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segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Eu No Tempo!

O violão, a poesia... e a clave de sol?

O mundo é um moinho”

Cartola

Resolvi usar uma música de Cartola porque em primeiro lugar gosto muito da forma como ele canta o amor e a vida. Em segundo, por ser um artista pouco conhecido pela maioria das pessoas que conheço, e, em terceiro pela sua contribuição à cultura brasileira por conta da concepção harmônica em suas melodias e os versos que casam perfeitamente com a voz e a experiência de vida do artista.

Cartola nasceu a 11 de outubro de 1908 no Rio de Janeiro, em um bairro chamado Catete. Neste dia, o Brasil e o mundo recebiam um artista com uma sensibilidade artística impressionante. Ganhou o apelido de Cartola por que quando trabalhava em obras usava um chapéu côco para não sujar os cabelos de cimento.

Devido ao racismo, Cartola nunca foi economicamente bem sucedido. Trabalhou até como pedreiro pra sobreviver. (Por volta dos de 1960). Certa feita o jornalista Stanislaw Ponte Preta encontrou-o lavando carros no bairro de Ipanema, e perguntou: - Você não é o Cartola? - Sou. Foi resposta. Isso causou muito espanto ao jornalista que passou a ajudá-lo, tornando-o mais popular.

Cartola gravou seu primeiro disco em 1974, todavia, sua vida não foi composta apenas por tristezas. Entre a metade dos anos de 1960 até a sua morte em 1980 conheceu um pouco de popularidade (mas não dinheiro), e descobriu que todos tinham a chance de ouvir suas canções, ou vê-lo tocar e cantar.

Através de suas canções o povo brasileiro pode conhecer um pouco mais sobre sua vida e sua maneira poética de descrever sua relação com a mesma. As pessoas que o conheciam passaram a amá-lo.

Cartola partiu desse mundo deixando muitas composições e um forte exemplo de superação de preconceitos, e isso certamente se deve a um elemento indispensável pra vida humana, o amor.

Na verdade, a vida de Cartola era mesmo um moinho, feita de uma matéria, presa a um eixo imaginário e real, levando nada e sempre trazendo algo do futuro. Um moinho que pelo seu próprio peso podia triturar reduzir a nada a esperança, o desejo e os sonhos. Como podemos visualizar em um trecho de sua música “o mundo é um moinho”:

Ouça-me bem, amor,

Presta atenção, o mundo é um moinho

Vai triturar teus sonhos tão mesquinhos

Vai reduzir as ilusões a pó

Isso é típico de uma relação onde não existe maturidade ou quando na verdade um ponto de vista sobrepõe o do outro. As palavras de afeto, agrado e boas maneiras que eram tão freqüentes no início do relacionamento desapareceram no instante da contenda entre os casais e no término de suas relações.

Daí ser comum prever ou desejar que a outra pessoa, a que desencadeou a tristeza no relacionamento, não tenha êxito em suas relações posteriores. Deseja-se pelo ex-enamorado, que a pessoa sofra, quebre a cara ou até mesmo retroceda em suas escolhas.

Quando cartola diz “preste atenção” e “ouça-me bem” ele em sua poesia manifesta uma essência de experiência, de maturidade, obtidas pelas suas vivências, invocando dessa maneira a atenção do ser amado aos conselhos, todavia, o coração de quem ama sofre muito nas escolhas grandiosas, e não seria diferente mesmo com uma pessoa da envergadura de Cartola.

Na primeira estrofe da música ele diz “ainda é cedo amor”. Cartola expressa apego, medo da vida vindoura neste instante. A vida vivida compartilhada nos seus mais variados aspectos enfrentava uma situação de instabilidade. Seriam as vivencias de Cartola, a necessidade de uma outra pessoa ao seu lado ou as necessidades de Cartola completadas a partir da pessoa amada?

A estrofe mencionada não é a última da música, o que pra muitas pessoas pode tirar o sentido de nossa conversa musical, porém, se levarmos em consideração que a música é uma expressão de sentimentos que não são obrigados a uma construção formal e textual, pautados em regras, normas, etc, torna-se mais fácil compreender a escrita do autor do texto.

Algumas pessoas ao ouvir as músicas de Cartola choram, outras ficam sérias, pensativas, argumentativas, inquietas, enquanto que outras apenas sorriem.

Acredito que isso aconteça pelo fato das pessoas se identificarem com alguma parte da música e também, pelas suas letras carregarem histórias sentidas na pele do próprio compositor. E experiências vivenciadas por uma determinada pessoa acabam gerando uma série de reflexões quando cantadas como Cartola as canta.

Sei que para influenciar na maneira de pensar e agir de uma outra pessoa o exemplo de vida é um elemento norteador, contudo, deve-se ter cautela quanto a maneira a ser abordado e o local a ser exposto.

São vários os casos em que pessoas que possuem um gabarito vasto em experiências afetivas, mas, que mais tem contribuído para criar cicatrizes emocionais. Será que o compositor cartola foi um desses? Veja mais alguns de seus versos na música o mundo é um moinho.

Presta atenção, querida

Embora saiba que estás resolvida

E em cada esquina cai um pouco a tua vida

E em pouco tempo não serás mais o que és.

Presta atenção, querida

De cada amor tu herdarás só o cinismo

Quando notares estás è beira do abismo

Abismo que cavastes com teus pés.

O fato é que nossas escolhas nos proporcionam caminhos e também resultados muitas vezes não desejados. Provavelmente fosse isso que cartola quisesse dizer com “herdarás só o cinismo” e com o “abismo” mencionado na música.

O instante de febre, a raiva que o envolvia no momento de sua composição contribuiu na incrementação de expressões que são peculiares às pessoas que acreditam que a vida é um moinho, que se recebe com a mesma moeda cada ato realizado, e que os atos realizados com intenção de não se receber o que se pensou voltam-se à pessoa que desejou de maneira muito rápida, ao contrário das pessoas que pensam na intenção de receber o que fizeram ou pensaram.

Louvado seja Cartola nesses 99 anos de sua morte.

Escrito por Daniel Ferreira

E-mail: prof_daniel.al@hotmail.com

Professor de História e Especialista em História do Nordeste


4 comentários:

Anônimo disse...

HUM...


FINALMENT TO AKI COMENTANDOOO!!!

+ ESSA MISICA EU TBM NAUM PODERIA DXAR D COMETAAR...


POWWW... ADOREIIII...

GOSTEI D TODO O JORNALLLL... + ESSA COLUNA TAH D +++++...

NEM SEI O Q FALARRRRRRRRRRRR...



SO DAH OS PARABNSSSSSSSSSSS A DANIEL...


AH! I UMA COISA...
tv um erro na musica...
no jornal tah "Quando notares estás è beira do abismo" i o crto eh "Quando notares estás à beira do abismo" so issooo msmooooo!!!



i parabns d novo!!!

Anônimo disse...

As canções do Cartola são muito lindas mesmo, cheias de sentimento e sabedoria.
Passei só pra registrar umas curiosidades a respeito da canção comentada na coluna.
Muitas são as estórias sobre a letra dessa música: O mundo é um moinho.

Um delas diz que Cartola escreveu isso para sua filha que estava indo embora de casa pra "ganhar o mundo".
Outra estória, é que ele escreveu essa música pra um colega de trabalho, quando era pedreiro. Certo dia esse rapaz, que era bem mais jovem que o Cartola, chegou muito choroso e triste porque sua mulher o tinha deixado, e Cartola então inspirado pelo triste fim da história de amor, compôs essa música.

De qualquer forma, o mais importante não é qual foi intenção do grande sambista quando a escreveu; isso é só pra notarmos uma caracteristica que demonstra o que é uma boa música: não importa a situação, a época ou a idade, ela continua recente, linda e emocionante.

Anônimo disse...

Professor Daniel
Grande escolha a idéia de ter pego Cartola,e essa canção então é uma das tantas e tão lindas que ele nos deixou.Gostei muito do trabalho de vocês,muito bem estruturado,tudo de muita qualidade,adoraria poder ter opinado em todas as colunas,mas já deixo os parabéns aqui.Quando tive no Rio tive a oportunidade de conhecer Dona Zica,grande senhora,foi muito bom.Uma dica:como li na apresentação,porque vocês não realizam um evento como o que vocês foram no Recife?O trabalho do Cartola precisa ser conhecido mais aí no Nordeste.Sorte pra todos.

Lays Vanessa disse...

muito bom. realmente muito bom. finalmente um lugar onde pode se adiquirir conhecimento e trocá-los através da comunicação direta que é a interenet.
todos de parabéns.