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segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Umas Palavras

Jessier Quirino (Artista, escritor e poeta popular)

Data: 16/10/07

Local: Escola Coronel João Francisco (Jornada Pedagógica do Curso Normal Médio).

Local: Escola Coronel João Francisco (Jornada Pedagógica do Curso Normal Médio).

Cuca Livre: Quem é Jessier Quirino?

Jessier Quirino: (risos) Eu costumo dizer que sou arquiteto por profissão, poeta por vocação e matuto por convicção. E, antes do poeta, nasceu o declamador, eu sempre fui muito de declamar, sempre fui de colocar força e inflexão no ato declamatório. Eu fazia isso com poemas de outras pessoas, outros poetas como Catulo da Paixão Cearense, Patativa do Assaré, Zé Louretino, sempre poetas que tratava desses valores do campo, e depois, só um pouco depois, é que eu comcei a fazer minha própria poesia. Em 1996, e de lá pra cá já são 11 anos com 7 livros publicados, 4 cds gravados e por ai vai.

Cuca Livre: Como se deu o despertar da poesia e da escrita em sua vida?

Jessier Quirino: Na realidade, foi a partir de um processo de observação, talvez eu tenha um pouco dessa coisa do arquiteto, eu sempre tive um poder de observação muito grande e também de memória. Então esse trabalho de observar, eu digo até que sou um prestador de atenção das coisas do mato (risos) de tanto eu prestar atenção, eu procurei fazer isso com a rima, com a métrica, lapidar as palavras e fazer os poemas. Eu na realidade não pensava que essa poesia “garranchenta” como eu digo, como uma casinha de “duas águas” fosse ter um destaque literário. E hoje felizmente eu tenho um reconhecimento muito grande e eu deixei até de ser arquiteto para ser artista e hoje vivo nos palcos, defendendo a minha poesia a golpes de declamação por todo Brasil.

Cuca Livre: Em seu primeiro Cd, uma das faixas é “comício em bêco estreito” é bem um retrato da realidade política dos interiores do país. Para você o que favorece a permanecia dessas praticas?

Jessier Quirino: Na realidade eu tenho uma postura critica com relação a política, e uma postura critica independente de partido, é uma postura critica com relação à política. A política é muito caricata, ela pede até esse tipo de critica, porque a gente faz uma coisas assim jocosa, meio engraçada, mas é uma coisas que a gente coloca o dedo numa ferida, num câncer, num vicio que já acontece no Brasil a muito tempo e que infelizmente continua acontecendo. A prática disso, como foi feito a pergunta, eu acho que devesse única e exclusivamente à impunidade. E cabe a nós, poetas, escritores, vocês que trabalham com arte, com cultura, com teatro, sempre que possível tratar esses assuntos, mesmo de forma jocosa ou com uma critica mas contundente, com tanto que sirva de alerta e que provoque a reflexão já é algum papel que nós como artistas estamos obrigado a fazer e devemos fazer.

Cuca Livre: Num país de tanta surpresas desagradáveis no tocante à ética na política. Em sua opinião, existe saída?

Jessier Quirino: Eu acho que apesar de cada vez mais a gente ver escândalos sucessivos de um lado e outro, a gente tem que confiar nas instituições. As instituições existem e está sendo colocada em prática, o Ministério Público, por exemplo. Infelizmente ainda existem algumas manobras por conta exatamente dessa impunidade, mas as instituições existem e a gente tem que confiar nessas instituições.

Cuca Livre: Como você encara a educação no Brasil da atualidade?

Jessier Quirino: A educação, digamos assim, é sofrível, principalmente a educação pública não é? A educação paga sempre conseguiu alguns meios da coisa andar e continua sofrível tanto no pago, quanto no público né? Só que a educação pública essa é que é a base de tudo, onde deve haver um maior investimento, uma coisa que no passado já houve. Eu tenho irmãos mas velhos e amigos mas velhos em Campina Grande, pais que tinham 11 filhos doutores formados pela escola pública e para você hoje ter essa qualidade na educação como tinha há algum tempo atrás, está sendo muito difícil até na paga, até na educação paga. Então, eu acho que de forma sofrível, mas com alguns mecanismos, com ferramentas, tipo internet, ou coisas deste tipo já tem ajudado e isso é uma alavanca que a gente deve sempre que possível, lançar mão.

Cuca Livre: Como é ser escritor num país de maioria não leitores?

Jessier Quirino: Incrivelmente o que tenho observado é, eu publiquei meu livro em 1996, de lá pra cá, eu já vi muitas pessoas me pedirem para prefaciar livros deles, algumas pessoas, as vezes, até questionavam em não ter a oportunidade de fazer seus livros. O que tenho observado é que existe muita gente escrevendo, talvez até exista mais gente escrevendo do que lendo (risos). O que eu costumo dizer é que esse hábito deve ser quebrado com a presença do professor, acho que o professor, fazendo com que na sala de aula os alunos observem o universo da poesia e os mesmos com coisas simples, eu faço uma poesia muito simples, com coisas muito simples, como uma lata d’água, uma catemba de coco, duma cerca, duma paisagem boba, duma bodega e isso são coisas palpáveis para o universo do aluno. Então, de repente, ele pode chegar aqui com um trabalho da escola e fazer um ensaio duma plantinha qualquer, duma safra que tenha no sítio dele. Então eu acho que o professor pode despertar o interesse do aluno por essa causa, a causa da literatura, a causa da escrita, a causa da poesia.

Cuca Livre: Que caminhos são possíveis para um resgate de nossa identidade regional num mundo Globo-Colonizado?

Jessier Quirino: O resgate acho que já está havendo, os grandes centros estão pagando um preço muito alto pelo progresso. A violência já generalizada, o caos urbano do transito, o caos das moradias, as instalações, a infra-estrutura básica que não acompanha o crescimento das cidades. Então os olhares para o interior já estão sendo voltados com um certo romantismo. Isso no passado, as pessoas tinham uma certa reserva, as pessoas quem saiam do interior e que iam embora para São Paulo, iam embora para Recife, eles faziam questão de dizer: “estou há 8 anos em São Paulo ou estou a 8 anos em Recife” sem fazer ao menos referencias as suas bases. Hoje, já é o contrario, o cabra que mora lá em recife, já diz: ”eu sou de São Vicente Férrer, eu sou de Macaparana, eu sou de Timbaúba” ele faz questão de dizer que são matutos. Eu observo isso quando vou fazer meus recitais, quando eu vou fazer os autógrafos, cada um chega pra mim dizer: “eu sou um matuto de Ferreiros, eu sou um matuto de São Caetano”. Então, a gente observa que esses valores do campo que hoje são cantados e decantados exatamente porque os valores do caos urbano está ofuscando tudo e as pessoas estão lançando mão dessas ferramentas que é mais uma benção que Deus nos deu.

Cuca Livre: Que estratégias podemos usar na valorização dos poetas populares?

Jessier Quirino: Eu acho que é a união, eu acho que o mais importante nisso é as pessoas se unirem. Infelizmente, na cultura, principalmente no meio artístico há uma certa desunião. Por exemplo, Chico Science do Manguebeach, ele fazia referencia a isso no “caçuá de caranguejo” – quando um ta subindo, vem outro e agarra no outro e arrasta. Então eu acho que há uma desunião entre os próprios artistas. Se houver união entre artistas, a classe política e a classe de educadores, essa união vai fazer com que esse produto, acabado ou não tenha visibilidade. Agora sem união não, as vezes até um consegue se destacar, então esse aqui que está se destacando e pode ser boa vitrine (faz gesto) para esse aqui que não conseguiu se destacar ainda, ai esse vem e arrasta esse outro aqui pra baixo. Isso ta acontecendo muito hoje com o forró, você ver essa manipulação de você fazer o forró metalizado, descaracterizando toda uma história de uma música e ainda vem a industria de cima para baixo. Então o que acontece é: quando um forrozeiro e tal ele está crescendo aqui, ai aparece outro aqui por baixo para arrastar o camarada para ele não conseguir aquele patamar. Então eu acho que o ponto básico seria união.

Cuca Livre: Seu objeto de maior inspiração é o matuto nordestino. Como se dar o processo de laboratório de construção poética em meio as suas ocupações da vida cotidiana e artística?

Jessier Quirino: A adolescência, a vivencia durante a adolescência é muito forte na vida de qualquer cidadão. E a minha adolescência foi muito marcada exatamente por valores do campo. Eu sou de C.G e Campina Grande para o universo da poesia que trabalho é uma cidade até meio cosmopolita, digamos assim. Eu trabalho minha poesia numa cidade bem menos do que Campina Grande, mas eu convivi muito com o sertão da Paraíba, com Jericó, com Catolé do Rocha. Catolé do Rocha é a terra de Chico César no sertão da Paraíba e tudo na adolescência, entre 11 e 17 anos. Então, foi um período fértil pra minha cabeça que estava capitando bem aquelas imagens e talvez o mas importante nisso é uma simpatia minha pela causa. Eu sempre tive uma simpatia muito grande pela gente do mato até pela graça que o matuto têm, e uma espécie de idolatria ao vaqueiro e pela bravura do caboclo sertanejo. Eu assistia muitos filmes medievais de espada, “Ricardo Coração de Leão”, “Ivanhoé” e eu via aqueles guerreiros medievais, com aqueles escudos, e pela primeira vez que vi um vaqueiro, chegando paramentado de jibão, de perneira, de luva, e de botas, em cima de um cavalo, numa pega de boi, eu vi que aquilo era a coisa mais parecida com um guerreiro medieval. Então isso é uma imagem que tenho da adolescência e, apesar de hoje eu não ter mais tempo de fazer isso, por está nos palcos, toda minha poesia, toda minha visão poética da coisa é agregada à essa visão da adolescência.

Bate Bola

Cuca livre: O mundo?

Jessier Quirino: O mundo é um abraço de paz e de amor.

Cuca livre: As pessoas?

Jessier Quirino: As pessoas devem se unir e devem dançar juntas nesse mundo.

Cuca livre: uma tristeza?

Jessier Quirino: É fazer mal a uma criança..

Cuca livre: Uma possibilidade?

Jessier Quirino: Nunca desistir.

Cuca livre: Uma palavra?

Jessier Quirino: Amor.

Cuca livre: Uma frase?

Jessier Quirino: Um abraço forte feito leite de jumenta preta (risos)

Cuca livre: Um sonho?

Jessier Quirino: Ver o nosso Nordeste e os valores do campo bem tratados.


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