Sejam Bem vindos

Caros amigos sejam bem vindos ao Blog Cuca Livre Um Jeito Diferente de Pensar. Aqui você pode ler, refletir, através do senso crítico opinar e também expor suas idéias.

A Direção Cuca Livre agradece sua visita ao blog!

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Brasil Mostra Tua Cara

A família: o melhor modelo pra sociedade?!...


Na semana passada após ter terminado as aulas na escola onde trabalho (Cel. João Francisco), a tarde resolvi pegar o ônibus que leva os estudantes da Chã do Esquecido, na intenção de diminuir os meus passos até a minha casa. Pretendia ficar na Praça Pedro Pereira Guedes, no entanto, um episódio inusitado mudou o meu percurso. Era uma criança de aproximadamente 11 anos de idade, completamente embriagada.

Pensei que estivesse tonto por conta de uma queda, ou algo parecido, no entanto, ele estava completamente embriagado, e não conseguia ficar sentado na poltrona do ônibus que se locomovia. De repente ele colocou a cabeça fora da janela do ônibus e vomitou. As pessoas da rua olhavam com uma expressão de negação diante da cena, e eu comecei a ficar perturbado. Então, dirigi-me até o motorista e pedi-lhe pra que parássemos no hospital na intenção de que fosse lhe dado algum socorro.

O motorista sem exitar parou o ônibus e caminhamos até o hospital. Fizemos sua ficha e aguardamos a consulta. O médico conversou pouco com ele, por conta das suas condições de lucidez. Perguntou quem havia dado bebida pra ele, e respondeu que alguns garotos que faziam moto-táxi na cidade. E, em seguida o médico solicitou que a enfermeira colocasse o menino no soro.

Então lembrei do Conselho Tutelar de nossa cidade. Procurei imediatamente uma moto e fui até a casa de um dos conselheiros a fim de que resolvesse aquela situação. Dirigi-me a casa do irmão Nado, o qual me recebeu com muita atenção e, após contar-lhe o acontecido resolveu averiguar com os seus próprios olhos.

Ao chegar no hospital não deu pra não se compadecer da situação da criança embriagada, com uma parte das costas arranhada, quase que inconsciente, próximo ao lixeiro, com ânsia de vômito, dores no estômago e segurada pelo braço por sua colega.

O médico deu o laudo e permitiu que a ficha fosse xerocada para que pudesse ser levada até a delegacia de polícia.

Fomos até o destacamento da polícia civil que se encontrava fechado, por conseguinte, ao destacamento da polícia militar que não estava com condições de assistir o caso, por conta do pequeno número presente de policiais, de carro, etc.

Nesse último, no destacamento da polícia militar, nada me tocou mais do que a fala de um dos PMs que naquele dia estava de plantão. Lembro-”me com todas as letras e sons: “O BRASIL NÃO TEM MAIS JEITO”; AS LEIS NÃO FUNCIONAM NO PAÍS”. Só sei que disse imediatamente ao policial: -“MAS, TEMOS QUE FAZER A NOSSA PARTE”.

Achei engraçada a situação e por alguns instantes sorri, mas com um riso recheado de revolta e preocupação. Como podia uma pessoa que representa a lei dizer tal coisa. Estaríamos realmente vivendo o caos social?

Em seguida nos dirigimos a casa do delegado da polícia civil que nos recebeu com muito entusiasmo, mas que também preferiu resolver o caso no dia seguinte.

Tiramos a xérox da ficha de entrada do garoto no hospital e em seguida fomos pra casa. Na volta ficamos conversando sobre a menina que estava lá no hospital com o menino. O que deveríamos fazer para que a sua família não ficasse preocupada?

Tomei café rapidamente e desci até o hospital para ver como estava o garoto, no entanto, os familiares dele e da menina já estavam lá. Fiquei muito feliz pela notícia, e falei com um dos parentes da jovem que havia ficado com o garoto no hospital da importância de identificar os responsáveis pelo acontecido, de fato não poderíamos deixar tal situação passar despercebida.

No dia seguinte, ao vir da escola, encontrei com o pessoal do conselho tutelar e me falaram que a família compareceria naquela manhã às 9:30h para fazer uma apuração dos fatos e assim tomar medidas mais eficazes em relação ao acontecido.

Soube que foram muitas versões nos depoimentos diante do conselho tutelar, depoimentos tão contraditórios, que em alguns casos foram cômicos. Todavia, foi na apuração dos fatos que se aproximou dos fatores contribuintes no consumo de bebidas alcoólicas pelo garoto.

O pai do garoto trabalha o dia inteiro na agricultura e não tem tempo necessário para o acompanhamento do crescimento do filho. A mãe costuma consumir bebidas alcoólicas o que estimula o consumo por parte do adolescente que tem os pais como sustentáculo ideológico e econômico.

Não acredito que esses fatores sejam determinantes em quaisquer circunstâncias, todavia, contribuintes. Mas, se o indivíduo não tiver uma base muito sólida certamente cederá sempre aos encantos manifestados pela oferta. A base precisa ser constituída por atenção familiar, respeito entre seus componentes, condições de sobrevivência, dentre outros, como também, comprometimento por parte das autoridades responsáveis pela efetivação das leis brasileiras, e de cidadãos que estejam interessados em ajudar a combater as imprudências manifestadas por motivos diversos.

Dedico este texto a todos os policiais que com muito afinco se lançaram à preservação do patrimônio humano com princípios éticos e morais.

Escrito por: Daniel Ferreira

Professor de História e especialista em História do Nordeste

E-mail: prof_daniel.al@hotmail.com

PS.:CAROS LEITORES CUCAS PEDIMOS DESCULPAS POR NÃO TERMOS POSTADO NO BLOG O TEXTO DE POLITICA DO MÊS, QUE DEVERIA ESTÁ NA COLUNA BRASIL MOSTRA TUA CARA. DESDE JÁ O PUBLICAMOS E MAIS UMA VEZ PEDIMOS DESCULPAS.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Atenção!


A Direção


Cuca de setembro.


A cada mês a alegria é intensificada, os impasses que normalmente acontecem em tudo, simplesmente é mais uma força motriz para impulsionar nosso carinho e vontade de andar para frente com essa nossa cria.

A receptividade do jornal anterior superou as expectativas. Esse mês, através da internet, tivemos o maior numero de comentários até então, de gente das mais diversas partes do país como das mais diversas formações. Expor idéias é também correr riscos, mas encaramos o confronto de opiniões, argumentos e criticas como elementos de base para qualquer construção.

O prazer de fazer os textos, de entrevistar, de arrumar e de atender as opiniões é uma das melhores partes do trabalho, sem falar quando sabemos que o cuca despertou o senso critico, levou à reflexão, tocou inteligências, aflorou sensibilidades. Ficamos impressionados como através de um texto se demonstra além de idéias, personalidades. Alguns comentários de pessoas que nem conhecemos, refletiram o quanto fica claro o vinculo de amizade, cumplicidade e companheirismo que existe na Direção, e isso só nos dá mais forças.

Estamos felizes porque ganhamos mais um camarada que nos ajudou sempre, desde a “gestação” do jornal, com contribuição concreta no trabalho como também com suas ricas sugestões. Agora ele é nosso Chargista oficial da PUBLICIDÉIA, nosso amigo e irmão Carlos Jefté (Dudu Angel) que inaugura seu trabalho nesta edição. Ganhamos também nossos comaradinhas, Felipe e Alceu que ajuda nas entregas do Cuca.

Contamos esse mês com uma coluna nova (Balanço Legislativo) que constará do balanço mensal dos principais acontecimentos e decisões tomadas pela Câmara Municipal. Os vereadores receberam nossa direção e concordaram em unanimidade que no final de cada mês, fizéssemos através do livro de atas um apanhado do que está acontecendo na casa legislativa. Os leitores podem e devem deixar no Blog suas criticas, apelos, sugestões também aos vereadores, que no final de cada mês, a Direção buscará as respostas.

No Jornal do Mês passado, publicamos uma cobrança da leitora Maria de Fátima Siqueira que exigia da prefeitura municipal uma resposta quanto ao concurso público, tão prometido, quanto obrigatório. Isso não é uma duvida só desta cidadã, como também de muitos munícipes. Maria de Fátima, infelizmente, até agora a prefeitura deu o silêncio por resposta. Dizer que não conhece o jornal é mentira.

Nunca é tarde para cobrar de novo, vamos publicar mais uma vez seu comentário na coluna do leitor e vamos pessoalmente (a Diretoria) doar um exemplar à Prefeitura, para que através do site, respondam sua questão, ou então, fiquem à mercê do julgamento público.

Nosso leitores são nossos maiores impulsionadores. Leiam, pensem, elogiem, critiquem. Liberdade é conquista. Pensar é causar!

A Direção: Daniel, Carlos, Josias e Kleber.

Um Deseenho

Os Filhos Deste Solo


Era fácil ver aquela figura baixinha, cabelos brancos, roupa bem engomada, no anexo da prefeitura velha, entre livros antigos do arquivo, a bandeira nacional e uma velha máquina de datilografia, mandar rapazes da zona rural voltar para casa para botar uma calça comprida e só assim fazer o alistamento militar: - Pode voltar pra casa e botar uma roupa!

- Mas seu João, eu sou de Cana Brava!

As colegas de trabalho diziam: - João, deixa só essa vez, o coitado, voltar aquilo tudinho.

- Não, num tem conversa não! É por isso que esse país não anda!

Era um funcionário corretíssimo, querido pelos colegas de trabalho que o chamavam carinhosamente de “bagaço”. Era uma figura tão doce, que quando eu era criança me perguntava: - E aí, vai passar nos estudos?

- Acho que vou seu João.

- Se passar, no fim do ano venha aqui que eu lhe dou uma garrafa de cocada.

E eu, inocente ia, mas a garrafa ficava sempre para o outro ano e se passasse de novo na escola, só depois é que percebi que cocada não se vende em garrafas, mas estudo é para sempre.


João Lino Nepomuceno – Funcionário público honesto, um patriota, um vicentino.


João Lino Nepomuceno, nasceu em 31 de março de 1911, na antiga Rua do Rosário ou ruinha como era conhecida a atual Rua Alcedos Marrocos. Filho de Josefa Maria da Conceição, conhecida por Josefa Lino. Em seus escritos, João Lino não cita o nome do seu pai, como também nunca o revelou a seus filhos, foi criado apenas pela mãe. Talvez seu pai fosse uma figura importante ou mesmo ele não o reconhecesse como tal por tê-lo abandonado.

Sua infância foi marcada pelo trabalho para ajudar a mãe, como colocou em texto: “Fui criado trabalhando, vendi bicho, apanhei café. Quantas saudades tenho do meu antigo São Vicente, com suas pequeninas ruas (...) era um paraíso onde se vivia a vida, à noite os velhos sinos da igreja, quebrando o silencio da noite com suas nove badaladas, o som estridente da turbina do Major Filomeno, empregada no beneficiamento do café. Era uma alegria para a garotada tomar banho no rio com suas águas limpas, sem poluição, o som do escape do motor de seu João Araújo, que fornecia energia elétrica para nossa pequena vila, cinema mudo, depois falado, o famoso banho do Fundo da Mala, hoje abandonado pelos poderes públicos, que não tem visão do que é belo (...) este foi o São Vicente que conheci e tenho saudades, onde hoje ainda existe o velho sobrado do velho Chico Padeiro, com suas velhas portas cheias de buracos de bala disparadas pelo sargento Bode Rôco, que dormia no térreo do sobrado, quando um gaiato bateu a porta e disse que era o famoso cangaceiro Antonio Silvino”.

Em meio ao trabalho, conseguia tempo para estudar, estudou em escola pública, pertencente ao Município de Timbaúba, apenas o primário incompleto, escola regida pelo professor José Elói Pereira Lima, ensino tradicional, ainda com palmatória, mas deixou claro que devia tudo que sabia a esse mestre. Quando bem moço foi oficial de alfaiate do Mestre Brito, depois auxiliou o saudoso Mestre Patrício Gomes de Andrade.

“Em 1928, o Coronel João Francisco, com suas influências políticas com o governador de Pernambuco Dr. Estácio Coimbra, conseguiu a criação do Município de São Vicente, foi uma grande festa, veio da Paraíba o Dr. Belino como orador, por ser de famílias ilustres de São Vicente. Pouco tempo depois, o cenário brasileiro entra em ebulição com as disputas entre Perrepistas (Partido tradicional ligado ao pacto café com leite) e Liberais (adeptos da Aliança Liberal) e tudo isso descambará na “Revolução de 30”. João Lino retratou textualmente a revolução aqui: “Nossa cidade foi ocupada pelas forças revolucionárias do Capitão João Guedes. A prefeitura era instalada na Rua do Comércio, hoje Rua João Pessoa, onde antes era a loja de tecidos Lupércio de Moura “A VIOLETA”, quebraram o retrato do prefeito e vice e dos conselheiros e tudo quanto existia nos cofres desapareceu”. Passada a revolução, Getulio Vargas é empossado presidente do país.

Revoltado com Getúlio, ainda bem jovem, João Lino filiou-se ao Partido Integralista (uma versão abrasileirada do Nazi-Fascismo), ele coloca em texto: “Na política não tive sorte, o primeiro partido que ingressei foi o INTEGRALISMO, éramos conhecidos por camisas verdes, dado seu crescimento, foi extinto em 1938, pelo ditador Getúlio Vargas, como mentiras e calúnias”.

João Lino escreveu sobre os resultados da revolução aqui: “Começou as intrigas políticas que resultou na morte do chefe político da Aliança Liberal, aproveitando a situação de medo dos dirigentes do município, ajudados por elementos da terra, conseguiram fazer a transferência da sede do município de São Vicente Férrer para a vila de Macapá até 1936 (...) São Vicente perdeu sua autonomia, ficando Macapá com o nome de Macaparana e São Vicente como Vila Manoel Borba, obras do escritor Mário Melo, nossa vila ganhou esse prêmio de consolação.

Em fins da década de 1940, início dos anos 50, o deputado estadual Pio Genésio Guerra, lutou ardorosamente pela emancipação do município, até que em 30 de dezembro de 1953, viu seu projeto aprovado pela Lei 1818, no governo de Etelvino Lins. Aqui em São Vicente, a prefeitura foi instalada na Rua 24 de outubro em 26 de julho de 1954, e nomeado Benigno de Moura, seu primeiro prefeito.

Seu João Lino relata sua convocação para compor o primeiro quadro de funcionários municipais: “Aos 25 do mês de julho do ano de 1954, estava eu dando acabamento nas peças de roupa que acabara de confeccionar, quando apareceu o cidadão Benigno de Moura, que se mostrava como um grande amigo meu, assim provou, me convidando para compor o seu quadro de funcionários na prefeitura, aceitei na hora, tomei posse no dia 1 de agosto como porteiro – arquivista. Era uma repartição pobre e humilde como seus funcionários. Emoção senti quando peguei a caneta para assinar o meu termo de posse e a repetição das palavras do meu termo de compromisso, sabendo que naquela hora já não era mais o mesmo João sem responsabilidade, tinha assumido um compromisso, e haveria de cumpri-lo até o fim (...) recebia das mãos do prefeito a chave da repartição, de zelar por tudo que existia: duas mesas velhas, dois bancos velhos e desconchavados, cinco cadeiras de vime velhas, uma máquina de escrever caindo aos pedaços que veio de Macaparana como prêmio pelos 23 anos de exploração de impostos pagos por esta gente sofrida que a nada tinha direito”.

Em seus escritos, quando relata os primeiros anos de serviço, João Lino, coloca-os como os melhores tempos, o companheirismo dos colegas, a honestidade dos governantes. Seu desencanto começou a partir da terceira gestão como o próprio descreveu: “Eleito o Sr. Sandoval Maranhão do Egito, começou as perseguições políticas, demissões e roubismo, como consta no arquivo da prefeitura. Foram contratadas mais sete funcionários (...) são Vicente até a presente data (1987) foi governado por dois prefeitos vicentinos, Benigno de Moura e Dr. Laete Ribeiro do Egito, o resto foi uma feijoada exportada”.

Continua: “Ser prefeito hoje é uma maravilha, tem de tudo, carros (para) e outras mordomias, ainda hoje me lembro do saudoso prefeito José Gomes de Andrade quando terminou a construção da prefeitura, que se arrumou o gabinete do prefeito e ele rejeitou na hora, dizendo que não ia despachar no gabinete, e sim, junto dos funcionários que adorava e com ele eram sinceros. Ser um funcionário da prefeitura hoje é desfrutar a galinha dos ovos de ouro, não passaram o que os primeiros funcionários passaram (...) calados dentro da prefeitura, assumindo inquérito policial, sem nada ter a haver com as denúncias, momentos até de choro, cofres e portas seladas, tudo na base de ver, ouvir e calar, pois não se podia conversar”.

Os últimos momentos da vida desse vicentino foi sentir sua condição existencial: “Asco é o que sinto quando chego a esta repartição e me lembro de anos atrás, era todos por um e um por todos, não havia cochichos, não se tratava de política, mais hoje mudou e mudou muito, os funcionários hoje vivem como na antiga Roma, querendo se degladiar (...) Não vale a pena ser desonesto e adquirir bens materiais, enquanto está sujo diante daquele que te botou no mundo (...) Ingratidão é a irmã gêmea da injustiça, esquecem que a prefeitura cresceu com os esforços de seus primeiros funcionários, que lhes deram sua juventude, que acabou com suas saúdes, aqueles que assim fizeram, continuam pobres, não dá graça de Deus, vivem mergulhados na solidão, mas tem a honra de baterem no peito e dizerem: Fui honesto, apesar da honestidade não servir de exemplo para os homens (...) hoje aposentados pelas Leis feitas pelos homens, os direitos dados pelos homens, um salário de fome, o que mais me revolta é o desprezo, a falta de atenção, vivemos como boi de cambão, quando não presta mais, açougue ou recanto de cercado, estes são os prêmios para aqueles que se esforçaram em serviço público: Desprezo, injustiça e ingratidão”.

Ainda em seu rico texto, seu João nos mostra o desencanto com vida social: “O meu São Vicente antigo era outro, podia chegar uma pessoa de fora, tinha com quem conversar, dialogar, antes encontrava-se: Seu Fraterno de Arruda, Major Filomeno, Nestor de Moura, José Targino de Andrade, Augusto de Andrade, Bernardo do Egito, João Inojosa, hoje se encontra um povo sem inspiração, os jovens que são a esperança do amanhã, vivem todos viciados”.

Seu João Lino viveu a vida modestamente em sua pequena casa da Rua Alcedo Marrocos, teve 10 filhos com sua esposa Quitéria da Silva Nepomuceno, deu educação aos filhos e de todos recebeu carinho e atenção até seus últimos momentos de vida. Em meio a tudo que sentia, era uma figura muito alegre, divertido em suas conversas e muito atencioso a todos. Com 89 anos, no dia 14 de setembro de 2000, seu João nos deixou, mas o seu exemplo, nos mostra que honestidade não é uma utopia.

Em meio a tudo que deixou escrito, faz sua reflexão pessoal e dá o recado aos homens:

“Se houvesse honestidade entre os homens e um pouco de compreensão, o mundo seria outro, se os povos se dessem as mãos não só na igreja, tenho a pura certeza que nós tínhamos um mundo melhor”.

Escrito por: Kleber Henrique

Professor de História

E-mail: prof_kleber_henrique@hotmail.com

P.S.: agradeço imensamente aos filhos do senhor João Lino, em especial a Adnise Nepomuceno, minha velha amiga, que me cedeu os textos deixados pelo pai, um vicentino amante de sua terra, um trabalhador do Brasil.

Eu No Tempo!

A sensibilidade do homem para perceber a verdade na criança.


“Algumas pessoas acham que o artista tem que rir tem que encher o vídeo de dentes. Não tenho a menor pretensão de ser coerente. Além do mais, sou feio. E faço letras claras que às vezes, as pessoas demoram a sacar”. (Gonzaguinha).

O cuca chega a sua 4ª edição, passamos por muitas dificuldades até chegar a publicar, recebemos várias cobranças, criticas construtivas com relação à ansiedade dos leitores e tal, tudo isso é muito bom, assim sabemos e nos sentimos felizes em saber que o jornal ta caindo no gosto dos leitores “que também tem cucas livres”.

Escrever pra o jornal é inexplicável, só quem escreve sente. Nessa 4ª edição, escolhi uma música bastante conhecida, de um compositor também muito conhecido, a música se chama O que é, o que é? Seu compositor Gonzaguinha (Luiz Gonzaga do Nascimento Junior) filho do rei baião e de Odaléia Guedes dos Santos, cantora do Dancing Brasil. Desde o ventre já trazia em suas veias o sangue de um grande poeta popular e de um artista, e em sua alma o canto que iria encantar um povo, uma nação. Gonzaguinha era notável, primeiro por ser filho de Luiz Gonzaga e depois consagrado como compositor e intérprete (gravado por Simone, Nana Caymmi, Fagner, Maria Bethânia e muitos outros). Sua mãe morreu de tuberculose, ainda muito moça com apenas 22 anos, deixando Gonzaguinha órfão aos dois anos, e o pai, não podendo cuidar do menino porque viajava por todo Brasil entregou-o aos padrinhos Dina (Leopoldina de Castro Xavier) e Xavier (Henrique Xavier), o "Baiano do Violão" das calçadas de Copacabana, do pires na zona do mangue, morro de São Carlos, no Estácio, foram eles que o criaram.

As primeiras letras, Gonzaguinha aprendeu numa escola local, mas as verdadeiras lições de vida recebeu pelas ladeiras do morro. Quando garoto, para conseguir algum dinheiro, carregava sacolas na feira e avisava os bicheiros do local, quando da chegada da polícia.
Moleque Luizinho – seu apelido de infância, vivia nas ruas soltando pipas, jogando peladas, bolinha de gudes, pião era uma criança feliz e como tal, sofreu acidentes de infância como as três vezes em que furou o olho esquerdo, fazendo com que perdesse 80% da visão desse olho. No carnaval fugia com Pafúncio, um vendedor de caranguejos que morava nas redondezas e era membro da ala de compositores da Escola de Samba Unidos de São Carlos, a partir daí, o samba estaria definitivamente em sua vida. Gonzaguinha cresceu, entre a malandragem dos moleques de rua e o carinho da madrinha. Do pai, recebeu o nome de certidão, dinheiro para pagar os estudos e algumas visitas esporádicas. Imerso no dia-a-dia atribulado da população, Gonzaguinha ia aprendendo a dureza de uma vida marginal, a injustiça diária vivida por uma parcela da sociedade que não tinha acesso a nada. O aprendizado musical se fez em casa mesmo, ouvindo o padrinho tocar violão e tentando fazer o mesmo. Gonzaguinha ouvia Lupicínio Rodrigues, Jamelão e as músicas de seu pai. Gostava de bolero e era assíduo freqüentador de programas sertanejos. Ouvia também muita música portuguesa, pois D. Dina sua madrinha e mãe adotiva era filha de portugueses e manteve-se ligada às tradições familiares.
Aos catorze anos, Gonzaguinha escrevia sua primeira composição: "Lembranças da Primavera". Pouco mais tarde, compôs "Festa" e "From U.S of Piauí", que seu pai gravaria em 1968 e 1972, respectivamente.

Gonzaguinha seguiu uma linhagem musical totalmente diferente de seu pai. Estudou economia lia todos os jornais e guardava tudo num saco de estopa, ele dizia que esses jornais podiam ajudar nos estudos. Só depois de formado é que ele jogou tudo fora. Trancado no quarto, estudava economia e tocava violão. Quando saía, ia para a praia jogar futebol, sua outra paixão. A vivência da pobreza no Estácio, os problemas familiares e o espírito crítico que possuía, aliados aos estudos na Universidade e ao clima pesado da ditadura militar foram o ambiente onde se desenvolveu um dos mais criativos e inteligentes compositores da MPB contemporânea.

As canções de Gonzaguinha são verdadeiras obras primas, e dessas obras em especial gosto muito dessa “O que é, o que é?”. Ouvi, pela primeira vez à pouco tempo, a uns cinco anos, quando participava de um pequeno grupo de teatro. Lembro-me que Marcelo Faustino, meu amigo e coordenador do grupo, levava a música pra um exercício de relaxamento, e para que pudéssemos refleti-la. Gonzaguinha compôs essa música em meados dos anos 80, a qual foi composta e presenteada a Grande intérprete Maria Bethânia com quem tinha grande afinidade sensitiva e que, segundo algumas línguas, viveram uma história de amor. Inúmeras outras que fez sucesso na voz da intérprete, inclusive as canções mais combativas durante o período militar e até hoje, geralmente seus shows terminam com essa canção. Uma canção que fala sobre a vida, o quanto ela é bela e significativa. Acredito que seu autor, com toda sua carga crítica, sentiu-se inquieto diante do quanto os seres humanos complicam algo tão simples como viver. O quanto a humanidade caminhou para produzir um fenômeno tão nocivo quanto a ganância, que gera as guerras e a fome. Vejo nas calçadas, nas ruas crianças jogadas pedindo esmola pra sobreviver. Passam fome, sentem frio, são marginalizadas, não tem direito a educação, vivem simplesmente largados e sem ninguém. São felizes? Com certeza não, até podem ter alguns minutos felizes: quando ganham uma esmola, um prato de comida, um calçado ou até mesmo um trapinho velho pra se proteger da brisa fria em uma madrugada silenciosa e triste.

Viver e não ter a vergonha de ser feliz... Como é difícil, mas sonhado. A verdade é que vivemos de sonhos, sonhamos em crescer na vida, em ter sorte, sonhamos num amanhã novo, cheio de vida e sem diferenças sociais, mas muitas vezes nos perdemos em tudo isso e limitamos o existir em uma busca obsessiva por se dar bem como se o ter fosse garantia de felicidade plena. Nessa canção, Gonzaguinha faz uma explicação do sentido da vida.

 
“Viver e não ter a vergonha de ser feliz,
Cantar, e cantar, e cantar,
A beleza de ser um eterno aprendiz.
Ah, meu Deus! Eu sei
Que a vida devia ser bem melhor e será,
Mas isso não impede que eu repita:
É bonita, é bonita e é bonita!
 
Como seria entusiasmante se pudéssemos sair cantando sem vergonha a beleza da vida, nos recuamos diante do meio em que vivemos, quantas diferenças, quantos pensamentos diversos. Quantas dificuldades encontramos primeiro em escolher o que queremos pra nossas vidas, temos medo, somos narcisistas, entre tantas outras coisas. Temos vergonha da verdade, e nos firmamos numa sociedade erguida em culpas, hipocrisia e mentiras onde o “socialmente apresentável” é o que importa. Hoje, presenciamos racismo, preconceito, violência e tantas outras mazelas. Tornamos-nos adeptos das coisas que o meio nos impõe e com medo de errar erramos em não ver que somos eternos aprendizes, e esquecemos que em meio às simplicidades é onde encontramos a verdade e a pureza da vida. 
 
“E a vida? E a vida o que é, diga lá, meu irmão?
Ela é a batida de um coração?
Ela é uma doce ilusão?
Mas e a vida? Ela é maravida ou é sofrimento?
Ela é alegria ou lamento?
O que é? O que é, meu irmão?
Há quem diga que a vida da gente é um nada no mundo,
É uma gota, é um tempo
Que nem dá um segundo,
Há quem fale que é um divino mistério profundo,
É um sopro do criador numa atitude repleta de amor.
Você diz que é luta e prazer,
Ele diz que a vida é viver,
Ela diz que melhor é morrer
Pois amada não é, e o verbo é sofrer.
 
O importante no todo, é que a vida é um mistério. E tudo que é misterioso é trágico, cômico, excitante, perigoso. Como animais “racionais”, trazemos em nosso ser a vontade e o desejo de nos conhecer, de derrubar as barreiras que tanto nos fere, que tanto nos amedronta. Pra uns, como Gonzaguinha faz a pergunta: E a Vida?  A vida é definida do ponto de vista de cada momento, do que a pessoa vive, pensa e passa. Ou seja, definimos “A Vida” no fio do que passamos. Se estamos bem a vida é boa, se estamos mal ela é uma desgraça.
 Partindo desse princípio de que cada um define sua vida a partir do que passa, esbarramos no conceito de que somos mesquinhos em limitar algo que é tão maior.
Gonzaguinha morreu aos 46 anos num acidente de trânsito em 1991, mas antes de morrer deixou nesta letra a melhor definição da vida, onde cada um de nós pode viver a vida como quiser. Escolheu como melhor definição para a vida, a resposta das crianças:
 
“Somos nós que fazemos a vida
Como der, ou puder, ou quiser,
Sempre desejada por mais que esteja errada,
Ninguém quer a morte, só saúde e sorte,
E a pergunta roda, e a cabeça agita.
Fico com a pureza das respostas das crianças:
É a vida! É bonita e é bonita!
É a vida! É bonita e é bonita!”
 
Engraçado, a poucos dias quando pensava em escrever para o Jornal, sobre essa música em um encontro etílico, entre muitas conversas, Kleber disse:
 - Josa, porque quando tu for escrever teu texto não pergunta a uma criança o que é a vida?
- Eu falei: Poxa! nego que idéia da porra! Vou perguntar a Nega (Beatriz) o que é a vida pra ela.
Assim eu fiz,sabe qual a resposta: 
- A vida é bom!!!!! (E riu).
Nesse momento, entendi a pureza que Gonzaguinha expressava em sua letra. Ele percebeu com seu lado sensível que a resposta de uma criança era a verdadeira face da vida. Ela não tinha medo de falar a verdade, ainda não concebeu ao todo os padrões ditados, portanto está mais perto da essência. 
 
 
Escrito por: Josias Albino
Técnico em Informática e Funcionário da rede privada de Educação.
E-mail: josiasbad@hotmail.com

A Luta de Cada Um!


"tão valente quanto honesta senhora".

Aristides Milton

"Maria de Jesus é iletrada, mas viva. Tem inteligência clara e percepção aguda. Penso que, se a educassem, ela se tornaria uma personalidade notável. Nada se observa de masculino nos seus modos, antes os possui gentis e amáveis." (Journal of a voyage to Brazil)

Maria Graham

Fragilidade, só na tua cabeça.

Ao realizar um resgate sobre a presença das mulheres na história, com o trabalho biográfico percebe-se que a figura do feminino “é discutida por meio de um sujeito que não é o que a representa, mas sim outro sujeito: o sujeito masculino. Que se apresenta sempre como o líder, o inteligente, forte, responsável pelas tarefas mais importantes, o centro.

Na mitologia grega encontramos uma presença muito forte da figura feminina através das deusas Ártemis, Atena, Afrodite, Deméter, Hera, Perséfone, Pandora e Gaia. Mesmo que a inteligência e o pensamento sejam representados pela deusa Minerva (versão latina da deusa Atena), é importante frisar, que esta nasce não do corpo de sua mãe, mas da cabeça de seu pai, Zeus. Este caso demonstra, desde o princípio, a desvalorização da mulher.

Embora a mulher tenha sido desprezada na história, o tema “mulher” não pode ser deixado de ser discutido. Fantasmas de homens extremamente preconceituosos ainda assombram a história da mulher em nosso país. É preciso exorcizar a nossa história, retirar esses espécimes e incrementar a essência de Maria Quitéria em cada um dos brasileiros.

Maria Quitéria nasceu no sítio do Licurizeiro, uma pequena propriedade no Arraial de São José das Itapororocas, nas proximidades de Nossa Senhora do Rosário do Porto de Cachoeira, atual município de Feira de Santana no estado da Bahia. A data mais aceita pelos pesquisadores para o seu nascimento é a de 1792. Foi a primeira filha do Sr. Gonçalo Alves de Almeida e da Srª. Quitéria Maria de Jesus.

Em 1803, tendo cerca de dez ou onze anos de idade, perdeu a mãe, assumindo a responsabilidade dos afazeres domésticos e da criação de seus irmãos. Mesmo com o chamado a responsabilidade muito cedo Quitéria teve uma infância mais ou menos feliz, marcada pelas correrias, caçadas de bodoque aos pássaros, cavalgadas em animais em pêlo.

O Sr. Gonçalo, o pai de Quitéria cinco meses após enviuvar, casou-se novamente com Eugênia Maria dos Santos, que não lhe dá filhos e veio a falecer pouco tempo depois. Foi então que a família mudou-se para a fazenda Serra da Agulha.

Na nova residência, o lavrador Gonçalo Alves prospera; ele não era tão rude e desmantelado. Com terras mais produtivas cultiva algodão e cria gado. Mas a vida ainda continuava isolada, a rotina só era quebrada quando passava algum tropeiro que sempre trazia uma notícia, ou quando resolviam ir a missa, a feira e passear por lugares circunvizinhos.

O Sr. Gonçalo casou-se pela terceira vez, com Maria Rosa de Brito, com quem teve mais três filhos. A nova madrasta, nunca concordou com os modos independentes de Maria Quitéria. Eram freqüentes os desentendimentos. Queria colocar um freio à vida independente da menina, que dizia ser endiabrada. Enchia-lhe de trabalhados domésticos.

Nesse período Maria Quitéria já chamava a atenção de muitos admiradores masculinos, no entanto, ela não via muito futuro nos compromissos insinuados. Embora sem uma educação formal, uma vez que à época as escolas eram poucas e restritas aos grandes centros urbanos, Maria Quitéria aprendera a montar, a caçar e a usar armas de fogo, conhecimentos essenciais à época.

Pelos tropeiros chegam as notícias do Levante da Cachoeira. Quitéria encontrava-se noiva quando, entre 1821 e 1822, iniciaram-se na Província da Bahia as agitações contra o domínio de Portugal. Em Janeiro de 1822 transferiram-se para Salvador as tropas portuguesas, sob o comando do General Inácio Madeira de Melo, registrando-se em Fevereiro o martírio de Soror Joana Angélica, no Convento da Lapa, naquela Capital.

Em 25 de junho, a Câmara Municipal da vila de Cachoeira aclamou o Príncipe-regente D. Pedro como "Regente Perpétuo" do Brasil. Por essa razão, em julho, uma canhoneira portuguesa, fundeada na barra do rio Paraguaçu, alvejou Cachoeira, reduto dos independistas baianos. A 6 de setembro, instalou-se na vila o Conselho Interino do Governo da Província, que defendia o movimento pró-independência da Bahia ativamente, enviando emissários a toda a Província em busca de adesões, recursos e voluntários para formação de um "Exército Libertador".

Contra a vontade de seu pai, Maria Quitéria saiu de casa e, com o auxílio do cunhado José Cordeiro de Medeiros e de Teresa Maria sua irmã, cortou os cabelos, vestiu-se como um homem, dirigiu-se à vila de Cachoeira, onde se alistou (sem que ninguém descobrisse sua verdadeira identidade) sob o nome de Medeiros, no Regimento de Artilharia, permanecendo até ser descoberta pelo pai, duas semanas mais tarde como que por acaso.

Defendida pelo Major José Antônio da Silva Castro (avô do poeta Castro Alves, comandante do Batalhão dos Voluntários do Príncipe (popularmente apelidado de "Batalhão dos Periquitos", devido aos punhos e gola de cor verde de seu uniforme), foi incorporada a esta tropa, em virtude de sua facilidade no manejo das armas e de sua reconhecida disciplina militar. Após se revelar como mulher solicitou que fosse acrescentado ao seu uniforme um saiote à escocesa.

A 29 de outubro seguiu com o seu Batalhão para participar da defesa da ilha de Maré e, logo depois, para Conceição, Pituba e Itapoã, integrando a Primeira Divisão de Direita. Em fevereiro de 1823, participou com bravura do combate da Pituba, quando atacou uma trincheira inimiga, onde fez vários prisioneiros portugueses (dois, segundo alguns autores), escoltando-os, sozinha, ao acampamento.

Em 31 de março, no posto de Cadete, recebeu, por ordem do Conselho Interino da Província, uma espada e seus acessórios.

Finalmente, a 2 de julho de 1823, quando o "Exército Libertador" entrou em triunfo na cidade do Salvador, Maria Quitéria foi saudada e homenageada pela população em festa. O governo da Província dera-lhe o direito de portar espada. Na condição de Cadete, envergava uniforme de cor azul, com saiote, além de capacete com penacho e com o seguinte pronunciamento:

"Querendo conceder a D. Maria Quitéria de Jesus o distintivo que assinala os Serviços Militares que com denodo raro, entre as mais do seu sexo, prestara à Causa da Independência deste Império, na porfiosa restauração da Capital da Bahia, hei de permitir-lhe o uso da insígnia de Cavaleiro da Ordem Imperial do Cruzeiro".

Quitéria agora era uma Mulher feita, legalmente emancipada, sabendo bem o que quer, Maria Quitéria consumia-se de amor pela Pátria prestes a nascer. Assumindo a sua condição feminina, livra-se, por fim, dos constrangimentos da simulação. É, doravante, o soldado Medeiros, nome com que se apresentara à tropa. Os milicianos, a princípio ousados, aprendem a respeitá-la. Por baixo, aquele soldado de voz macia veste saias, mas é homem, na coragem, no trato, no companheirismo. Quitéria torna-se exemplo e, mais que isso, mascote da tropa interiorana de resistência.

Segundo Hélio Pólvora no seu recente livro intitulado “A Guerra dos Foguetões Machos”, lançado em Portugal, mesmo depois de Quitéria ter lutado tão bravamente pelo seu país, conseguido derrotar os portugueses e manifestado sua força e coragem, ainda tinha receio pra voltar a sua parentela.

Foi então que em ocasião de uma cerimônia de sua condecoração que aproveitou a oportunidade para que o imperador intercedesse pelo perdão de seu pai, pois como a mesma disse: -“Fui desobediente”.

Com a carta de recomendação do punho do próprio imperador Quitéria retornou a sua terra. Ao ser avistada pelo pai e por sua madrasta foi imediatamente recriminada, todavia, permitiu-lhes que antes de qualquer falatório lessem a carta que trazia.

Os olhos do pai se encheram de lágrimas e o peito de satisfação ao ver as letras do próprio imperador intercedendo por sua filha Quitéria.

Perdoada pelo pai, Maria Quitéria casou-se com o lavrador Gabriel Pereira de Brito, o antigo namorado, com quem teve uma filha, Luísa Maria da Conceição.

Viúva, mudou-se para Feira de Santana em 1835, onde tentou receber a parte que lhe cabia na herança pelo falecimento do pai no ano anterior. Desistindo do inventário, devido à morosidade da Justiça, mudou-se com a filha para Salvador, nas imediações de onde veio a falecer aos 61 anos de idade, quase cega, no anonimato. Desconhece-se o local de seu túmulo.

A partir da volta de Maria Quitéria à boca do sertão Baiano, a história se estreita, se encurta tanto que fica difícil biografá-la. Pode-se dizer que Maria Quitéria morreu esquecida, aos 61 anos. Não teve o mausoléu como é de praxe aos heróis. Ignora-se onde está o túmulo.

Muitos questionamentos podem surgir na mente do leitor como por que essa camponesa quase analfabeta, tornou-se uma guerreira? Que questões eram essas que a levaram a arriscar sua própria vida? Seria apenas o civismo?

Talvez, as palavras da própria Maria Quitéria ajude o leitor a desvendar esse mistério quando diz:

“(...) uma voz secreta me sopra que também luto por mim. Estou guerreando, sim, para libertar Maria Quitéria de Jesus Medeiros da tirania paterna, dos sofridos afazeres domésticos, da vida insossa. Ah, eu combato, com água no nível dos peitos, pela libertação da Mulher, pela nova Mulher que haverá de surgir (...)”.

O leitor já conseguiu desvendar?

Pensem na mulher Quitéria reprimida de sentir, na sua situação de ser uma mulher normal, padrão, sem apetites, sem certas ânsias, certos movimentos de alma, aquelas perturbações interiores, aquele mal-estar permanente que são atribuídos à adolescência e à entrada, sem definições claras, na vida adulta.

Quando a maioridade chegou, Maria Quitéria está sem realização pessoal digna de seus sonhos que eram sepultados antes de nascer. E ela há de ter compreendido que, somente dela, e não dos outros, há de vir a desejada definição existencial e, em conseqüência, a paz de espírito. Maria Quitéria alcança, assim, a hora crítica de sua vida no instante em que Pedro I é pressionado pelas Cortes portuguesas, que desejam sufocar movimentos libertadores no Brasil, e Cachoeira, a Heróica, antecipa a Independência.

Temos, então, que a libertação do Brasil coincide com a libertação de Maria Quitéria. De um lado, a Pátria jungida que procura arrebentar correntes; de outro, a camponesa aprisionada ao patriarcalismo familiar sertanejo. Uma e outra querendo a liberdade, dispostas a morrer por sua cidadania.

Emancipava-se o Brasil, emancipava-se a Mulher brasileira.

Ofereço esse texto a todas as mulheres que sacrificaram suas vidas para que as presentes mulheres tivessem oportunidade de trabalho, licença maternidade, salário fixo, redução na jornada de trabalho, respeito pelos seus cônjugues, espaço na política, educação, economia, religião e formadoras de um Brasil menos opressor.

Escrito por: Daniel Ferreira

Professor de História e Especialista em História do Nordeste

Prof_daniel.al@hotmail.com

Vista de Um Ponto

O desafio de conviver com as diferenças

Somos um povo tolerante? O Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) deste ano se propôs a discutir o desafio de conviver com a diferença. O tema da redação que pode facilitar o acesso de muitos jovens à universidade é bem explícito e considerado bom, pois leva a pensar em um conceito de convivência humana pacífica. Especialmente, num país em que se queima índio em praça pública da Capital Nacional, se maltrata empregada doméstica e se diz que confundiram-na com prostituta, em que atores “globetes” desrespeitam garota de programa e travesti, faz-se necessário uma reflexão sobre a convivência. Não dá pra “con-viver” se não se respeita a diferença. Mas de qual diferença estamos falando? Sabemos que o Brasil é enorme, há diversidade de culto e cultura, desigualdade financeira, sexual, étnica e outras.

Saber conviver é uma arte que todos nós deveríamos aprender desde a mais tenra idade, no entanto, na lei do mais forte, muitas vezes, somos impelidos a nos associar a quem tem mais poder e força e ser ou querer ser um deles. Precisamos saber conviver em família, nosso primeiro grupo social, na escola, na roda de amigos, na igreja a qual pertencemos. Porém, temos que ter nossas particularidades, queremos ser únicos, mas nos vestimos e agimos como a maioria da moda para sermos considerados iguais.

Neste aspecto, se partirmos do pressuposto de que a única coisa que temos de igual é o fato de sermos diferentes uns dos outros, vamos ter que nos acostumar e valorizar as diferenças de cada um, pois são elas que tornam toda pessoa única e especial. A proposta da referida prova oferecia duas músicas cujos títulos sugeriam posições diferentes acerca do tema, mas que convergiam para o fato de haver a diversidade cultural e social e ao mesmo tempo a nossa dificuldade de conviver harmoniosamente com ela.

Num país continental como o nosso, é fácil encontramos tantas diferenças, exemplo disto é que a mesma língua falada (o português) apresenta particularidades que diferenciam os falantes no Rio de Janeiro, no Rio Grande do Sul ou no Rio Grande do Norte. A língua é um fator de unidade nacional, no entanto ela também pode ser variada e nessa variedade tudo toda forma precisa ser valorizada.

Um outro fator de diversidade é a religião. Não há uma que seja a oficial no Brasil, mas a maioria das pessoas é de crença cristã, católica (mesmo quem não pratica religião se diz católico). Há também as diversas correntes protestantes, os variados níveis de espíritas e outras tantas religiões. Nelas reina uma intolerância enorme, pois cada qual que afirme que a sua é a única que salva em detrimento das demais.

A diversidade cultural expressa por brasileiros de norte a sul é proveniente da mistura de raças que forma nossa nação, somos africanos, europeus, índios, asiáticos. Formamos uma cultura cheia de valores diferenciados e que devem ser respeitados porque dão a cada um de nós a certeza de que “ninguém é igual a ninguém”. Essa mistura cultural é tão necessária ao ser humano quanto a diversidade biológica e precisa ser considerada como um fator de enriquecimento. Somos um país riquíssimo culturalmente.

Além de exigir que os estudantes concluintes do Ensino Médio apresentem um texto coerente nos aspectos discursivos e gramaticais, obedecendo à norma padrão da língua, a proposta de redação requeria do candidato que fossem respeitados os direitos humanos e sugeridas intervenções consoantes ao tema. Apesar de haver muitas deficiências na formação dos nossos educandos esperava-se que os mesmos fossem capazes de defender seus pontos de vista com argumentos competentemente selecionados e propostas que visassem o respeito às diversas expressões culturais sociais e religiosas, políticas e de inclusão social possibilitando trocas benéficas ao enriquecimento mútuo. Afinal de contas somos realmente únicos, especiais e diversos. “Há tantos quadros na parede, há tantas formas de se ver o mesmo quadro/ Há tanta gente pelas ruas/ Há tantas rua e nenhuma é igual à outra” (Engenheiro do Havaí).

Emanoel Lourenço – Professor

Emanoel_lourenco@hotmail.com

Cerujoaofrancisco.blogspot.com

Vento e Raiz

São Vicente Férrer, pai de nossas raízes.


São Vicente é para mim como um pai no sentido mais simples da palavra, se isso for possível, onde só tem o papel mais efetivo na procriação, nos outros momentos se abnega da responsabilidade e é de uma parcialidade perene, que pouco se envolve na educação e na formação do caráter do filho, em vez de ensinar-lhes a refletir e a ter liberdade (política, religiosa) reprimi-o e não investe no futuro de sua prole. Mas então tenta compensar, como se fosse possível, presenteando com algumas festas e o filho resignado e contente se submete pelas migalhas de "amor" do pai.

O triste é que não estou sendo pessimista, mas realista, e em conseqüência dessa negligência acometida contra os filhos dessa terra, os que tem o sonho e desejo de se libertar desses estribos, acabam se refugiando lugares a procura de algo maior, que de lá nunca viria. Deste modo, expulsos pelas condições desfavoráveis, somos jogados numa realidade diferente, que não estávamos preparados, com regras de trato social e valores bem particulares. Inseridos nesse contexto, a dor e a solidão dos vínculos deixados nos torna pequenos numa selva de pedra.

Leva-se um choque diante do novo que se apresenta de duas maneiras distintas: a primeira é a montanha de oportunidades culturais que se aflora de todos os lados e em segundo contrapondo-se, a "violência" que se mostra feroz e nos faz amigos íntimos do medo, nosso companheiro inseparável, levando-nos a temer crianças, vítimas marginalizadas. O problema é de tal ordem que estamos sujeitos ao encontro inevitável com a senhora do nosso destino a "morte", seja ela a nossa ou a de outrem ao dobrar a esquina ou vista de uma janela de ônibus, vendo o futuro de um homem, que minha lógica insiste, poderia ser o meu, no chão do asfalto e sua massa encefálica escorrendo e dele se esvaindo seus sonhos, seus ideais sua esperança.

É essa as duas vias que nos deparamos ou ficar na "segurança" do pai com uma vida medíocre se arrastando e se humilhando por migalhas, salvo algumas exceções, ou a exposição ao perigo em detrimento da realização profissional, para uma vida melhor. E assim desperdiçar os talentos ao permitir que outros vão embora sem contribuir efetivamente para o desenvolvimento da cidade.

O CERU porta de saída dos jovens, embora pouco valorizada, tem melhor rendimento e qualificação profissional do que muitas escolas metropolitanas, logo os alunos dela provenientes estão em melhores condições, mas estão se evadindo para os grandes centros urbanos. Esse fato é muito importante porque comprova o empenho dos professores em ensinar com entusiasmo e competência e associado ao laço afetivo que todos têm com a escola, faz dela um referencial de São Vicente Férrer e motivo de orgulho.

Eu amo esta cidade, mas me odeio por não conseguir odiá-la pelas razões supracitados, pois as qualidades superam os defeitos. E as qualidades para mim se configuram nas pessoas (família, amigos, professores) que tiveram um papel fundamental para meu desenvolvimento e dos quais sem eles minha vida seria um vazio, pois contribuíram para moldar meu caráter e minha educação, portanto devo a cada um de modo diferente: meu amor, meu respeito e meu agradecimento.

Maria Clara Batista da Silva
E-mail: clarinha.batista@hotmail.com
Profissão: Professora da rede Metropolitana do Recife.

Umas Palavras


Padre Tadeu Pabis (Ex-pároco e Cidadão Honorário)

Data: 04/09/07

Local: Sua Residência (Rua: João Pessoa).




Cuca Livre: O senhor é polonês de nascimento. Conte-nos um pouco de sua infância e o despertar do sacerdócio em sua vida?

Pe Tadeu: Minha infância foi muito sofrida. De vida no campo e de família humilde. O pai faleceu deixando quatro filhos pequenos. Eu, o mais velho, tinha apenas 7 anos, trabalhando muito com a mãe para manter a família.

O despertar da vida sacerdotal foi desde muito pequeno, mas a decisão já foi na vida mais avançada quando tinha 27 anos, mais ou menos, já havia servido nas Forças Armadas, 2 anos no máximo, trabalhando e fazendo curso de segundo grau por correspondência. Agora, as famílias na Polônia, muito religiosas, então essas coisas também me ajudaram na realização de minha vocação para ser um dia padre.

Cuca Livre: O senhor presenciou a invasão Nazista na Polônia durante o período que abrange a Segunda Guerra Mundial? Como foi acompanhar isso e quais as lições que esses acontecimentos lhe deixaram?

Pe Tadeu: Sim, como adolescente, 10 anos mais ou menos. Inicialmente achava tudo isso como brincadeira, até andando assim, no meio do exercito alemão. Depois quando entendi, eu vi tudo assim: com tristeza, revolta, crueldade, destruição. Teve muitas mortes e isso é triste.

Cuca Livre: Porque a decisão de o senhor vir trabalhar no Brasil?

Pe Tadeu: no seminário maior que estudei se falava muito na falta de sacerdotes em certos continentes, como África, Extremo Oriente e América do Sul. E no seminário na Polônia veio uma vez um bispo alemão do Brasil, do estado de Pernambuco,de Floresta. Era amigo nosso e convidou alguns seminaristas, alguns padres que queriam viajar para o Brasil para trabalhar. Eu decidi entre outros quatro, me prontifiquei a vi, depois de terminar os estudos e me ordenar. Já fazia Curso Superior de Sociologia. Quando decidimos vi para o Brasil, enfrentamos muitas dificuldades para conseguirmos o visto do governo, que na época era comunista e não deixava fácil a saída de padres. Havia muita perseguição religiosa.

Cuca Livre: A propósito, o Regime Comunista Funcionou na Área Social, independente da intolerância religiosa?

Pe Tadeu: Sim, na área social funcionou bem, havia saúde, educação e trabalho para todos, os salários não eram grandes, dava para viver dignamente. A minha mãe, quando adoeceu, o helicóptero do governo veio buscá-la em casa para levá-la até Cracóvia para se tratar. Não havia mendigos nas ruas, mas a perseguição religiosa era grande. Até hoje na Polônia muitas pessoas sentem saudades do Regime Comunista.

Cuca Livre: Faz 20 anos que o senhor vive em São Vicente. Quando chegou aqui, quais as maiores dificuldades para trabalhar na comunidade?

Pe Tadeu: Eu comecei o trabalho aqui nesta diocese depois de trabalhar em Floresta. Em Vicência, depois em Itambé, de Itambé para São Vicente. Então aqui, a paróquia por muito tempo não tinha um pároco fixo, residente aqui, dependia geralmente dos padres que vinham principalmente de Macaparana. Então isso já é motivo de vir para cá. Também nesse caso, a paróquia meio desorganizada, sem a organização necessária, organização de movimentos. Os padres de Macaparana, ou de outros lugares não podia atender a tudo, porque eram provisórios, mas quando cheguei, eu gostava de assumir uma paróquia e de fazer alguma coisa, mas assim, como padre estrangeiro, sem saber ainda falar direito, sempre tive dificuldade de reorganizar, digamos assim, a vida da paróquia com todos os movimentos, com todos os problemas, mas com a ajuda do povo, de certas pessoas, aos poucos fiz alguma coisa.

Cuca Livre: O que mais lhe alegra e o que mais lhe entristece com relação a São Vicente Férrer?

Pe Tadeu: O que mais me alegra é ver que a comunidade de São Vicente Férrer está em constante desenvolvimento social, cultural, religioso, religião mais amadurecida. Agora o que mais me entristece é que ainda há pobreza, falta de trabalho, o pessoal sem trabalho. Assim, um povo alegre, cheio de vida, queria viver mais alegre, mas não pode porque não tem a possibilidade de se desenvolver totalmente, e possuir aquilo que precisa para sua vida, para sua felicidade, assim como deveriam viver todos os homens no mundo inteiro.

Cuca Livre: O que o senhor gostaria de ver na cidade que foi plano seu durante o tempo que era sacerdote oficial da comunidade e que por ventura não deu tempo de realizar ou não foi possível realizar?

Pe Tadeu: Além de ver a paróquia um pouco mais estruturada, ver também a matriz, a igreja mãe, mais segura, mais bonita, com gradeamento. Eu comecei até naquele tempo já, esse trabalho, mas infelizmente não deu tempo para levar à cabo esse trabalho e graças a Deus, padre Vieira fez.

Cuca Livre: Sabemos que as igrejas, além do papel espiritual, têm um grande compromisso social. O que o senhor considera elemento principal na missão social da igreja?

Pe Tadeu: A defesa, a defesa dos mais fracos, dos mais pobres, dos injustiçados. Ajudando-os nos casos concretos, não só falando, mais realmente ajudando essas pessoas concretamente, sendo amigo de todos, não só dos grandes, dos importantes desse mundo, mas ser amigo de todos. Diante de Deus somos iguais, somos irmãos, e devemo-nos assim tratar. O padre, nesse campo social, deve tratar todos como seus amigos, de preferência os mais pobres.

Cuca Livre: Como foi para o senhor receber o titulo de cidadão honorário vicentino, depois de 20 anos aqui na cidade?

Pe Tadeu: Muita surpresa, uma grande surpresa, porque eu não pensava que isto ia acontecer, que eu não fiz tantas coisas importantes para merecer um titulo de honra e de distinção. Então eu me senti feliz, me senti alegre cada vez mais, é que o povo reconhece que fiz alguma coisa que pelo menos agrada o povo. Eu vim de uma família pobre e sempre procurei ajudar os pobres, por lembrar minha mãe que sempre me dizia e me falou quando vim para o Brasil: - “Filho, não se esqueça dos pobres... (pausa: muito emocionado, chorou e pediu um momento)” a minha mãe sempre me dizia: - “Filho, você sofreu, (pausa) você passou fome, não se esqueça lá no Brasil, dos pobres. Procure ajudar os pobres do Brasil, (pausa) por isso procurava ajudar (emocionado)”.

Cuca Livre: Por que a decisão de não voltar à Polônia para viver aqui, mesmo depois de já está aposentado do cargo?

Pe Tadeu: A minha decisão não é de hoje, já é de algum tempo. Eu sempre desejava terminar minha vida lá onde trabalhei, no Brasil. Então quando sai da Polônia, já era no santino (como se chama), quando da minha ordenação, eu já escolhi, esse trecho da Bíblia “saia do seu povo (no Antigo Testamento) – sai do seu povo vá ao povo que lhe mostrarei etc., etc.,”Então,pensando nisso,quando escolhi o Brasil,como missionário,e eu não estou assim,muito amarrado ,muito ligado à bens materiais,pois mais cedo ou mais tarde,nós vamos deixar tudo isso.Então,eu queria assim, ficar onde trabalhei,eu quero aqui ficar.Quando me aposentei,ainda era Dom Jorge o bispo,ele me falou:Você escolhe o lugar onde quer ficar, para viver, para residir, para ajudar os outros. Você não quer ficar em São Vicente? Você gosta, um lugar bom, um povo bom, então eu disse: ta bom, eu vou ficar lá. Então, minha decisão não foi de agora, foi desde que cheguei aqui e é aqui que eu vou ficar.

Cuca Livre: Quais as suas perspectivas com relação à cidade e ao povo vicentino?

Pe Tadeu: É claro que São Vicente Férrer têm as maiores possibilidades porque a terra é boa nesta região, tem muita água suficiente para tudo e povo também tem boa vontade de trabalhar, de produzir e depois se manter. Com os nossos governos, o governo lá em Brasília, ou em Pernambuco, e aqui na cidade, no município, com governos que estejam cada vez mais voltados para atender as necessidades do nosso povo, pode conseguir esse progresso, essa felicidade para todo o povo, porque o povo merece ser feliz. Eu fico assim triste, porque o povo quer se vestir bem, quer comer bem, quer fazer uma coisa alegre, ser alegre na vida, mas não pode porque às vezes não tem o que comer, e esse povo merece. Vendo a Europa por exemplo, que tem muita gente, que tem tudo e aqui tem muita gente que trabalha e queria viver como gente, mas não pode, porque as vezes não tem dinheiro, não tem o que comer e esse povo merece. E os governos deveriam se voltar para esse povo que trabalha, que produz e que quer ser feliz.

Bate Bola

Cuca livre: O mundo?

Pe Tadeu: Muito Melhor, queria que fosse para todos.

Cuca livre: As pessoas?

Pe Tadeu: Que todos sejam pessoas amigas

Cuca livre: uma tristeza?

Pe Tadeu: O dever não cumprido.

Cuca livre: Uma possibilidade?

Pe Tadeu: A Paz entre os homens e povos.

Cuca livre: Um gesto?

Pe Tadeu: Amor, doação.

Cuca livre: Uma palavra?

Pe Tadeu: Deus, porque em Deus se resume tudo.

Cuca livre: Uma frase?

Pe Tadeu: “Tudo posso naquele que me dar conforto, que me fortalece”

Cuca livre: Um sonho?

Pe Tadeu: Justiça social para todos.