Não é muito difícil se ouvir por ai as pessoas falarem que “por trás de um grande homem sempre tem uma grande mulher”. Certamente o inventor desse pensamento não foi uma mulher, e se foi não estava em suas faculdades mentais funcionando perfeitamente.
Faz-se preciso refletir sobre essa e outras frases que foram criadas por nossos antepassados um tanto tendenciosos a exaltação do macho. Essas frases que à primeira vista parecem-nos inofensivas carregam uma essência extremamente preconceituosa, influenciando na permanência de uma sociedade onde a mulher está castrada de direitos, submersa em obrigações e destinada a consumir um padrão de beleza inconstante.
Neste mês resolvi falar de uma personagem da história que hora é caracterizada como ficção e noutros verdade, a rainha de Sabá.
Desejo que o leitor e a leitora no final da leitura do texto faça a sua escolha: ficção ou verdade? Podemos começar nossa viagem pela história? Vamos lá!
Graças a incessante busca do arqueólogo Wendell Philips o mundo agora pode ter certeza da existência de Sabá e da fabulosa Marib, sua capital (Localizada no atual Yemen).
Era um país desejado, por conta da sua incalculável quantidade de ouro e pedras preciosas. Possuía uma tecnologia a frente do seu tempo, principalmente no que se refere ao sistema de irrigação. No entanto, o maior atrativo desse lugar era o incenso e as resinas exóticas, que eram cobiçados por grande parte dos reinos existentes, bastante utilizados em suas cerimônias religiosas, como também, em forma de remédios para combater venenos de diversos tipos de animais.
Usavam a mirra para preparar os corpos para o sepultamento, ao contrário de outros povos que a utilizavam apenas como analgésico.
As pesquisas ainda mostram que Sabá era um grande centro de pessoas conhecedoras da astronomia. As descobertas arqueológicas ainda mostram e comprovam que grande parte das sociedades desse período eram governadas pelas mulheres, ou seja, essas sociedades eram matricêntricas. Estado e família eram liderados pelas mulheres, e isso implica dizer que em Sabá as mulheres ocupavam uma posição igual a dos homens, possuíam direito de escolher com quem casar e de se separar quando sentissem que era preciso.
Caro leitor, e leitora peço que imagine o nível intelectual desse povo de Sabá, seus papos, sua maneira de fazer política, sua educação... Imagine uma mulher que não aceitava ficar por trás de homem algum, escondendo-se na figura de um macho. Imagine uma mulher que falava o que pensava, agia segundo seus princípios sempre com posicionamentos maduros, despertando a atenção e o desejo de um monte de marmanjos reais, como foi o caso do rei Salomão mencionado na bíblia no livro de Reis, L. III, cap. X, 13: “o rei Salomão deu à rainha de Sabá o que ela desejou, e lhe pediu, a fora os presentes que ele mesmo lhe deu com liberdade real. A rainha voltou, e se foi para o seu reino com os seus servos”.
A própria bíblia relata em outros trechos que Salomão era um homem admirado por sua sabedoria e extremamente rico por sua posição social, era rei. Foi essa posição, digo, esse aparato ideológico-financeiro que proporcionou ao rei Salomão “faturar” mais de 900 mulheres. Contudo, a rainha de Sabá não foi uma delas.
Podemos imaginar neste momento a cara do rei diante do inesperado acontecimento. Aquilo jamais havia acontecido. Nenhuma mulher jamais havia resistido aos presentes e encantos do rei.
Olavo Bilac descreveu em versos esse encontro entre a rainha de Sabá e o rei Salomão.
Que mais queres? Sião? E, entre os bosques sombrios,
O meu colar de cem cidades deslumbrantes?
O Líbano, pompeado em paços, em mirantes,
Em cedros, em pavões, em corças, em bugios?
O povo de Israel, em tribos formigantes
Do Eufrates ao mar Morto e o Egito? Os meus navios,
As esquadras de Hirão, coalhado o oceano e os rios.
Atestadas de prata e dentes de elefantes?
O meu leito, ainda olente e morno do teu sono?
O cetro? O gineceu, e a guarda, e as mil mulheres
Como escravas, rojando aos teus pés? O meu trono?
Os vasos do holocausto? O templo de ouro e jade?
A ara, em sangue e fulgor, ante Jeová?... Que queres?
Poucas são as mulheres da história que carregam uma vida tão admirável como a rainha de Sabá. Sua vida foi descrita pelas culturas do oriente e ocidente em filmes, novelas, musicas, etc, mas, ainda continua a existir perguntas: ficção ou verdade?
Os próprios pesquisadores possuem muitas dúvidas quanto a veracidade desta história. A bíblia menciona uma Rainha do Sul, “que se levantará em juízo”, numa fala do próprio Cristo registrada no livro de Mateus no novo testamento, mas, todos esses indícios são poucos para comprovar sua existência.
O leitor e a leitora agora escolhe o final:
Ficção ou verdade?
Grandes mulheres foram e são aquelas que em sua natureza não se permite estar em segundo plano. Jamais uma mulher assim, consegue ficar muito tempo escondendo-se na figura de um homem, por um simples motivo: não dá, é incompatível com sua natureza, pois perde muito tempo tentando convencer seu companheiro a agir de uma determinada forma, enquanto ela mesma poderia fazer. Então ela age logo, por si mesma, toma iniciativa. Este tipo de mulher, não se contenta com a satisfação do seu companheiro, em vê-lo feliz com suas realizações, pois ela quer ter sua satisfação e suas realizações. Não dá pra se contentar com a felicidade do outro, como parasita, se ela não tem a sua própria felicidade. Uma mulher que gosta da vida, que se ama e, sobretudo, quer sentir também no corpo e na alma, satisfação, prazer, dor, ódio, tristeza. Não se poupa das agruras nem das alegrias, quer tudo, cada pedaço de sentimento que nos faz sermos reconhecidos como “seres humanos” (YASMIM 06/04/2003 – Grandes mulheres).
Isso é ficção ou verdade?
Escrito por: Daniel Ferreira
E-mail: prof_daniel.al@hotmail.com
Professor de Historia e Especialista em História do Nordeste.
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