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segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Vento e Raiz

“Estava à toa na vida / O meu amor me chamou
Pra ver a banda passar / Cantando coisas de amor

A minha gente sofrida / Despediu-se da dor
Pra ver a banda passar / Cantando coisas de amor”.

(Trecho de A Banda, Chico Buarque)

Apesar de não ter sido o ar das serras vicentinas, o primeiro que respirei sozinha, sem a ajuda do cordão umbilical que unia eu e minha mãe, considero-me como se fosse, pois, desde meus primeiros dias de vida tive o prazer de morar nesta terra. Na verdade, o que me deixa mais feliz em ter crescido aqui é poder ver as coisas que conquistei, afinal de contas, de que adianta nascer numa cidade grande ou, então, ser de família abastada, se não superamos nossos limites e alcançamos coisas que pareciam tão difíceis? Da mesma forma que nãopara ficar a vida inteira reclamando pela ausência de oportunidades. Como diria Edward Bloom, personagem do filmePeixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas”, eu deixei de viver no aquário e fui morar em águas maiores, às vezes com dificuldades, às vezes com momentos mais prazerosos. O fato é que não me permiti voltar ao meu canto, com minhas dores e sonhos.

Quem vive no corre-corre selvagem das cidades maiores, valoriza cada momento do cotidiano das pessoas que, quando muito, precisam apenas percorrer cinco quilômetros de casa até seu local de trabalho. Ou então, se dão ao luxo de, em plena madrugada, andar despreocupadas pelas ruas, sabendo que no máximo encontrarão um boêmio embriagado. E , esses sobreviventes da selva chegam para estes outros sobreviventes, que relutam com o progresso, e cantam as maravilhas desta terra bucólica e pacata, e com isso enchem os corações de todos os moradores de orgulho e felicidade. E estes, percebem então que não é tarde pra dançar, ou pra sorrir, ou para simplesmente parar e perceber que as serras a quais rodeiam a cidadezinha não são tão feias e simplórias como eles pensavam. Então, cada um, despede-se por um momento da sua dor, deixa de lado a sensação de que deveria ter feito mais e melhor, ter enfrentado os obstáculos, aproveitado o tempo quando tinha saúde e todos deixam de “contar as estrelas” se “debruçando na janela”, tendo a certeza de que são os melhores, os privilegiados porque moram no melhor lugar do mundo.

que quando a banda vai embora, os gracejadores da vida do interior se vão, e toda a gente, ou pelo menos boa parte dela, volta a seus lugares, retomam para si seus cantos de dor.

Ficando na espera sonhadora de que a banda passe outra vez um dia. E enquanto a banda não volta, eles passam a se maldizer, a reclamar que ali não acontece nada, que as coisas não progridem, que nãocomo melhorar e a única solução é se contentar em ver o vento fazer a curva bem diante de seus olhos.

Não estou defendendo que a população em massa acompanhe a banda e deixe a cidade entregue à sua própria sorte; para alguns realmente, seus sonhos e objetivos estão em outro lugar e devem ir em busca deles, mas para outros a felicidade está aqui; e estes que ficam precisam aprender a cantar, a tocar, a ser a própria banda. A vida precisa deixar de ser tão pacata e encher-se de alegria. E para isso não é preciso que alguém faça a orquestra tocar, afinal cada um é o dono do seu próprio instrumento e do seu próprio dom.

Vez ou outra São Vicente se depara com oportunidades de crescer, de tornar-se umaquário maior”. E as pessoas precisam não se acomodar em seus lugares, esperando quem vai liderar a cantoria ou qual o próximo acontecimento que chegará pra movimentar as conversas na calçada e nos grupinhos da escola ou do trabalho. A mudança é que precisa ser o assunto fazendo parte do cotidiano dos próprios moradores, a motivação, a transformação, o crescimento deve ser o foco principal de todos.

Se cada um não perceber o poder que tem em suas mãos, realmente muito pouco vai acontecer. E correrá sempre o risco de ficar nas mãos de alguém que queira se aproveitar das riquezas e belezas desta terra, da inércia de muitos dos seus habitantes, e vai mandar e desmandar ao seu bel prazer. Mas isso já é assunto pra outra música...

Mariene Borba

E-mail: mari_borb@hotmail.com

Estudante de Direito

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