazem participar de forma justa da inclusão social. Observamos resistências até hoje de muitos brasileiros se identificarem como afros-descendentes, independente da cor da pele.

O negro, durante a diáspora que sofreu para diversos cantos do mundo para atender a sede de lucro dos proprietários, conservou seus traços identitários que permanecem até a atualidade e atravessaram os séculos, além de lutarem bravamente para saírem da condição de escravos.

A forma mais conhecida dessa resistência eram os quilombos que representavam a consolidação material da resistência dos negros à escravidão. Eram aldeias ou comunidades onde moravam muitos negros foragidos e serviam de reduto para receberem mais escravos que fugiam das fazendas a partir dos ataques que os quilombolas realizavam para libertar seus irmãos de cor.

No Brasil, existiram quilombos em todas as regiões. O mais conhecido foi Palmares que abrangeu parte de diversos estados do Nordeste, durou mais de 100 anos e teve mais de 20 mil habitantes, por isso não foi fácil vencê-lo, levando a elite escravocrata até a negociar com seus líderes, (o pacto de paz com Ganga-Zumba, rei de Palmares) o qual Zumbi seu líder Máximo foi contrário.

Todos nós, de alguma forma já ouvimos falar de Zumbi, embora sua memória por muito tempo esteve ocultada, mas, muitos personagens negros precisam ser lembrados como sua esposa guerreira Dandara.

Dandara além de esposa de Zumbi dos Palmares com quem teve três filhos foi uma das lideranças femininas negras que lutou contra o sistema escravocrata do século XVII. Não há registros do local do seu nascimento, tampouco da sua ascendência africana. Relatos nos levam a crer que nasceu no Brasil e estabeleceu-se no Quilombo dos Palmares ainda menina. Não era muito apta só aos serviços domésticos da comunidade, plantava como todos, trabalhava na produção da farinha de mandioca, aprendeu a caçar, mas, também aprendeu a lutar capoeira, empunhar armas e quando adulta liderar as falanges femininas do exército negro palmarino. Dandara foi uma das provas reais da inverdade do conceito de que a mulher é um sexo frágil.

Quando os primeiros negros se rebelaram contra a escravidão no Brasil e formaram o Quilombo de Palmares, na Serra da Barriga, em Alagoas, Dandara estava com Ganga-Zumba. Participou de todos os ataques e defesas da resistência palmarina. Na condição de líder, Dandara chegou a questionar os termos do tratado de paz assinado por Ganga-Zumba e pelo governo português. Posicionando-se contra o tratado, opôs-se a Ganga-Zumba, ao lado de Zumbi.

Sempre perseguindo o ideal de liberdade, Dandara não tinha limites quando estavam em jogo a segurança de Palmares e a eliminação do inimigo. Chegando perto da cidade do Recife, depois de vencer varias batalhas, Dandara pediu a Zumbi que tomasse a cidade, isso é uma prova da valentia e mesmo um certo radicalismo dessa mulher. Sua posição era compartilhada por outras lideranças palmarinas. Para Dandara, a Paz em troca de terras no Vale do Cacau que era a proposta do governo português, ela preferiu a guerra constante, pois via nesse acordo a destruição da República de Palmares e a volta à escravidão. Dandara foi morta, com outros quilombolas, em 06 de fevereiro de 1694, após a destruição da Cerca Real dos Macacos, que fazia parte do Quilombo de Palmares.

Não sabemos como era seu rosto, nem como era exatamente, podemos compará-la a duas deusas do panteão africano, uma Obá ou Iansã, uma leoa defensora da liberdade.

Sua imagem vive e pode ser vista em cada pessoa que se identifica com suas origens, luta por liberdade, acredita em seus sonhos e “faz da insegurança sua força e do medo de morrer seu alimento, por isso me parece imagem justa para quem vive e canta no mal tempo”

Escrito por: Kleber Henrique

Professor de História.

E-mail: prof_kleber_henrique@hotmail.com

Brasil Mostra Tua Cara

A Atenas Pernambucana?


“As coisas mudam de significado ao longo da história, mas nem por isso perdem seu valor”.

Há quinze dias atrás, conversando com um conterrâneo nosso, eu o questionava sobre seu amor à nossa cidade, a presença da mesma em suas poesias, crônicas e contos. Insisti na questão, e numa resposta curta ele me surpreendeu: - “São Vicente Férrer sempre me toca, São Vicente pra mim é uma Atenas!”.

Achei a colocação interessante e bonita, comparar um rincão de Pernambuco à grandiosa cidade-estado grega da Antiguidade, berço da democracia, da república, dos filósofos e da arte ocidental.

Uma semana depois, todos os vicentinos são surpreendidos por uma atitude esdrúxula do Poder Executivo Municipal: a praça principal da cidade, mais uma vez em menos de um ano é amputada em sua estrutura original. Não fiquei pasmo porque há muito essas arbitrariedades não me causam nada mais do que um misto de sátira e pena, tipo “Seria cômico se não fosse trágico” atitudes como essas são frutos de duas interpretações possíveis: ou da ignorância do que representa um patrimônio para a memória de um povo ou pura demonstração de mandonismo.

No exato momento em que vi a praça com uma parcela destruída, foi imediata a lembrança da fala do meu amigo: - “São Vicente para mim é uma Atenas”. Infelizmente tive que discordar e vou dizer porque: a praça de Atenas chamava-se Ágora, era o espaço público mais visado e valorizado da cidade-estado grega. Era na Ágora que as pessoas de uma mesma comunidade se relacionavam. Elas saiam de dentro de seus óikos (casas) e iam se reunir nesse grande centro de circulação de produtos e idéias. A praça pública para os gregos se caracterizava como um espaço construído, permanente e fixo, que, tinha também um sentido político – era o lugar onde se deliberavam assuntos importantes da vida dos cidadãos e da sociedade como um todo.

É preciso reconhecer que infelizmente estamos bem longe no tempo e nas atitudes com relação aos antigos gregos de Atenas, nossa praça nunca serviu como lugar de discussão política coletiva entre governo e povo, aliás, eu desconheço que haja esse espaço aqui. A praça nunca foi usada nem para consultar se o povo, seu verdadeiro dono, era a favor de sua descaracterização. Embora é nosso espaço de diversão, de conversas, de partilha de idéias; é nela que está registrada a memória e lembranças de muitos.

Na minha opinião já foi um grande erro a destruição da estrutura original do antigo Engenho Gracioso da Serra, para a construção da praça. O Engenho poderia ter sido poupado e servir hoje como um espaço de conhecimento e um reduto cultural e artístico. Na época, o discurso era o mesmo que destruiu muito patrimônio no Brasil e que por incrível que pareça ainda hoje é utilizado. A idéia de que as “velharias” devem ceder lugar à “modernidade”, ao “avanço” e ao “progresso”, mesmo que isso custe o registro da memória de um povo.

Pretendo ser entendido e não confundido como sectário, em criticar esse ato. Eu acredito que em um município, os três poderes devem caminhar independentes, fico surpreso com a falta de ação do poder Legislativo Municipal. Onde nossos vereadores estavam com a cabeça quando aprovaram esse projeto? Se houve algum deles que não votou à favor ou foi voto vencido, por que não usou-se de outros mecanismos que impedissem esse ato? A Câmara não pode nem deve ser subserviente. Os mandatos legislativos não caíram do céu, foram delegados pelo povo, e o povo no geral está sendo prejudicado no tocante a um bem que é de todos.

Não posso deixar de questionar a Secretaria de Educação e Cultura: acredito que todos os componentes da mesma sabem o que vem a ser “educação patrimonial”, e isso é uma meta que deve ser conseguida a partir e principalmente de atitudes concretas, não é só responsabilidade dos professores sensibilizar seus alunos para que conscientes se tornem cidadãos os quais zelam e prezam pelos bens culturais deixados pela sociedade do passado.

Nesta gestão, houve duas obras que merecem ser reconhecidas em seu valor, a restauração do Casarão da Antiga Fazenda Recreio e seu aproveitamento racional, como também o Centro de Pesquisa que foi uma medida urgente de reparo ao baixo IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), na qual a nossa cidade foi estampada nos Jornais do Estado. No entanto, esse atentado ao patrimônio público municipal é um absurdo. O futuro proprietário do lote é sem dúvida um cidadão de conduta ilibada e um trabalhador honesto, merece um lugar para montar o seu negócio, mas sou contra esse lote ser retaliado de um espaço que é público (A Praça) para ser doado a quem quer que seja. A Prefeitura deveria criar um espaço, para comércios nos arredores da praça e não em suas vias.

Isso fere uma lei, a Lei de Ação Popular (Lei nº 4.717, de 29. 06. 65) que define patrimônio público, em seu art. 1º, como o conjunto de bens e direitos de valor econômico, artístico, estético, histórico ou turístico, pertencentes aos entes da administração direta e indireta. Segunda a definição da lei, o que caracteriza o patrimônio público é o fato de pertencer ele a um ente público – a União, um Estado, um Município, uma autarquia ou uma empresa pública, por exemplo. Patrimônio público não tem um titular individualizado ou individualizável seja ele ente da administração, ou ente privado – sendo, antes, de todos, de toda a sociedade. Sendo de todos, de todo o povo – a todos cabe por ele zelar, preservando-o e defendendo-o. Onde o patrimônio estiver vinculado a um determinado ente, a ele cabe, em primeiro lugar, adotar todas as providências necessárias à sua preservação e conservação.

Como povo que sou, sinto-me na obrigação, ou melhor, no dever de não concordar e me expressar com relação a esses fatos lamentáveis. Voltando a glosar Fernando Pessoa, eu só posso admitir que o Estado está acima do cidadão se, antes, considerar que o homem está acima do Estado.

Espero firmemente que um dia São Vicente seja até mais importante e contribua de melhor forma com a humanidade do que a antiga Atenas, mas sem que para isso tenha que se transformar em ruínas.

Escrito por: Kleber Henrique

Professor de História.

E-mail: prof_kleber_henrique@hotmail.com

Vida e Arte: Arte do Povo

Para destruir uma cultura não é preciso queimar os seus livros


Do ponto de vista antropológico a cultura pode sofrer mudanças, perder os seus traços dando lugar a outros em velocidades variadas nas diferentes sociedades, por conta de três instrumentos que estimulam a transformação cultural: a INVENÇÃO (incrementação de diferentes concepções), a DIFUSÃO (conceitos de outras culturas) e a DESCOBERTA (tipo de cultura surgido pelo conhecimento de algo ainda não conhecido pelo grupo). Mas também, defende a idéia das manifestações contrárias por parte dos participantes de cada grupo cultural a tais mudanças. As mudanças não são aceitas pacificamente por nenhum grupo cultural, uma vez que, qualquer alteração por mínima que seja contribui no desencadeamento de efeitos que podem mudar a vida cultural de um povo.

Transformações como no jeito de se fabricar um determinado objeto pode interferir na escolha dos indivíduos para o governo ou até mesmo nos segmentos de leis designadas pelas sociedades.

Certamente as transformações culturais sejam inevitáveis por conta das necessidades humanas e, tais necessidades atreladas ao avanço das descobertas resultam na reciclagem do que já havia sido produzido. Porém, não se pode esquecer que apenas o grupo pode decidir o que deve ser transformado ou não.

O representante do grupo/povo é na verdade um sintetizador de forças coletivas, um instrumento representativo-democrático, um simples administrador dos bens que são em legítima natureza do povo.

O povo por sua vez, precisa dos seus bens patrimoniais para conhecer a sua história, a história local que desfecha no instante de sua contemplação. Outras cidades também precisam saber de nossa existência, da nossa história e memória. Mas também, é necessário que o povo tome conhecimento da essência que se esconde por traz de cada patrimônio. Conhecendo o dia-a-dia do povo, como eles se vestiam, brincavam, namoravam, construía suas casas, etc. para dessa forma despertar interesse e sentido de preservação sobre a memória e os patrimônios.

O povo não pode amar o que não conhece. Podem até achar bonitinho, engraçadinho, interessantezinho...

O fato é que não se pode mais esperar que outras manifestações dessa natureza se realizem aos nossos poucos e quase inexistentes patrimônios.

A Lei Orgânica Municipal da Cidade de São Vicente Férrer – PE, em sua seção VII que tem por título: Da Administração Dos Bens Patrimoniais, também não assegura a existência e um estado de conservação satisfatório dos patrimônios imóveis do município de São Vicente Férrer, o que deixa vulnerável tais bens ao descaso e as mutações intencionadas por qualquer gestor municipal.

Construída em 1912, tinha como dono o Sr. Pedro Pereira Guedes que chegou a ser prefeito do município de 1968 a 1973. O Gracioso da Serra como era chamado durante o seu funcionamento foi um grande empregador no município, este, produzia não apenas açúcar, mas também, fumo. O Sr. Pedro Pereira Guedes era um indivíduo bastante receptivo a modernidade, inclusive empregou uma família de judeus, fugidos da Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial. “Esses judeus tinham um projeto bastante ousado de tentar trazer energia elétrica para a cidade, embora o projeto não tenha sido efetivado, devido alguns impasses políticos”, como afirmou a Sr. Ilka Valéria Tavares de Andrade em entrevista (junho de 06)

O Engenho Gracioso da Serra deixou de funcionar em meados da década de 1970, logo após a morte do seu proprietário, e suas antigas instalações passaram a servir de depósito para produtos agrícolas.

Já em 1978, o engenho foi demolido para a construção da praça principal da cidade inicialmente denominada Praça Governador Moura Cavalcanti, que em seguida passou a ser chamada de Praça Pedro Pereira Guedes, em homenagem ao antigo proprietário. Da estrutura original foi deixado apenas o bueiro, localizado no centro da praça como uma espécie de obelisco.

Em 2006 a estrutura da praça foi parcialmente modificada para construção de um abrigo de moto-taxista, que mais serve para se jogar dominó do que realmente abrigar os motoqueiros. Tendo em vista que o número de motos em nossa cidade tem aumentado em uma velocidade assustadora (ausência de alternativas empregatícias supõe-se).

No final do mês de julho de 2007, outro ato crime patrimonial foi cometido contra a história vicentina, ao destruir parcialmente a praça para a construção de uma lanchonete. Cometeu-se algo irreparável. Foi destruída não apenas parte da memória vicentina, como também um testemunho extremamente importante do ponto de vista histórico que serve de elo entre nós e os nossos antepassados. Maria Célia T. Moura Santos do departamento de história da UFBA dizia em seu livro museu, escola e comunidade: uma integração necessária (1987: 85-90) que: todas as vezes que se destrói ou se transforma qualquer coisa que tenha valor histórico ou cultural, como monumentos, técnicas desenvolvidas pelo homem para a sua sobrevivência , ou objetos de uso e, mesmo, suas crenças e suas manifestações artísticas, sem que se justifique ou sem que o povo possa se manifestar, é sempre uma agressão à sua memória histórica. A evolução é necessária, mas não se pode, em nome do progresso, destruir indiscriminadamente o patrimônio cultural de um povo. Nesses cinqüenta anos, muitos outros monumentos históricos foram e continuam sendo destruídos ou abandonados, não só neste estado como em todo o país. “Só a comunidade como um todo é a melhor guardiã dos seus bens culturais”.

Pode-se perceber na idéia de SANTOS que a preservação da memória e dos bens imóveis contribui para a construção de significados/identidade de cada integrante da comunidade em que vive.

A partir dessas citações e explanações reflito... O que será que se passa na cabeça desses parlamentares? Será que o interesse deles por nós está intrínseco ao voto que os proporciona carros, casas confortáveis, salários e status quo? Será que serão lembrados pelas gerações mais esclarecidas?

Por certo serão motivos de piadas de péssimo gosto, por se posicionarem como indivíduos que não fizeram o dever prometido por eles mesmos instantes antes de sua escolha como representantes das vontades do povo.

O tempo, o SENHOR da RAZÃO se encarregará de apagar da memória vicentina os representantes que não costumam fazer suas “tarefinhas de casa” (Promessas em épocas de eleições). Acredito que seus netos não os o honrarão, pelo contrário farão questão de esquecê-los.

A Praça Pedro Pereira Guedes não é apenas um amontoado de pedras que testificam o descaso como dizem muitos de nossos munícipes, é também uma história, uma cultura que ganha beleza quando integrada a história oral de nossos antepassados.

Faço um apelo aos nossos representantes políticos da câmara municipal local, que olhem com carinho pra sua terra, sua parentela, para os bens que a fazem ser genitora. Todos os bens que se encontram sob esse solo são frutos dele, partes integrantes de um todo que resulta em IDENTIDADE, DESEJO de PRESERVAR (apenas para quem a ama), SAUDADE (para os que por motivos de sobrevivência tiveram que sair daqui para outras localidades), REVOLTA (os que se beneficiam dos seus suprimentos das mais variadas formas), DESTRUIÇÃO (possuído pelo vazio impreenchível); por esses motivos tão fortes e peculiares de cada grupo que as manifestações culturais precisam ser protegidas por leis municipais mais eficazes.

A direção Cuca Livre oferece sua ajuda, no que se refere aos aportes como historiadores e especialista em patrimônios, para pensarmos nas possibilidades de um novo posicionamento diante dos nossos patrimônios locais.

Escrito por: Daniel Ferreira

Professor de História e especialista em História do Nordeste

E-mail: prof_daniel.al@hotmail.com