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quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

A Luta de cada Um!

Obs.: Onde se escreve Gantóis, pronuncia-se Gantuá

“Quero agradecer

Por tanto que nem sei

Quero oferecer

Tudo o que sei fazer

Quero dedicar tudo que em mim brilhar

A quem está no Gantois”. Caetano Veloso


Mãe Menininha do Gantois – Mãe e Yalorixá do Brasil



“Deus? O mesmo da igreja é o do candomblé. A África conhece o nosso Deus tanto quanto nós com o nome de Olorum.

A morada dele é lá em cima e a nossa cá em baixo”

Escolástica Maria da Conceição Nazaré, nasceu em Salvador – BA em 10 de fevereiro de 1894, negra e neta de escravos. Morava no terreiro (templo da religião do candomblé), fundado por sua bisavó Maria Júlia da Conceição Nazaré em 1849.

O terreiro localiza-se no subúrbio de Salvador e é conhecido popularmente pelo nome de Gantois, devido o terreno onde se localiza ter pertencido a um francês (belga?) Edwad Gantois que segundo muitos teria sido traficante de escravos e que teria trazido para a Bahia os ancestrais africanos de Escolástica Maria da Conceição Nazaré.

A menina cresceu em meio ao culto dedicado aos orixás, aprendeu os toques, os cânticos, as histórias, as comidas, lendas e cores dos deuses africanos com a avó. Ainda criança, fazia bonecos com palha de bananeira e sementes de plantas, eram os orixás, que nas mãos da menina vinham para a terra dançar.

Ainda muito nova, foi iniciada na religião por sua tia Pulquéria. A menina era filha de Oxum (Orixá feminina, deusa das águas doces, da maternidade da beleza e do amor).

Antes dos 30 anos, trabalhava como costureira numa fábrica de corpetes femininos na Salvador dos anos 20 e por vontade dos orixás, foi escolhida como a nova Yalorixá (sacerdotisa / mãe de santo) do terreiro. Foi surpresa para todos inclusive para ela, como afirmou mais tarde: “Quando os orixás me escolheram eu não recusei, mas balancei muito”.

Essa mocinha nova, com a vida toda pela frente teria que ter a responsabilidade tamanha de liderar um templo, cultuar os deuses, ser mãe de muitos, ouvir e aconselhar, zelar por tudo e ainda sofrer resistência de muitos adeptos do culto, principalmente dos mais antigos que acharam um absurdo a casa ficar nas mãos de uma menina tão nova, que ainda brincava de boneca. Foi esse evento que lhe deu o nome que ficou tão conhecido, Mãe Menininha do Gantois.

Durante a década de 30 existia a Lei de jogos e costumes, que durante a ditadura Vargas determinava que as festas e celebrações do candomblé deveriam ser realizados somente com a liberação da polícia e em horário estabelecidos pela delegacia. Essa lei tinha na verdade, o intuito de proibir a reunião de grupos para não tratarem de política.

Existe um fato interessante, certa feita estavam os devotos do candomblé realizando uma festa para orixás à noite, sem autorização policial e a policia foi fechar o culto. Mãe Meninha saiu à porta para falar com o policial que estava irredutível e queria acabar com a celebração. Ela com a sua doçura e humildade, disse: Doutor aqui tem nada demais não, a gente só está realizando um tradição ancestral. Entre doutor, venha dar uma olhadinha”. O delegado entrou e converteu-se ao candomblé.

Mãe Menininha casou-se com o advogado Álvaro McDowell (descendente de inglês) e teve duas filhas Carmem e Cleusa que mais tarde viriam substituí-la na liderança do terreiro.

Mãe Menininha não se negava em esclarecer a qualquer pessoa as questões ligadas à sua casa (O Gantois) sempre tinha pronto bolo de arroz, cuscuz e café quente para abrigar qualquer pessoa que precisasse. Dava consultas sem cobrar um tostão de quem necessitava de seu apoio.

Era católica praticante, mas aberta a outras religiões. A noite, não perdia as novelas, e a que mais gostava era “Selva de pedra”, depois tinha o rádio, que não perdia de ouvir programas evangélicos nem escutar música. Sua cantora preferida ema Maria Bethânia, que também é sua filha-de-santo.

Conseguiu acima de tudo respeito. Mais que superar preconceitos e afirmar o candomblé como símbolo da cultura negra, abriu a religião para outros seguidores, mais que ser católica, convenceu os bispos da Bahia a permitir a entrada nas igrejas das mulheres com os tradicionais vestidos do candomblé nas cores dos orixás.

Em 1976 o governador da Bahia Roberto Santos, liberou a casa de candomblé da obtenção da licença e do pagamento de taxas à delegacia de jogos e costumes a partir da sua influência.

Mãe Menininha entre todos os filhos que recebia e cuidava por igual, foi muito homenageada por artistas e intelectuais como Jorge Amado, Vinicius de Morais, Caetano Veloso e Gilberto Gil, entre outros.

Em 13 de agosto de 1986, morreu aos 92 anos, com mais de sessenta anos de dedicação, luta pelo fim do preconceito religioso, doçura e amor.

Mãe Menininha, lutou por liberdade, é a mãe do Brasil Mestiço.

Escrito Por: Kleber Henrique

Professor de História

E-mail: prof_kleber_henrique@hotmail.com

Um comentário:

Professor de FISICA- FORMADO PELA UFRPE disse...

A genialidade das primeiras idéias.

A criatividade é diferente da gratuidade de idéias. Mas o que são idéias gratuitas? São aquelas que surgem facilmente quando somos confrontados com um problema? Por que elas surgem facilmente? Porque se sustentam no senso comum, no conhecimento superficial e no “achismo”. E qual o risco de usar uma idéia assim, principalmente em soluções sócio-políticas? Como são frutos de homens que de uma certa forma tem uma boa independência financeira, ou ao menos não tem medo de passar dificuldades instantâneas; elas podem surgir em mais de um lugar ao mesmo tempo, o que pode causar grandes constrangimentos. As classes dominantes de uma pacata cidade de interior como a nossa. Como surgi, então este pensamento de revolta?

É simples: o processo criativo se sustenta na associação de idéias. Repare à sua volta e perceba que toda idéia tida como criativa aquela que saiu do plano mental e passou para o campo real das inovações, é fruto de uma ou mais idéias matrizes associadas. Você usa relógio de pulso? Pois é, ele é um exemplo simples desse processo de associação, transformado em produto pela mente efervescente de Santos Dumont.

As melhores letras de músicas, por exemplo, são as que conduzem quem as ouve pelo terreno das figuras de linguagem e da manifestação da realidade de forma diferente daquela que a maioria usa. É o mesmo processo – o da associação de idéias – funcionando no plano conotativo das palavras, atribuindo-lhes sentidos diferentes do primário, o que justifica a diferença entre um choro contínuo (denotativo) e uma chuva de lágrimas (conotativo).

E como podemos evitar ter idéias que alguém também terá? Não usando as que surgem primeiro. Pela lógica de funcionamento do senso comum, elas serão as primeiras idéias de todo aquele que transita no mesmo nível de conhecimento que você, quando confrontado com problemas semelhantes ao seu. E o que fazer com as primeiras idéias, já que são inevitáveis? Jogue-as fora, ou melhor, reserve uma gaveta só para elas. É questão de tempo para percebê-las pipocando aqui e ali, solucionando problemas que, na essência, são muito parecidos.

Quando questionado sobre como ter tantas boas idéias, o químico americano Linus Pauling disse: “É simples... tenha um montão de idéias, depois jogue fora as ruins”. Essa afirmação evidência que, em se tratando de criação, o axioma “quantidade não é qualidade” ganha proporções bem diferentes.
Afrodite , Admiravelmente ofereço o texto ao CUCA LIVRE .
Um abraço !


Adorari estar com VCs , não posso.