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quinta-feira, 20 de março de 2008

Umas Palavras

Honório (Poeta e Cordelista)

Data: 12/11/07

Local: Escola Coronel João Francisco.

Cuca Livre: Defina quem é Honório?

Honório: Honório é um cidadão Pernambucano nascido em Recife, mas com grande influência da cultura de interior. Meus pais vieram da Zona da Mata e do Sertão Paraibano. Desde criança eu fiquei envolvido com as referências do interior, então, Honório seria um matuto da capital.

Cuca Livre: Que influências você considera fundamentais no despertar de sua sensibilidade para a poesia?

Honório: A grande influência foi a do meu avô que eu ainda pequeninho, com 8 anos por ai, já tive acesso a uma maleta cheia de folhetos de Cordel, onde ele me colocava no braço para escutar os cantadores pelo rádio e a partir daí eu travei contato com os grandes ícones da poesia nordestina como Leandro Gomes de Barro, João Martins de Ataide, José Pacheco, Zé Costa Leite e outros tantos poetas.

Cuca Livre: Fale-nos um pouco de seu trabalho, como é que se dar à construção poética, essa construção do próprio cordel em si, a questão das apresentações. Fale-nos um pouquinho desse trabalho.

Honório: Desde 84, que eu passei a produzir cordel. Meu primeiro titulo foi lançado esse ano que é “Recife, Carnaval Frevo e passo” e de lá pra cá já publiquei cerca de 50 titulo e ai sempre fazendo esse diálogo da cultura tradicional, da poesia tradicional como a que se tem no interior, mas também, dialogando com o urbano, com a tecnologia, com o momento presente. Então, meu cordel é produzido no computador, é divulgado pelo computador, inclusive agente já fez cordel em parceria. O que agente chama de peleja virtual através da internet, tanto por e-mail, como por msn. Recentemente, a partir de 2005, eu lancei uma idéia e graças a Deus meus companheiros concordaram da gente criar um movimento chamado União dos Cordelistas de Pernambuco, lá no Recife que hoje congrega cerca de 30 poetas amantes da poesia, declamadores e agente faz recitais em mercados, praças públicas, nas escolas e universidades e não é ó essa a parte do recital ou do entretenimento mas, e desapertar nas pessoas o interesse pela poesia popular não só pelo cordel, mas pelo repente também, pela embolada e trazer de volta essa coisa que é o cordel que é a palavra dita, a palavra falada e não simplesmente lida. Cordel é um livretozinho mais está com uma carga muito forte da palavra sendo ouvida né? Então agente faz esses recitais e também momentos como o que fizemos aqui em São Vicente na Escola Coronel João Francisco que é tanto oficina quanto palestra para seu lado do lazer e também da formação.

Cuca Livre: Atualmente os artistas populares estão recebendo certo destaque no meio cultural. Porém, inúmeras vezes percebemos principalmente nos interiores do país uma não valorização também dessa cultura, os artistas populares apenas abrem os shows das bandas comercialmente visíveis. Como é que você encara esse fator?

Honório: Esse é um problema que nos veio através da indústria cultural da cultura de massa em que só quem faz parte dessa mídia e que toca na rádio, quem passa na TV é quem tem espaço. Infelizmente, isso, termina sendo uma regra onde os artistas populares ficam em segundo plano em alguns locais, isso, tem recebido uma reação boa, inclusive em recife é um pólo de produção cultural em relação à música que tem uma relação principalmente com o ícone Chico Science que ai abre parte para o maracatu e para outras expressões maracatu rural, a ciranda e por ai vai.

Nós poetas de cordel sentimos isso também e se o artista popular em geral é colocado em segundo plano o poeta ai é que ele não encontra vez mesmo. E tem uma outra coisa, esses grupos, esses artistas são verdadeiras empresas que trabalham ai com empresários terminam sendo um sistema capitalista, onde você vende disco ai faz mais shows e ai termina sendo as mesmas pessoas, fazendo as mesmas festas em todos os lugares e ai perde a característica da identidade local. Né? Então uma festa que aqui em São Vicente vai ser mesma lá em Carpina e a mesma lá no sertão da Petrolina por exemplo, as pessoas tocando as mesmas músicas, as bailarinas fazendo as mesmas coreografias que não são as tradicionais aquelas exportadas lá da Bahia e por ai vai. Né? Então, existe graças a Deus uma reação as pessoas não têm um espaço oficial, mas vão cavando um espaço, vão cutucando, vão incomodando e graças a Deus existe uma renovação. Agente percebeu isso no maracatu e outros grupos tradicionais de renovação e no cordel agente ta vendo pessoas de 18, 20 anos escrevendo, declamando e se lançando ai como poeta, assim, com muita garra e resistência. Então nem tudo está perdido.

Cuca Livre: Ainda com relação à música na atualidade como você analisa a decadência poética das letras claramente visível na maioria das composições das bandas do Nordeste, principalmente essa coisa do forró metalizado, dessa enxurrada agora que é o brega essa coisa da decadência poética, não existe mais aquela preocupação de você lapidar a palavra pra de repente ela ser cantada e ela ser interpretada como é que você analisa isso?

Honório: Mas uma vez, esse fenômeno é balizado pela indústria do consumo, ou seja, se é um filão quer dizer, vamos colocar ai o brega mesmo. Se um determinado tipo de música vende aí as pessoas começam a reproduzir aquele mesmo modelo e o que menos interessa pra eles pra esse tipo de música é letra, o que interessa é simplesmente o ritmo o lazer pra quem ta a fim de dançar a fim de tirar onda e por ai vai. Então, foi isso com o Axé Music, com a música Sertaneja e com o pagode então, existe um modelo, eu costumo até fazer uma referência, você tira essa música que está sendo tocada por uma banda de forró mentalizado, essa mesma música facilmente adaptada para ser tocada por um grupo de pagode ou por uma dupla sertaneja por que é aquela questão do amoroso, a briga no sei o que lá mais né? Novamente a paixão as rimas, paixão, coração e tesão (risos) pronto. Né? E ai se engloba. (risos) Então, ai quando uma faz sucesso começa os imitadores reproduzindo e reproduzindo e fica uma coisa caótica e perde-se a qualidade, mas, isso, acontece também com os grupos tradicionais. Você pega um forró pé-de-serra; temos os ícones de grandes representações ai você vai ter aquelas pessoas que vão copiar modelo que não traz nada de criativo e que faz a música fácil. Simplesmente para ganhar dinheiro ou sem compromisso cultural. Agora que é realmente deplorável o nível desse tipo de música, mas, mais uma vez é o modelo e agente tem que trabalhar com modelo diferentes desse tipo de música a letra não fica nem em segundo plano ficaria em último plano o que importa é criar um clima de agarramento de sedução, de lazer o que for por ai...

Cuca Livre: Como você ver o notável descaso político com relação à cultura como um todo, a idéia de cultura não dá voto? Como você ver a questão desse descaso político com a cultura tão rica que é o Brasil, essa coisa da miscigenação enfim, e que hoje não é tão aproveitado dentro da política dentro do sentido de que a política ainda é a coisa que permeia os outros níveis. Inclusive o cultural?

Honório: Sem dúvida a cultura. Sempre esteve relegada ao segundo plano. O orçamento irrisório que é destinado a cultura é a grande prova disso. Mas, agente tem visto reação por ai. Por exemplo, o ministro da cultura, ação de Gilberto Gil, o próprio governo Lula que agora fez o pacto da cultura também. Então, a gente tem alguns exemplos de reação contra isso. É a valorização sobre as expressões populares, mas isso passa também pelos setores organizados, ou seja, os artistas populares eles não cobram muito isso não; tem muita aquela coisa, do artista em espontâneo, sem muita consciência, e ai uma outra coisa é a política do pão e circo. Você lembra do artista local na hora da festa lá no comício. Jessier fala muito bem isso em comício de beco estreito. No comício você tinha o showmício, né? Pra atrair o povo. Terminada a eleição as pessoas, assim... Ai você tem as festas tradicionais que eram grandes, palcos para os artistas locais, o carnaval, o São João, natal por exemplo, que tem pastoril e cada local você tinha uma expressão dele. Os bois de Timbaúba, Surubim, você tem o maracatu na zona da mata como um todo. Hoje, o carnaval é mais uma vez aquele mesmo formato, né? As bandas tocando de noite, uma ou outra orquestra de frevo trabalhando. Continua com descaso a gente tem alguns exemplos de governos que estão comprometidos com a cultura. A gente tem por exemplo, que eu conheço o governo João Paulo lá no Recife com o carnaval muticultural, que deu um outro formato, mostrou que é possível você fazer uma festa de qualidade, que seduza o povo com outro formato que não é esse ai pasteurizado que chegou da Bahia. A primeira capital brasileira da cultural foi Olinda, mas não dar o estímulo que tem esse título. Então, realmente é preciso se fazer muito, né? Mas, cabe a nós artistas cobrarmos, estarmos presentes, e fazer valer o nosso papel.

Cuca Livre: Ainda sobre política. Estamos vivendo num país que à crise na ética tem se aprofundado constantemente. Você apontaria que caminhos para conquista dessa ética na política?

Honório: Eu, acho que primeiro passa muito pela auto-estima do povo e arte. A cultura têm grande importância nisso. Agente ver, as instituições sendo desvalorizadas perdendo suas referências. Então, acredito que o grande passo, é primeiro agente se sentir bem como gente, como povo, como brasileiro, como nordestino. A partir do momento que agente tem essa consciência ai passa também a conscientizar. Esse evento que agente está tendo aqui mesmo a Jornada Pedagógica é um momento de trazer pessoas que tem certa formação que pensam que refletem sobre um determinado assunto e trazer para os jovens, pois agente tem que apostar nesses jovens também. Temos ai muita violência, dificuldades econômicas e financeiras, mas agente o brasileiro tem como profissão esperança. Então, nós temos esperança, mas, não de esperar acontecer, e sim, fazer acontecer, como disse Geraldo Vandré. Sou muito otimista. Acho que cada passo que agente dar sirva pra mostrar as pessoas que existem oportunidades, existem possibilidades de esperança existem coisas boas para serem feitas. A músicas, o cordel, a dança e outras expressões; a capoeira, os esportes são importantes nisso. Mas, a gente tem que despertar também pra a consciência da cidadania e de cobrar também o que tem de responsável pela posição desse país. Não adianta eu simplesmente fazer uma campanha de meio ambiente e estar jogando o lixo fora do cesto. Muitas vezes isso acontece, a prática é uma e o discurso é outro. E ai vem a questão da ética que você falou. Tenho que ser ético na minha casa, escola e na rua, pra puder cobrar que os políticos também tenham ética. Até por que se os políticos estão lá é por que nós colocamos. Nós temos responsabilidades até nesse momento importante por que o eleitor, ele saiba escolher os seus representantes.

Cuca Livre: E quais os caminhos para educação?

Honório: Educação? Primeiro é uma pergunta que a gente não vai encontrar uma resposta toda. Mas, eu acho que o grande caminho é você valorizar o ser humano, como indivíduo mesmo. Apostar na capacidade dessas pessoas de realizarem de surpreender mesmo, e você principalmente dar a condição de dignidade. Eu acho que não dar pra se pensar em educar, sem as pessoas estar bem alimentada, sem saúde, sem a pessoa estar com a condição psicológica de até trabalhar aquelas informações. Então, passa por questões econômicas, sociais de saúde pública. Eu acredito que se a gente conseguir essa dignidade a gente vai conseguir um grande avanço pra educação.

Cuca Livre: Que vias poderiam ser usadas para valorização do artista popular muitas vezes esquecido pelas próprias instituições de órgãos culturais; o embalador de coco, o cordelista, o poeta popular, enfim, que está ali, que existe, mas, que está esquecido pelas instituições culturais?

Honório: Pois é, o primeiro ponto é a gente fazer com que se criem momentos de que essas pessoas apareçam. E ai a sociedade civil pode colaborar com isso. Mostrar para o poder público que aquilo ali estar acontecendo. As ONGs, as escolas principalmente ela tem esse papel de ser um elemento que detone esse processo e a gente ver isso em alguns momentos. Um exemplo, voltando a Chico Science o maracatu é uma instituição, era uma manifestação que estava em declínio. A partir do momento em que Chico Science colocou um tambor no maracatu alfaia na música dele. Já despertou o interesse dos jovens. Olha existe uma coisa, da onde ta vindo esse som ? É do maracatu. E ai vai Chico Science vai e coloca Mestre Salustiano no palco também. Então uma ação que surgiu da própria sociedade e que hoje já recebe o apoio das instituições. Então acredito que os artistas as pessoas que tem consciência, formadores de opinião, comunicadores, tem um papel importante de mostrar principalmente desses artistas que estão na comunidade. Por que os artistas populares que já conseguiram uma certa visibilidade, eles já conseguem gravar um Cd, eles já conseguem aparecer em um programa de televisão mesmo num horário em que ninguém ta vendo lá pra depois de meia noite, uma hora, ou bem cedinho de seis horas da manhã, mas eles já estão tendo espaço. Mas, o artista que mora aqui, lá em Siriji, que mora na Chã do Esquecido, Edy Carlos que é daqui e que tá lá em Olinda. Será que as pessoas daqui conhecem Edy Carlos. Mané de Teté que também é da região. Então é preciso se criar momentos para que essas pessoas sejam vistas de forma digna, por que as vezes você abre espaço, mas coloca num espaço inconveniente onde as pessoas já estão indo embora ou antes da festa começar. Eu já vi isso em várias cidades você dar um cachê fabuloso pra uma banda que vem de fora e quer que o artista popular se apresente de graça em troca de estar abrindo espaço pra ele, de uma forma ridícula até.

Bate Bola

Cuca Livre: O mundo?

Honório: o mundo... é a vida.

Cuca Livre: As pessoas?

Honório: As pessoas... são sempre um desafio.

Cuca Livre: Uma tristeza?

Honório: A falta de espaço

Cuca Livre: Uma Alegria?

Honório: Alegria... a poesia

Cuca Livre: Uma possibilidade

Honório: uma possibilidade? É... o sucesso das pessoas e a vida sempre presente.

Cuca Livre: Uma Palavra?

Honório: Amor

Cuca Livre: Uma Frase?

Honório: vou dizer um verso. Tudo passa na vida, tudo passa, tudo o que passa na vida a gente esquece.

Cuca livre: Um gesto?

Honório: Um gesto... de paz

Cuca Livre: Um sonho?

Honório: Esse mundo lindo ficar mais lindo ainda, sem guerra, sem fome e sem dor.

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