Sejam Bem vindos

Caros amigos sejam bem vindos ao Blog Cuca Livre Um Jeito Diferente de Pensar. Aqui você pode ler, refletir, através do senso crítico opinar e também expor suas idéias.

A Direção Cuca Livre agradece sua visita ao blog!

quinta-feira, 20 de março de 2008

Apresentação

“O que mais preocupa não é

nem o grito dos violentos,

dos corruptos, dos desonestos,

dos sem caráter, dos sem ética.

O que mais preocupa é o silencio dos bons”.

Martin Luther King

Essas palavras de KING expressam a nossa preocupação diante do rumo dos acontecimentos que nos cercam. Grande parte desses acontecimentos se concretiza graças a omissão de muitas pessoas, em casos de uma consciência admirável. Todavia, por que não falam quando necessário? Será que estão esperando que as pedras façam o que eles não têm coragem de fazer? O fato é que estamos em tempos onde o silêncio é necessário apenas para organizar as idéias, as pessoas; para que em momentos necessários se manifeste o que se pensou em silêncio.

Estamos em nosso ano II e nossa primeira edição muitíssimo satisfatória e altamente acolhedora para com nossos antigos leitores como também para os nossos novos assinantes.

Tiramos umas férias longas além do prazo e não foi preguiça, pois o trabalho só é enfadonho quando não se faz com prazer. As férias se alongaram por alguns problemas internos e mesmo a falta de tempo por compromissos pessoais da equipe, além de algumas dificuldades financeiras. O Cuca é pobre, mas é livre!

O grande, senão o maior impulso pra nós foi a cobrança do leitor, eram as mensagens de otimismo de muitos que superavam a mesquinha e a pobreza de alguns que festejaram nosso aparente “último suspiro”.

Mandamos um abraço apertado para os covardes anônimos que encheram nossos correios eletrônicos da internet com deboches e piadas precipitadas festejando o fim do jornal. Queremos dizer a Vocês: - Vocês são importantes também. A imbecilidade contribui e aquece o debate!

Sim! Não poderíamos esquecer de agradecer a um cara que por uns instantes fez o camarada Daniel pensar que era médium espírita por passar horas conversando com ele pela internet, censurando a gente e ainda se dizendo ser o grande Paulo Freyre. Esse não nenhum pouquinho pretensioso! (risos)

Em contrapartida, uma pessoa interessante nos mandou um texto anônimo por e-mail dizendo simpatizar com nossa ação (o texto segue no verso), e que só não fazia parte da equipe por não poder devido a vínculos que a mesma entendemos muito bem. Todavia, em se tratando da “terra do chupa-cabras” que há muito só tem corrido de costas, tudo aqui é possível, até impedir pessoas e cabeças pensantes a exporem suas idéias. Mesmo sabendo que isso fere os direitos humanos e a própria constituição. Então camarada, fazemos um convite a você: Se você quiser, não precisa de nos ver pessoalmente, se quiser, melhor ainda, mas querendo, escreva-nos mensalmente suas idéias e lhe daremos uma coluna só pra você. Em quanto lhe calam, a gente lhe dar voz.

Agradecemos aos leitores todos e só temos a dizer que: ESTAMOS DE VOLTA!!!

Nossa Direção: Carlos Jefté, Daniel Ferreira, Josias Albino e Kleber Henrique.

Pensar é causar!

Um Desenho

Pensar é Causar!

ESPERMATOZÓIDE NA CUECA NÃO ENGRAVIDA


Temos acompanhado pelos jornais, revistas, tv, internet, etc., as notícias sobre o rumo da transposição do rio São Francisco, mas, até o presente momento ninguém sabe de qual lodo deve ficar. Você caro leitor é a favor ou contra a transposição do rio São Francisco? Esperamos que essas poucas palavras possam gerar um debate a cerca do tema proposto, pesquisas por parte do leitor para melhores esclarecimentos e um posicionamento mais compromissado com as questões que se referem a utilização do dinheiro público.

O rio São Francisco nasce no município de são roque de Minas Gerais, no Parque Nacional da Serra da Canastra, e se origina em três olhos d’água. Em sua nascente foi colocada uma estatua de São Francisco batizando assim o rio com o mesmo nome do santo católico.

É conhecido como o rio da integração nacional pelo fato da sua gigantesca importância para todas as regiões por onde passa. Suas águas correm para o norte e pelo semi-árido, regiões que sofrem pela ausência de água, e desde muito tempo já se vinha discutindo sobre as possibilidades desse beneficiar os lugares que carecem de recursos hídricos.

Desde os primeiros questionamentos a cerca da dita transposição do rio São Francisco que os embates tem se tornado mais consistente e despertando o interesse de vários setores da sociedade brasileira pelo assunto.

De um lado ambientalistas que se dividem em suas opiniões. Parte destes acredita que tal atitude pode resultar na secagem definitiva do rio. Outros acreditam que pode causar prejuízos irreversíveis ao ecossistema, como o fim dos manguezais e dos caranguejos, por conta da diminuição das águas, como também, problemas na reprodução dos peixes. O que afetaria as populações ribeirinhas que vivem da pesca. Dessa forma, a transposição do rio São Francisco estaria dando margem pra uma série de outros problemas de caráter social.

Mas, o rio São Francisco precisa tomar umas boas vitaminas, ele esta anêmico. E um anêmico não poder doar sangue. É necessário cuidar das suas nascentes, da sua fonte de existência para que o mesmo continue vivo e apto para doar água para outras regiões.

A igreja católica manteve-se contrária a transposição do rio desde o início. Mas, como pode a igreja católica ficar contra a uma ação que beneficiaria mais de 12 milhões de irmãozinhos? Certamente isso ainda sejam resquícios de um legado pernicioso em alguns de seus representantes que ainda insistem em interferir nos assuntos do Estado.

Só para refrescar a memória vamos nos transportar para a Idade Média onde a igreja católica mandava e desmandava. Um tempo que segundo Leo Huberman em sua obra intitulada história da Riqueza do homem, a igreja era tremendamente rica. Calcula-se que possuía entre um terço e metade de toda terra – e, não obstante, recusava-se a pagar impostos ao governo nacional.

A Igreja Católica Romana defendia a monarquia porque a considerava a melhor forma de governo para fazer seus conchavos. No entanto, sempre deixavam escapar conversas de que o papa era superior nos negócios humanos, e isso, se perpetuou pela história da humanidade chegando até os dias atuais. Mesmo com a reforma protestante ou reforma burguesa e a expansão do islamismo que abalaram significativamente a estrutura clerical em termos de adeptos, sua economia e influência nas decisões políticas.

A idéia protestante de incrementar a democracia no governo favoreceu a quebra da hegemonia católica de mentalidade extremamente conservadora da hierarquia social, antidemocrática e monopolizadora dos conhecimentos.

Não estou querendo defender e muito menos incentivar às práticas protestantes, até porque estes também se manifestaram na reforma protestante com interesses particulares usando a religião como pano de fundo e o povo como bucha de canhão para consolidar os seus interesses obviamente econômicos.

Não seria a greve de fome do bispo Luiz Cappio, de Barra (BA), uma estratégia para verificar como anda o ibope da igreja católica nas decisões pertinentes ao estado? A igreja católica não estaria fomentando a miséria das regiões que deveriam ser beneficiadas pelas águas do “Velho Chico” na intenção de continuar preservando os fiéis segundo os interesses particulares, uma vez que, quanto menos esclarecido o povo for, melhor para aliená-los?

O bispo ficou sem comer por quase um mês inteiro, mas sempre bebia água e de boa qualidade. Será que não quer que o povo do semi-árido beba água?

No cenário político, os políticos se dividem quando o assunto é a transposição do rio São Francisco. A antiga ala discorda em gênero e grau com a transposição, apenas porque não foram eles que deram o ponta pé inicial para a realização das obras, ou porque estariam proporcionando condições de vida digna para os habitantes de seus “feudos”.

Estes, sendo beneficiados pelo rio não precisariam mais de caminhão pipa trazendo água com gosto de ferrugem e de cestas básicas acompanhadas de medicamentos que geralmente são obtidos com o dinheiro público, que são pouco fiscalizados por estas bandas. E tudo isso deve ser pago no dia da eleição, preservando os mesmos políticos que se posicionam contrário a transposição do rio São Francisco.

Para os que estão à frente das obras o prestígio e certa garantia de volta ao governo em um futuro não muito distante.

Acredito que apenas a água não fará de nossos irmãos do semi-árido um povo isento de explorações políticas, religiosas e econômicas. Por isso, se faz necessário outros tipos de transposição como na área educacional e econômica, de preferência da região sul e sudeste onde se encontram os melhores índices de aprovação escolar, exames nacional, etc., e desenvolvimento econômico.

No que se refere ao religioso que fez uma greve de fome manifestando sua posição contrária a transposição do rio, acredito que o mesmo realizou uma atitude democrática e que devem ser deixadas à sua liberdade as escolhas particulares. Contudo, frear as obras ou continuá-las, também pode ser compreendido como um exercício da democracia.

Viver em um estado democrático tem suas desvantagens, nem sempre conseguimos o que queremos. Todavia, as decisões devem ser sempre tomadas para melhoria da maioria, o que geralmente não acontece por conta de interesses de uma minoria.

Mas, os ambientalistas estão com a razão ou será que tudo isso não passa de uma febre, um modismo que em pouco tempo desaparecerá?

A igreja quer mostrar o quê com essa atitude do bispo Luiz Cappio ao fazer uma greve de fome?

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva é mesmo bonzinho por querer fazer a transposição do rio? A oposição existe ou o que existe na verdade é apenas um conchavo entre as partes?

Envie suas dúvidas e posicionamentos a cerca do tema discutido. Será uma enorme satisfação poder interagir com você.

consulte

www.fundaj.gov.br/docs/tropico/desat/fran.html

www.wikipedia.org/wiki/Transposição_do_Rio_São_Francisco

www.educacional.com.br/noticiacomentada/051007not01.asp

www.integracao.gov.br/saofrancisco/

www.permanencia.org.br/revista/politica/episcopado.htm

Leo Huberman. História da riqueza do homem. Rio de Janeiro: Zahar editores S.A., 1985.

Escrito por: Daniel Ferreira

Professor de História e Especialista em História do Nordeste.

E-mail: prof_daniel.al@hotmail.com

Os Filhos Deste Solo

Um fato interessante que rememorei esses dias, foi de uma festa do dia 02 de fevereiro de um ano qualquer de minhas lembranças. A igreja cheia, os sinos repicando, as mulheres descalças, os homens tirando os chapéus diante do andor enfeitado de flores, onde em cima encontrava-se a imagem barroca majestosa da madrinha de São Vicente Férrer: Nossa Senhora do Rosário.

Naquele dia, a senhora do céu para os homens e mulheres da fé católica desfilaria pelas ruas estreitas da fé católica desfilaria pelas ruas estreitas da cidazinha, ouvindo os benditos, o som alegre da banda tocando os antigos dobrados do Mestre Patrício, acolhendo as preces e os anseios de amor dos que esperavam o baile da noite.

No adro da igreja formavam-se as filas das irmandades e erguiam-se os estandartes sob as ordens do padre, enquanto os devotos da santa tiravam fotos estáticas diante do andor.

De repente, entra na igreja Dona Mariana Borges com seu porte ereto e firme, vestida de branco completo, cortado apenas pelo vermelho da fita do Coração de Jesus e com um sempre sorriso aberto! Parou na nave da igreja, ajoelhou-se e fez uma prece breve diante do andor e ficou a conversar com os que a interpelavam, com a atenção e alegria de sempre ia dialogando com os conhecidos.

De repente entra uma senhora da Zona Rural com véu na cabeça e trazia nas mãos grossas um maço de folhas medicinais e depois de uma oração silenciosa entre os lábios, passou o maço de folhas acariciando a imagem da santa como se aquele gesto estivesse sendo realizado com a própria entidade celeste e estivesse dando àquelas folhas um poder de cura maior.

Esta senhora logo depois de seu gesto foi interpelada por uma pessoa da igreja “que lhe falou que aquela imagem era apenas uma imagem e não a santa em si, era apenas um retrato para lembrar um ser importante.

Diante daquele fato, Dona Marina interagiu e disse à senhora desapontada: - Tem nada errado não irmã, a fé tem poder!

Sensibilidade, Fé e Poesia: O Mar de Marina Borges


Marina Borges de Farias, nasceu em São Vicente Férrer em 18 de fevereiro de 1936. filha de José Galdino Borges e Maria José da Conceição Borges (Dona Liquinha). Viveu sua infância no Brejo de São Vicente que naqueles tempos vivia o auge do café. Era uma criança alegre e participativa dos eventos que cabiam a infância daqueles tempos. Participava dos eventos infantis de pastoril, danças de crianças, e dos acontecimentos religiosos todos, tendo em vista que a grande fé de Dona Liquinha sua mãe que além de filha de Maria era cordão de São Francisco de Assis, o que a fez usar marrom até a morte.

Viveu uma infância livre nos limites do recanto, entre os serviços da casa, as brincadeiras e o tilintar dos libros da almofada de fazer renda de Dona Liquinha.

Como quase todas as crianças cursou o antigo primário e a descoberta das letras lhe demonstrou o poder que um lápis dá a imaginação, quando transformou o mundo imaginário de um vivente em letras.

Os recitais de poesia da escola, as composições rimadas das ladainhas da igreja, o arrumado dos versos de improviso dos violeiros e emboladores de coco das feiras, serviram para mostrar à menina Marina que as palavras são plásticas e que moldadas e arrumadas produzem o som agradável e criativo dos versos.

Vivia a escrever, a criar, a brincar com as palavras e na juventude, o amor ampliou as assas do verso. Como fica claro nesta produção sua de 28-04-1965:

“Hoje está completando

Seis meses do nosso amor

No dia seis de março

Me ofertaste uma flor

E neste dia em diante

Nosso romance começou

Foi na festa do Cruzeiro

Quando uma flor tu tiraste

Do andor da Virgem Maria

E a minha mãe entregaste

Também no meu coração

Neste momento roubaste...

Daí a quarenta dias

Nosso sonho se realizou

Em uma tarde de Abril

Consagramos nosso amor

E nossa santa união

Um padre abençou....

Até, meu querido esposo

Minha vida, meu amor

Eu ofereço estes versos

Tal qual aquela flor

Para que dia a dia

Multiplique o nosso amor!”

Em meio ao casamento, as obrigações cristãs, as muitas amizades que fez, Marina trabalhou como funcionaria da Prefeitura Municipal compondo os primeiros quadros de funcionários municipais.

Era muito dedicada ao trabalho, extremamente querida pelos companheiros de serviço e muito antenada aos acontecimentos de sua época.

Seu conjunto de poesias e parodias que deixou, deixam claro seu interesse pela política e pelos acontecimentos do Brasil e do mundo. Existem muitos escritos dedicados a temas de fé e devoção, aos amigos queridos e também deboches políticos, engraçadíssimos como no seu “O padre político”.

“Padre Machado quando vai confessar

Até a penitência

Se esquece de dar

Não dá absorvição

Diz: Peça a Nosso Senhor

Para Benigno Moura ganhar

A Santa Missa celebra pela metade

Deixa os fiés sem a benção

Corre logo pra cidade

Chamar de um em um

Para sentar ao seu lado

Se fazendo de amigo e de delicado

E diz a todos: eu sou um padre justo e digno

Por isso peço a você

que dê um voto a Benigno”.

Nesse verso fica claro que seu poder de crítica e senso se justiça não eram misturados à valores de fé e submissão. Entre esse texto existem muitos outros ligados a vida política, outro interessante é: “Política? Não.” Um dos seus últimos escritos.

“Está se aproximando o tempo

Que só se ouve falação

Um diz que é honesto

E que o outro é ladrão

Isso é o que mais se escuta em época de eleição.

Tem político que promete

Roubando a consciência do povo

Ele mesmo sai mangando

Enganou o bobo na casca do ovo

E o besta todo feliz

Por que andou de carro novo.

Tem pobre que briga com amigo

Esse é um coitado

Depois da eleição

Qual é o resultado?

Os políticos se dão as mãos

E o pobre fica intrigado

Isso é uma certeza

Não é mentira nem boato

Lembre o que Flávio sofreu

Da boca de Honorato

Hoje estão juntinhos

Na mesma cama de gato

Por isso meu amigo

Vote como bom cidadão

Não se incomode em quem vai

Vencer a eleição

Porque entre políticos

Não existe distinção”.

Entre seus escritos encontrava-se temas variados, lindas orações e suplicas em verso, grandes declarações de amor e afeto aos amigos, aos parentes, à filha Josélia, do seu segundo casamento após a viuvez. Até enquanto produziu escreveu sobre tudo, acontecimentos importantes que envolviam o país, como a instituição do plano real e a Declaração dos Direitos da Criança, além de inúmeros textos que exaltam a importância da Educação e da Valorização dos Professores.

Dona Marina era figura popular, alegre e querida embora incompreendida por muitos por sua sinceridade e audácia no falar, além de muito dedicada a igreja católica e seus movimentos e pastorais.

Sua sensibilidade aguçada a fazia transformar tudo em verso e em paródias. Sua terra, sua gente e as figuras folclóricas “da vida comum”.

Como a poesia imensa, que porém capaz de arrancar risos do leitor do começo ao fim, quando escreveu em 1978 sobre a turma da cachaça que escreveu com o pseudônimo de Catabi, eis alguns versos:

“A 29 de Dezembro

Dia de São Clemente

Tendo eu viajado

Pedi a são Vicente

Para trazer uma mensagem

Pra turma da aguardente...

Pé de Bode e Manoel pau

Que gostam bem do pifão

A turma da Jurubeba

Que é Nino e João Bastião

Vão logo tirando a medida

Do palito de caixão...

Lá do Engenho Gracioso

Que tem uma turma lá

Quinca, Loba e Zé de ErmeP

Para a cana aqui cortar

E do alto da caixa d’água

Vou trazer Luiz de Oscar...

João Lopes também vive

Só pra fazer confusão

Com uma turma de político

Eu não sei se quero não

Vou trazer é Biu de Belo

Bodeiro e Zezé Pão...

Bia eu vou lhe buscar

Por que conheço bem

Sendo da turma do óleo,

Qualquer um me convém

Se você não pode vir

Mande que eu espero aqui

Toinho Campina ou Glauben...

A todos muitas lembranças

E um 79 feliz

Aceite de coração

O aviso que fiz

E um abraço apertado

Do amigo Cata Catabi”.

Dona Marina, após a aposentadoria, a segunda viuvez viveu com sua filha, seus amigos, seus versos e as atividades da igreja católica, até ser acometida de grave doença que a deixou sem andar. Seus versos demonstram o quanto sofreu nesse período, além de deixar atestado o abandono que muitos amigos a deixaram, o que a fez entre outras coisas, integrar-se à Igreja Batista.

Com sua fé inabalável aceitou sua doença, enfrentou-a e não mais agüentando uma grande coleção de textos maravilhosos que só nos fazem ver a riqueza dos filhos deste solo.

Escrito por: Kleber Henrique

Professor de História e Especialista em História do Nordeste

E-mail: prof_kleber_henrique@hotmail.com

Agradeço todo o material cedido por sua filha Jó (Josélia) por nos ajudar a levar o conhecimento público um pouco de sua mãe.

Umas Palavras

Honório (Poeta e Cordelista)

Data: 12/11/07

Local: Escola Coronel João Francisco.

Cuca Livre: Defina quem é Honório?

Honório: Honório é um cidadão Pernambucano nascido em Recife, mas com grande influência da cultura de interior. Meus pais vieram da Zona da Mata e do Sertão Paraibano. Desde criança eu fiquei envolvido com as referências do interior, então, Honório seria um matuto da capital.

Cuca Livre: Que influências você considera fundamentais no despertar de sua sensibilidade para a poesia?

Honório: A grande influência foi a do meu avô que eu ainda pequeninho, com 8 anos por ai, já tive acesso a uma maleta cheia de folhetos de Cordel, onde ele me colocava no braço para escutar os cantadores pelo rádio e a partir daí eu travei contato com os grandes ícones da poesia nordestina como Leandro Gomes de Barro, João Martins de Ataide, José Pacheco, Zé Costa Leite e outros tantos poetas.

Cuca Livre: Fale-nos um pouco de seu trabalho, como é que se dar à construção poética, essa construção do próprio cordel em si, a questão das apresentações. Fale-nos um pouquinho desse trabalho.

Honório: Desde 84, que eu passei a produzir cordel. Meu primeiro titulo foi lançado esse ano que é “Recife, Carnaval Frevo e passo” e de lá pra cá já publiquei cerca de 50 titulo e ai sempre fazendo esse diálogo da cultura tradicional, da poesia tradicional como a que se tem no interior, mas também, dialogando com o urbano, com a tecnologia, com o momento presente. Então, meu cordel é produzido no computador, é divulgado pelo computador, inclusive agente já fez cordel em parceria. O que agente chama de peleja virtual através da internet, tanto por e-mail, como por msn. Recentemente, a partir de 2005, eu lancei uma idéia e graças a Deus meus companheiros concordaram da gente criar um movimento chamado União dos Cordelistas de Pernambuco, lá no Recife que hoje congrega cerca de 30 poetas amantes da poesia, declamadores e agente faz recitais em mercados, praças públicas, nas escolas e universidades e não é ó essa a parte do recital ou do entretenimento mas, e desapertar nas pessoas o interesse pela poesia popular não só pelo cordel, mas pelo repente também, pela embolada e trazer de volta essa coisa que é o cordel que é a palavra dita, a palavra falada e não simplesmente lida. Cordel é um livretozinho mais está com uma carga muito forte da palavra sendo ouvida né? Então agente faz esses recitais e também momentos como o que fizemos aqui em São Vicente na Escola Coronel João Francisco que é tanto oficina quanto palestra para seu lado do lazer e também da formação.

Cuca Livre: Atualmente os artistas populares estão recebendo certo destaque no meio cultural. Porém, inúmeras vezes percebemos principalmente nos interiores do país uma não valorização também dessa cultura, os artistas populares apenas abrem os shows das bandas comercialmente visíveis. Como é que você encara esse fator?

Honório: Esse é um problema que nos veio através da indústria cultural da cultura de massa em que só quem faz parte dessa mídia e que toca na rádio, quem passa na TV é quem tem espaço. Infelizmente, isso, termina sendo uma regra onde os artistas populares ficam em segundo plano em alguns locais, isso, tem recebido uma reação boa, inclusive em recife é um pólo de produção cultural em relação à música que tem uma relação principalmente com o ícone Chico Science que ai abre parte para o maracatu e para outras expressões maracatu rural, a ciranda e por ai vai.

Nós poetas de cordel sentimos isso também e se o artista popular em geral é colocado em segundo plano o poeta ai é que ele não encontra vez mesmo. E tem uma outra coisa, esses grupos, esses artistas são verdadeiras empresas que trabalham ai com empresários terminam sendo um sistema capitalista, onde você vende disco ai faz mais shows e ai termina sendo as mesmas pessoas, fazendo as mesmas festas em todos os lugares e ai perde a característica da identidade local. Né? Então uma festa que aqui em São Vicente vai ser mesma lá em Carpina e a mesma lá no sertão da Petrolina por exemplo, as pessoas tocando as mesmas músicas, as bailarinas fazendo as mesmas coreografias que não são as tradicionais aquelas exportadas lá da Bahia e por ai vai. Né? Então, existe graças a Deus uma reação as pessoas não têm um espaço oficial, mas vão cavando um espaço, vão cutucando, vão incomodando e graças a Deus existe uma renovação. Agente percebeu isso no maracatu e outros grupos tradicionais de renovação e no cordel agente ta vendo pessoas de 18, 20 anos escrevendo, declamando e se lançando ai como poeta, assim, com muita garra e resistência. Então nem tudo está perdido.

Cuca Livre: Ainda com relação à música na atualidade como você analisa a decadência poética das letras claramente visível na maioria das composições das bandas do Nordeste, principalmente essa coisa do forró metalizado, dessa enxurrada agora que é o brega essa coisa da decadência poética, não existe mais aquela preocupação de você lapidar a palavra pra de repente ela ser cantada e ela ser interpretada como é que você analisa isso?

Honório: Mas uma vez, esse fenômeno é balizado pela indústria do consumo, ou seja, se é um filão quer dizer, vamos colocar ai o brega mesmo. Se um determinado tipo de música vende aí as pessoas começam a reproduzir aquele mesmo modelo e o que menos interessa pra eles pra esse tipo de música é letra, o que interessa é simplesmente o ritmo o lazer pra quem ta a fim de dançar a fim de tirar onda e por ai vai. Então, foi isso com o Axé Music, com a música Sertaneja e com o pagode então, existe um modelo, eu costumo até fazer uma referência, você tira essa música que está sendo tocada por uma banda de forró mentalizado, essa mesma música facilmente adaptada para ser tocada por um grupo de pagode ou por uma dupla sertaneja por que é aquela questão do amoroso, a briga no sei o que lá mais né? Novamente a paixão as rimas, paixão, coração e tesão (risos) pronto. Né? E ai se engloba. (risos) Então, ai quando uma faz sucesso começa os imitadores reproduzindo e reproduzindo e fica uma coisa caótica e perde-se a qualidade, mas, isso, acontece também com os grupos tradicionais. Você pega um forró pé-de-serra; temos os ícones de grandes representações ai você vai ter aquelas pessoas que vão copiar modelo que não traz nada de criativo e que faz a música fácil. Simplesmente para ganhar dinheiro ou sem compromisso cultural. Agora que é realmente deplorável o nível desse tipo de música, mas, mais uma vez é o modelo e agente tem que trabalhar com modelo diferentes desse tipo de música a letra não fica nem em segundo plano ficaria em último plano o que importa é criar um clima de agarramento de sedução, de lazer o que for por ai...

Cuca Livre: Como você ver o notável descaso político com relação à cultura como um todo, a idéia de cultura não dá voto? Como você ver a questão desse descaso político com a cultura tão rica que é o Brasil, essa coisa da miscigenação enfim, e que hoje não é tão aproveitado dentro da política dentro do sentido de que a política ainda é a coisa que permeia os outros níveis. Inclusive o cultural?

Honório: Sem dúvida a cultura. Sempre esteve relegada ao segundo plano. O orçamento irrisório que é destinado a cultura é a grande prova disso. Mas, agente tem visto reação por ai. Por exemplo, o ministro da cultura, ação de Gilberto Gil, o próprio governo Lula que agora fez o pacto da cultura também. Então, a gente tem alguns exemplos de reação contra isso. É a valorização sobre as expressões populares, mas isso passa também pelos setores organizados, ou seja, os artistas populares eles não cobram muito isso não; tem muita aquela coisa, do artista em espontâneo, sem muita consciência, e ai uma outra coisa é a política do pão e circo. Você lembra do artista local na hora da festa lá no comício. Jessier fala muito bem isso em comício de beco estreito. No comício você tinha o showmício, né? Pra atrair o povo. Terminada a eleição as pessoas, assim... Ai você tem as festas tradicionais que eram grandes, palcos para os artistas locais, o carnaval, o São João, natal por exemplo, que tem pastoril e cada local você tinha uma expressão dele. Os bois de Timbaúba, Surubim, você tem o maracatu na zona da mata como um todo. Hoje, o carnaval é mais uma vez aquele mesmo formato, né? As bandas tocando de noite, uma ou outra orquestra de frevo trabalhando. Continua com descaso a gente tem alguns exemplos de governos que estão comprometidos com a cultura. A gente tem por exemplo, que eu conheço o governo João Paulo lá no Recife com o carnaval muticultural, que deu um outro formato, mostrou que é possível você fazer uma festa de qualidade, que seduza o povo com outro formato que não é esse ai pasteurizado que chegou da Bahia. A primeira capital brasileira da cultural foi Olinda, mas não dar o estímulo que tem esse título. Então, realmente é preciso se fazer muito, né? Mas, cabe a nós artistas cobrarmos, estarmos presentes, e fazer valer o nosso papel.

Cuca Livre: Ainda sobre política. Estamos vivendo num país que à crise na ética tem se aprofundado constantemente. Você apontaria que caminhos para conquista dessa ética na política?

Honório: Eu, acho que primeiro passa muito pela auto-estima do povo e arte. A cultura têm grande importância nisso. Agente ver, as instituições sendo desvalorizadas perdendo suas referências. Então, acredito que o grande passo, é primeiro agente se sentir bem como gente, como povo, como brasileiro, como nordestino. A partir do momento que agente tem essa consciência ai passa também a conscientizar. Esse evento que agente está tendo aqui mesmo a Jornada Pedagógica é um momento de trazer pessoas que tem certa formação que pensam que refletem sobre um determinado assunto e trazer para os jovens, pois agente tem que apostar nesses jovens também. Temos ai muita violência, dificuldades econômicas e financeiras, mas agente o brasileiro tem como profissão esperança. Então, nós temos esperança, mas, não de esperar acontecer, e sim, fazer acontecer, como disse Geraldo Vandré. Sou muito otimista. Acho que cada passo que agente dar sirva pra mostrar as pessoas que existem oportunidades, existem possibilidades de esperança existem coisas boas para serem feitas. A músicas, o cordel, a dança e outras expressões; a capoeira, os esportes são importantes nisso. Mas, a gente tem que despertar também pra a consciência da cidadania e de cobrar também o que tem de responsável pela posição desse país. Não adianta eu simplesmente fazer uma campanha de meio ambiente e estar jogando o lixo fora do cesto. Muitas vezes isso acontece, a prática é uma e o discurso é outro. E ai vem a questão da ética que você falou. Tenho que ser ético na minha casa, escola e na rua, pra puder cobrar que os políticos também tenham ética. Até por que se os políticos estão lá é por que nós colocamos. Nós temos responsabilidades até nesse momento importante por que o eleitor, ele saiba escolher os seus representantes.

Cuca Livre: E quais os caminhos para educação?

Honório: Educação? Primeiro é uma pergunta que a gente não vai encontrar uma resposta toda. Mas, eu acho que o grande caminho é você valorizar o ser humano, como indivíduo mesmo. Apostar na capacidade dessas pessoas de realizarem de surpreender mesmo, e você principalmente dar a condição de dignidade. Eu acho que não dar pra se pensar em educar, sem as pessoas estar bem alimentada, sem saúde, sem a pessoa estar com a condição psicológica de até trabalhar aquelas informações. Então, passa por questões econômicas, sociais de saúde pública. Eu acredito que se a gente conseguir essa dignidade a gente vai conseguir um grande avanço pra educação.

Cuca Livre: Que vias poderiam ser usadas para valorização do artista popular muitas vezes esquecido pelas próprias instituições de órgãos culturais; o embalador de coco, o cordelista, o poeta popular, enfim, que está ali, que existe, mas, que está esquecido pelas instituições culturais?

Honório: Pois é, o primeiro ponto é a gente fazer com que se criem momentos de que essas pessoas apareçam. E ai a sociedade civil pode colaborar com isso. Mostrar para o poder público que aquilo ali estar acontecendo. As ONGs, as escolas principalmente ela tem esse papel de ser um elemento que detone esse processo e a gente ver isso em alguns momentos. Um exemplo, voltando a Chico Science o maracatu é uma instituição, era uma manifestação que estava em declínio. A partir do momento em que Chico Science colocou um tambor no maracatu alfaia na música dele. Já despertou o interesse dos jovens. Olha existe uma coisa, da onde ta vindo esse som ? É do maracatu. E ai vai Chico Science vai e coloca Mestre Salustiano no palco também. Então uma ação que surgiu da própria sociedade e que hoje já recebe o apoio das instituições. Então acredito que os artistas as pessoas que tem consciência, formadores de opinião, comunicadores, tem um papel importante de mostrar principalmente desses artistas que estão na comunidade. Por que os artistas populares que já conseguiram uma certa visibilidade, eles já conseguem gravar um Cd, eles já conseguem aparecer em um programa de televisão mesmo num horário em que ninguém ta vendo lá pra depois de meia noite, uma hora, ou bem cedinho de seis horas da manhã, mas eles já estão tendo espaço. Mas, o artista que mora aqui, lá em Siriji, que mora na Chã do Esquecido, Edy Carlos que é daqui e que tá lá em Olinda. Será que as pessoas daqui conhecem Edy Carlos. Mané de Teté que também é da região. Então é preciso se criar momentos para que essas pessoas sejam vistas de forma digna, por que as vezes você abre espaço, mas coloca num espaço inconveniente onde as pessoas já estão indo embora ou antes da festa começar. Eu já vi isso em várias cidades você dar um cachê fabuloso pra uma banda que vem de fora e quer que o artista popular se apresente de graça em troca de estar abrindo espaço pra ele, de uma forma ridícula até.

Bate Bola

Cuca Livre: O mundo?

Honório: o mundo... é a vida.

Cuca Livre: As pessoas?

Honório: As pessoas... são sempre um desafio.

Cuca Livre: Uma tristeza?

Honório: A falta de espaço

Cuca Livre: Uma Alegria?

Honório: Alegria... a poesia

Cuca Livre: Uma possibilidade

Honório: uma possibilidade? É... o sucesso das pessoas e a vida sempre presente.

Cuca Livre: Uma Palavra?

Honório: Amor

Cuca Livre: Uma Frase?

Honório: vou dizer um verso. Tudo passa na vida, tudo passa, tudo o que passa na vida a gente esquece.

Cuca livre: Um gesto?

Honório: Um gesto... de paz

Cuca Livre: Um sonho?

Honório: Esse mundo lindo ficar mais lindo ainda, sem guerra, sem fome e sem dor.

Vento e Raiz

Repensando o conceito de educação


Pretendo nesse texto colocar-me diante de uma questão extremamente seria e porque não dizer, polêmica: a idéia do que vem a ser a prática educativa.

Faço essa breve análise não só como componente de um meio de comunicação escrito, mas, e principalmente como um profissional da educação.

Fala-se fartamente sobre a importância da educação, o jargão utilizado por Monteiro Lobato quando disse que “uma nação se faz com homens e livros” já virou uma panacéia na boca e nos discursos políticos e apologéticos da educação. Agora uma coisa é certa, poucos param para refletir qual o sentido verdadeiro da atividade educativa.

Etimologicamente, a palavra educação vem do latim educere que quer dizer: conduzir para; mas ao longo dos tempos, esse sentido-raiz do termo, tem se modificado, como também, sua própria prática e aplicação.

O dicionário, o “aurelião” que agora, ou pelo menos aqui em São Vicente Férrer tem sido o grande panorama de reflexões superficiais, ou melhor, tem para muitos se tornado a grande bíblia de consultas filosóficas e reflexivas, apresenta outros significados para o termo. Esta lá: educação – “promover a educação, transmitir conhecimento, instruir, cultivar o espírito, domesticar, domar, etc”.

Esses dois últimos significados que o dicionário apresenta, tem sido para mim, os referencias para essa reflexão. Domesticar significa, tornar doméstico, amansar. Partindo daí, podemos perceber que esse é quem tem sido o verdadeiro sentido da educação e eu proponho até um novo termo para o professor, que poderia chamar-se DOMADOR.

Ora, o que faz um domador? – amansa animais. Durante muito tempo os domadores usavam a violência física, atualmente, trabalham mais com castigos e recompensas. Isso assemelha-se muito com o trajeto temporal da educação, que um dia já usou a violência física das palmatórias e dos castigos e hoje ainda utiliza-se da violência psicológica das recompensas e exclusões.

A educação em sua essência é uma construção livre e isso é o que faz o ser humano livre e responsável, ou seja, ético.

A educação em seu sentido primordial, tem o que para os gregos antigos significava o que Sócrates chamou de maiêutica (dar a luz), ou seja, parir idéias.

O professor deve ser como uma parteira, ou seja, provocar, ajudar o aluno a “dar a luz” a idéias, reflexões, analises do mundo em que vive, e não apenas transmitir conhecimentos organizados e obrigatórios.

Já é uma contradição uma educação livre ser obrigatória. Por que se obriga a educação? A resposta é simples: - a educação tem servido para reproduzir o que o sistema quer, que são seres domados, mansos, que não reagem, que não refletem por si, mas, apenas absorvem o que lhes é dado pronto e acabado e ainda são sujeitos a castigos e recompensas se não responderem como se espera ao que lhes é imposto.

A educação do sistema capitalista, em todos os níveis sociais de integração reproduz a idéia de que existe autoridades donas da verdade e súditos. São professores, padres, pastores, militares, patrões e políticos, todos querendo obediência cega e muda, todos apresentando seus heróis, patronos e santos como modelos a serem seguidos, e geralmente esses modelos eram obedientes, subservientes, humildes, calados, “EDUCADOS”.

O que se quer de todos os “EDUCADOS” são bons patriotas, bons consumidores, bons fieis, bons empregados, bons pagadores de impostos e de dízimos.

Criticar é um crime! Coisa de arruaceiro! Coisa de revoltado, sujeito às fogueiras da verdade dos inquisidores dominantes.

Acredito que o leitor deve estar se perguntando se eu sou a favor do caos e da desordem já que critiquei o que considero como atraso. Ai eu lanço algumas perguntas: Será que já não vivemos num caos? Por que se matam milhões de fome? Por que tantas guerras e tanta exploração? Por que num sistema de educação obrigatória existem tantos camponeses e operários analfabetos? Por que essa educação tão eficaz consegue formar tantos ladrões e doutores em ilegalidade? Como uma sociedade tão bem estruturada consegue formar tantos exploradores eficazes, tantos destruidores da natureza que provocam a cada dia um suicídio coletivo e uma massa tão grande de miséria?

Acredito que até hoje tem falhado os mestres e autoridades como também, suas falsas atuações de domar.

Acredito que enquanto continuar a reproduzir esse sistema auto-destrutivo estamos longe de formar seres responsáveis com a sociedade e o planeta. Enquanto não se educar para a reflexão e para a liberdade de atuação e mudança da atual ordem social, o mundo caminhará para sua própria destruição.

Quero deixar a grande dúvida: -Que geração terá coragem de romper com tudo isso?

Escrito por: Kleber Henrique

Professor de História

E-mail: prof_kleber_henrique@hotmail.com

Vista de Um Ponto

Melhor morrer por um ideal do que viver sem algum.

No dia 06 de março de 2008 comemoraremos pela primeira vez uma data que pertence ao nosso estado, exclusivamente. Feriado. Dia da Insurreição Pernambucana de 1817. Prelúdio de novos tempos ainda por vir. Uma luta que, embora naquele momento fracassado, serviu de estímulo e força para inúmeras outras. A Confederação do Equador em 1824 foi um de seus reflexos. Mas não só ela; seguiram-se muitas e nosso título de ‘Leão do Norte’ rugia cada vez mais forte em cada uma delas. Mas, será que a gente chegou lá?

Quando os revolucionários vislumbraram uma transformação no país e tentaram realizá-la, talvez eles pensassem que não fosse dar certo. Talvez eles achassem que nem ia sair do papel seus planos. Contudo, o objetivo de tornar independente e livre o seu território, sem interferência de elementos externos e sem “investimentos” (no caso dos impostos pagos) que jamais trariam retorno (como foi o pagamento dos impostos à coroa, que só aplicava na capital) foi maior. O ideal de democracia foi maior. Apesar de não levarem em consideração a importância da libertação dos escravos para o processo de emancipação social e fortalecimento da luta sendo um elemento que iria significar, definitivamente, a consolidação da democracia no seio de um país essencialmente aristocrático, conservador e patriarcal.

Outras províncias aderiram ao movimento iniciado por Pernambuco e também estabeleceram a independência em relação ao resto do Brasil; foram os casos de Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará (embora não tenha conseguido tempo para a adesão de todo o estado). Foi proclamada a primeira república no Brasil. Durou setenta e dois dias e, apesar da grande participação do clero da Igreja Católica (motivo pelo qual é igualmente chamada de Revolução dos padres), estabeleceu pela segunda vez no país a liberdade de culto (a primeira havia sido durante o período nassoviano, também em Pernambuco).

É certo que fatores econômicos muito influenciaram nesse “ideal republicano”, mas é pela primeira vez, muito antes dos outros estados e de Deodoro da Fonseca (não bem um líder, apenas uma pessoa que enterrou uma forma de governo cuja não cabia mais) que os pensamentos iluministas e da Revolução Francesa são consolidados no Brasil. Ainda que tenha sido apenas em uma parte dele. Ainda que a adesão de algumas províncias fosse o início de uma posterior adesão de outros lugares. Ainda que tenha sufocado pelo governo régio de D. João VI.

Mas não fracassou. Continuou viva na memória dos que permaneceram vivos e teve sua complementação sete anos depois, na Confederação do Equador. E em outras. Domingos Teotônio Jorge, José de Barros Lima, Domingos José Martins, Padre Miguel Joaquim de Almeida e Castro, Antônio Rodrigues e tantos mantiveram suas memórias vivas até hoje. Será que conseguimos honrá-las, estabelecendo uma real república soberana em nosso país?

Acredito que o feriado, após tantos anos de esquecimento, venha para nos lembrar a importância de continuarmos lutando. Uma luta árdua que não sabemos quando triunfará. Mas, ainda assim, prefiro morrer por um ideal a viver sem tem razão.

Escrito por: Amanda Gondim

Professora de História

A Luta de Cada Um!

Fantástica mulher

Casou-se com o faraó mais poderoso do Egito, se tornou sacerdotisa de uma religião monoteísta em uma época em que todos eram politeístas e por conta disso acabou sendo adorada como uma deusa. Nos últimos dias de sua vida, administrou sozinha o maior império do tempo em que viveu.

Nos discursos do seu esposo o faraó Amenhotep IV era comum se encontrar ressalvas a cerca da importância da rainha Nefertiti, e acreditem isso era uma coisa bastante fora do comum para aqueles tempos.

Na verdade Nefertiti começou a existir no Egito após se casar com o faraó, e entrou na história com o pé direito. Implementou o culto ao deus Aton (disco solar) e o prestígio de Nefertiti ficou ainda maior não apenas no Egito, mas, em outras partes do mundo antigo.

As imagens encontradas nas paredes de Amarna (entre Tebas e Mênfis) próximo ao atual Cairo, mostram que Nefertiti ficava cada vez maior nas imagens, em alguns casos no mesmo tamanho do rei. Ser grande, ser pequeno nessas imagens identificava o status do indivíduo na hierarquia do grupo em que estivesse inserido.

Dona de uma magnífica beleza, e carisma incomparável Nefertiti atraia popularidade. Entre as funções que costumava realizar, acompanhava cortejos religiosos e fazia oferendas. Mas, isso não foi suficiente para aplacar a fúria da elite sacerdotal egípcia que tinha preferência pelos deuses tradicionais.

Em pouco tempo tanto o faraó quanto Nefertiti foram elevados a categoria de deuses vivos. As mudanças foram acontecendo bem devagar pra não impactar e gerar rebeliões entre os adeptos de outros deuses.

Um bom exemplo foram as transformações que começaram a acontecer com o próprio deus Aton que era metade homem e metade animal e posteriormente foi substituído por imagens da realeza.

As cerimônias religiosas passaram a ser ministradas exclusivamente à família real, uma vez que, apenas esta possuía o saber e podia cultuar o deus. Assim, Nefertiti tornou-se a personagem principal. Ela agora havia subtraído todas as divindades locais.

No Egito Antigo a política e a religião se misturavam e os sacerdotes de Amon eram quem ministravam essa intermediação. Com a substituição na estrutura religiosa isso passou a ser exclusivo do casal real.

Havia muita gente incomodada com as transformações e quando manifestavam indignação eram perseguidos, presos e até banidos.

Após a morte do seu esposo Nefertiti tornou-se o próprio faraó com direito a coroa e brasões. Restaurou o culto ao antigo Amon-Rá, não que tivesse preocupação em restaurar as antigas práticas, ela apenas manifestava certo interesse em manter a ordem, juntar forças com as elites locais, queria mesmo era apoio do maior número de pessoas.

Akhenaton deixou o Egito submerso em crises e Nefertiti teve que arrumar toda bagunça. Não era uma tarefa nada fácil. Todavia, ela não conseguiu manter a ordem por muito tempo. De forma não esclarecida Nefertiti deixou o trono e a vida.

Alguns pesquisadores arriscam a hipótese de ela ter sido vítima de um golpe da elite. Tanto que o faraó que iria assumir o trono era uma criança com idade de 9 anos. Era o jovem Tutancâmon, o faraó mais novo da História do Egito. Foi assassinado com 18 anos.

Muitos a consideram uma grande mãe por sempre aparecer nas imagens, nos discursos reais e como fundadora de uma nova religião. Porém, ela também pode ser considerada uma figura muito ambiciosa e dessa maneira estaria apenas se enquadrando aos perfis da época, na disputa pelo poder. Tão ambiciosa que seria capaz de sacrificar a vida do seu esposo; Seria uma mulher extremamente impiedosa. Ela é até mesmo acusada do caos que levou o Egito ao fim.

E é justamente por isso que resolvi falar neste pequeno texto sobre uma mulher tão grande como Nefertiti. Sabe-se que toda ausência é atrevida, e muitas vezes quando não se tem provas se inventam roteiros, histórias e provas.

Na verdade todos esses indícios proporcionam muitas interpretações inclusive o preconceito a uma mulher, ainda mais na condição de faraó. Contudo, se esses indícios existem, eles precisam ser interpretados não apenas como fatores contribuintes de destruição, algo negativo.

Atente-se para a grandeza da mente de Nefertiti para articular tais estratégias, se assim ocorreram. Uma mulher com a mente a frente do seu tempo. Perceba-se o jogo de cintura para agradar as diversas facções políticas e religiosas da época. Compreendam-se as transformações no cenário econômico e social que estimularam estratégias mais ousadas por parte desta extraordinária mulher Nefertiti.

Envie suas dúvidas e posicionamentos a cerca do tema discutido. Será uma satisfação enorme poder interagir com o caro leitor.

Consulte:

O Nilo, rio dos deuses. Casas dos deuses. Barsa planeta DVD

Cláudia de Castro Lima. Mulher Maravilha. Aventuras na História. Edição 19. Editora Abril, março de 2005.

Escrito por: Daniel Ferreira

Professor de História e especialista em História do Nordeste.

E-mail: prof_daniel.al@hotmail.com

Líberducação

Início do ano letivo: O que ensinar?

Estamos iniciando mais um ano letivo nas escolas da rede pública e começo com uma pergunta: O que ensinar? A mesma e velha ortodoxia que foi “passada” aos nossos avós, pais e a nós? O sentido da palavra aqui utilizada pode ter dois significados: passada no sentido de ter sido transmitida pelos nossos mestres o conhecido aprendido pelos mesmos e simplesmente assimilado por nós, e também no sentido de ser a ortodoxia escolar algo que pertenceu ao passado, mas que, como diz o poeta “é uma roupa que não nos serve mais”.

A educação sempre foi compreendida como um “privilégio de poucos” e servia apenas para instruir a elite de informações que seriam usadas para a sua vida profissional. Desde a formação da educação brasileira, em meados do século XVI, que a finalidade sempre foi a de privilegiar a elite. Mesmo os catequistas, com toda a sua boa vontade em transmitir aos “bons selvagens” a instrução e o conhecimento erudito europeu, tinham por finalidade “amansar” ainda mais os bárbaros do novo mundo para o domínio colonial dos senhores europeus. E, assim, o ensino no nosso país se desenvolveu, sempre para atender às demandas e necessidades da classe social mais favorecida.

O ensino básico é elemento recente na história da educação no Brasil, dado que o ensino superior público institucionalizado surgiu antes mesmo de serem criadas escolas públicas nos níveis primário e secundário. E mesmo depois de instituído configurou como mero transmissor de conhecimentos científicos por vezes não ligados aos conhecimentos da academia muito menos aos interesses e necessidades do povo em geral. O ensino básico nasceu no Brasil após intensos debates e disputas tanto politicamente quanto das manifestações populares de desejo em ter uma educação que a priorizasse. Como sabemos a população não foi prioridade nesse primeiro momento.

Lembro que em várias circunstâncias escuto uma ou outra pessoa mencionar que a escola antigamente era muito melhor e que a clientela era bem mais educada e gostava de estudar. Acho graça quando ouço e lembro que nesse mesmo período “áureo” e maravilhoso a educação também era para poucos e o povo, para quem o ensino público deveria ter sido criado, nunca foi considerado ou quando era sofria com discriminações institucionalizadas dentro da escola (quem tem mais de trinta ou quarenta anos pode recordar comigo, quem não se lembra da famosa caixinha escolar?).

Pois bem, a educação desde sua formação teve (ou tem?) a finalidade de manter o status quo na sociedade e para isso o ensino público básico contribuiu (ou contribui?) bastante, transpondo os padrões culturais mais discriminatórios da nossa sociedade para os livros escolares, para os conteúdos e para o cotidiano da convivência escolar. Os programas em grande parte hoje tem o objetivo de promover o conhecimento científico e erudito (embora não explicite). Durante a maior parte da história da educação no Brasil o conhecimento técnico foi tratado como inferior e por vezes até sucateado por alguns governantes considerando-o desnecessário. Aí eu pergunto: desnecessário para quem?

Voltamos à pergunta inicial, que me deixa pensativa até agora: O que devemos ensinar? Nós, professores da rede pública de ensino, o que vamos realizar com nossos(as) estudantes ao longo desse ano letivo que se inicia?

Será que devemos ajudar a manter esse status quo existente desde antes da minha avó e continuarmos a nos lamentar que a clientela do passado é que era boa e que os jovens de hoje em dia não querem nada com a vida e que educação deveria voltar a ser privilégio para vermos se melhora a qualidade? O que fazer?

É inegável que o mundo de hoje não é o mesmo de trinta anos atrás e que a dita modernidade (com todas as suas tecnologias) surge a cada dia com novidades mais “modernas”. Então por que, com toda essa mudança em termos materiais e culturais na nossa sociedade insistimos em manter a ortodoxia e o continuísmo em âmbito escolar?

Alardeou-se na mídia o pequeno número de matrículas efetuadas na rede estadual de ensino e, na mesma semana, o grande número de estudantes sem escola. Além desses dois fatos vivemos e convivemos nas escolas da rede pública com o grande contingente de estudantes que desistem após realizar a matrícula na escola. Não vou aqui analisar todos os contras que algumas práticas realizadas pelo governo ajudam para que esse número seja exorbitante, mas uma realidade concreta é quanto mais distante a escola for da residência do estudante mais fácil será a desistência do mesmo em relação a estudar (e isso é diretamente proporcional).

Francisco Campos (primeiro ministro da Educação e Saúde Pública, pós revolução de 1930) já afirmava: “A finalidade exclusiva do ensino secundário não há de ser a matrícula nos cursos superiores; o seu fim, pelo contrário, deve ser a formação do homem para todos os grandes setores da atividade nacional, construindo no seu espírito todo um sistema de hábitos, atitudes e comportamento que o habilitem a viver por si e tomar, em qualquer situação, as decisões mais convenientes e mais seguras”. Isso foi escrito na reforma do ensino secundário, em 1932. Como estamos em um período no qual a educação básica não compreende apenas o ensino secundário, diria que a frase encontra-se desatualizada. Mas não desusada, pelo teor incontestavelmente atual que ela possui quanto ao sentido da finalidade última da escola pública em nosso país.

As nossas crianças e jovens possuem inúmeras outras perspectivas de futuro que não simplesmente serem aprovadas no vestibular e saberem estar com a vida garantida, com emprego certo e grandes possibilidades de ascensão social. Sabemos que faculdade nos dias de hoje não confere emprego certo a ninguém, que nem quem tem o famoso ‘bom berço’ tem a vida garantida e que ascensão social é coisa para poucos, muito poucos mesmo. Então, por que continuarmos com a velha ortodoxia de ensinar o que apenas poucos vão precisar para se desenvolver? Não estou aqui querendo afirmar que nossos estudantes não têm a mínima condição de cursar uma faculdade ou de se tornarem doutores um dia. Pelo contrário, gostaria que todos na escola desenvolvessem o gosto pela leitura e se tornassem doutores no exercício da cidadania porque é isso que vai fazer com que desenvolvamos e modifiquemos o modelo econômico e social de exclusão que aí está. O fato de alguns tornarem-se doutores na titulação vai ser apenas mais uma forma de contribuição para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.

Devemos construir com nossos estudantes uma perspectiva de futuro melhor para todos. E não vai ser com a velha ortodoxia educacional que ajudaremos na formação desse mundo melhor no qual eu acredito e nós queremos. Então, pergunto: O que ensinar?

Escrito por: Amanda Godin

Professora de História

Brasil Mostra Tua Cara

Hasta La Vista Camarada Fidel

“Na cuba dos dias de hoje, acabou-se o tempo onde uns comiam sem trabalhar” (Che Guevara).

A poucos dias o mundo globalizado pode assistir um grande fato histórico mundial que foi a renuncia de Fidel Castro ao Governo Cubano após 49 anos no poder, para muitos, uma perda irreparável e para outros uma euforia histérica.

Tenho acompanhado tudo o que se produziu nos meios de comunicação de massa, principalmente aqueles veículos que tem mais audiência, e mais uma vez pude constatar a grande verdade que poucos sabem: as grandes empresas de comunicação, só servem para apresentar fatos de maneira tendenciosa, criar ‘consensos’ e servir aos interesses dos grupos dominantes.

O grande Jornal da Globo na madrugada do dia 21 de fevereiro, estreou com toda pompa da sua qualidade visual onde se via na tela de fundo um céu turvo com o rosto em perfil de Fidel e alguns trechos cuidadosamente escolhidos do seu discurso de renúncia. O melhor foi a fala do repórter: “Vencido pelo tempo, o ditador cubano deixa o poder, depois de ter sustentado um regime falho e tirânico, baseado em idéias antigas que foram aplicada na prática e a História provou sua inoperância. O povo de Cuba respira aliviado na esperança do sonho democrático”.

No outro dia, olho os jornais escritos e o discurso era quase o mesmo, a frase de ordem era: “O ditador caiu”. Na televisão, analises mil dos economistas sobre os rumos da economia cubana. Minha cabeça era um misto de perplexidade e indignação, pelo fato de que para tudo que serve de interesse só se mostra o que convém. Ninguém, nenhum veículo de comunicação parou para analisar profundamente as coisas, eu digo analisar mais profundamente as coisas e não apresentar uma “informação” recoberta de efeitos especiais com pretensão de ser dona da verdade, mas, extremamente desprovida de argumentos totalizantes.

Virou lugar comum nos discursos chamarem o regime cubano de ditadura e Fidel Castro de ditador e pronto! Poucos avançam no debate poucos querem virar a moeda para ver as duas faces. Antes de rotular qualquer pessoa ou sistema, prefiro começar a fazer um paralelo básico: em Cuba existe pobreza e não miséria e até a pobreza de lá é bem diferente da nossa desde até quem venha a ser pobre. Lá é pobre do médico até o lavrador, mas uma pobreza também diferente, pois, é pobreza com dignidade. O pobre de lá tem condição de estudar numa escola com qualidade extraordinária e esse mesmo pobre estudante vai saber que ali ele terá como colega de turma o filho do doutor e do agricultor, pois, em Cuba não existe escola particular “melhor” pra separar rico de pobre. O cubano tem saúde pública com uma das melhores qualidades do mundo, onde o médico mesmo depois do paciente sair do hospital com seus medicamentos em mãos, o médico vai acompanhar semanalmente o tratamento em sua casa.

Em Cuba nenhuma profissão é encarada como mais importante do que a outra, por isso os salários são praticamente iguais. O leitor pode está se perguntando se é justo alguém estudar tanto como um doutor e ganhar quase a mesma coisa que um agricultor. Ai eu lanço outra pergunta: será que é justo o agricultor perder suas forças no trabalho do campo e não poder nem alimentar os filhos como acontece no nosso sistema? São olhares como esse, por todos os ângulos que nos fazem enxergar melhor. Será que esse discurso de que o trabalho intelectual é superior ao braçal não é o discurso do doutor político que para convencer a todos porque filho de doutor tem condição de um dia ser doutor também e filho de lavrador é quase impossível que um dia chegue a ser doutor, mas irá sempre trabalhar sempre para o doutor.

É aquela velha história do político dizer que está fazendo de tudo pela saúde pública, que ambos os sistemas estão em pleno desenvolvimento, mas seus filhos e famílias tem os melhores planos de saúde e estudam em escolas particular e em qualquer piripaque terão uma equipe medica avançadíssima para que não sinta uma dor em uma unha. Os grandes defensores da propriedade privada ou são proprietários ou são meros reprodutores de discurso dominante. Enquanto que quem tem condições de estudar quer ser doutor a todo custo para ganhar bem na tal ditadura cubana, o indivíduo só vai estudar para ser doutor se tiver aptidão para tal.

Realmente, a pobreza em Cuba foi socializada e muitas das causas e dos problemas se chama embargo dos americanos que poucos analisam. Poucos olham que esse embargo dos EUA é uma indignação do governo americano por ver uma ilha pequena localizada quase no seu quintal se negar ao imperialismo capitalista e dizer não ao consenso de Washington e esse imperialismo capitalista hoje caracterizado ou evoluído para uma forma que chamamos de GLOBALIZAÇÃO. Sempre que alguém se negará a essa submissão é pintado de demônio. A figura de diabo latino, hoje, não é estendido só a Fidel, outros são figurados assim como Hugo Chaves e Evo Morales.

Aqui todos vivem na malha do medo da violência que é produto da exclusão, enquanto em Cuba se pode andar de madrugada no meio da rua porque armas só quem tem é o exército. E não acontecem crimes? Acontecem, porém na maioria das vezes passionais, e nos presídios o que há são prisioneiros políticos o que é um erro, admito. O maior erro do regime cubano é a falta de liberdade de expressão, isso é um crime de fato.

Lá, ninguém compra roupa de grife, mas ninguém anda maltrapilho lá quase não se come carne, mas todos têm direito a comer, e é impossível que se encontre alguém esquálido de fome. Lá existe sim o tão comentado El Paredon, onde se fuzila criminosos, mas muitos corruptos já morreram lá por roubarem dinheiro público o que é bem diferente daqui onde a impunidade garante a permanência da corrupção.

A educação cubana é tão eficaz que consegue formar homens e mulheres éticas, que respeitam a liberdade religiosa e estão longe de suas práticas preconceitos raciais e sexuais. Pouco estão interessados pela cor da pele ou com quem o indivíduo vive ou vai pra cama. Respeita-se todos e não quem tem mais dinheiro. Ora! Ora! Então Cuba é o céu? – Não, existem muitos defeitos, pois, não existem regimes perfeitos. Vou enumerar os seus defeitos a meu ver, a falta de liberdade e de democracia política, pois atrelado ao sistema, poderia haver tudo isso. Se houvesse igualdade e liberdade esse seria o verdadeiro socialismo, mas mesmo assim não desmereço o ex-líder de ter estruturado o “fidelismo” com todos os seus defeitos, mas na intenção de produzir o socialismo real.

Só sei que em Cuba todos comem, recebem assistência de saúde, estudam e tem seus dentes completos e aqui a maioria não sabe o que é comer, são maltratados nos hospitais, estudando ou não são explorados e grande parte banguelos.

Queria apenas mostrar os dois lados de ambos os sistemas para nos levar a ver quais dele é mais humano, para acabar com essa babozeira de quem tem sua casa, sua barriga cheia, sues planos de saúde, suas boas escolas, bater no peito e dizer que quem passa fome é quem não quer trabalhar ou que ao invés de roubar no supermercado um pacote de fubá, o indivíduo deveria viver de comer bananas para não roubar. Esses seres que reproduzem esse discurso hipócrita ainda se dizem cristãos, igualitários e justos, quando na verdade só querem reproduzir o modelo do macho adulto e branco sempre no comando, onde a ordem é riscar os índios e nada esperar dos pretos, além de não reconhecer valor em pobre, gays e mulheres sozinhas e dizer que tudo vai bem e que o Brasil é um país democrático onde o indivíduo é livre para escolher seus governantes.

Espero firmemente que um dia se cumpra o que Fidel um dia falou: “A História me absolverá”.

Escrito por: Kleber Henrique

E-mail: prof_kleber_henrique@hotmail.com

Professor de História