“O que a gente faz é por debaixo dos panos pra ninguém saber...”
É lamentável e doloroso sentir os efeitos de um sistema político o qual a cada dia que avança, vai afunilando cada vez mais o espaço para a cidadania. Para começo de conversa, no meu entender, cidadania é uma conquista que se começa com dignidade com oportunidade para uma vida digna.
Hoje, é sensível aqui em nossa cidade o clima de insegurança dos cidadãos, o gradeamento das casas, as portas trancadas, o medo de ir ao quintal estender roupa porque a grande festa da banana está se aproximando e os roubos e assaltos começaram. Qual a raiz disso tudo? Onde começa tudo isso? O que favorece o tráfico de drogas? O consumo de drogas? O desejo de roubar para ter um sapato bacana para a festa – as respostas todos sabem.
Enquanto o desemprego é um dos fatores causadores de tudo isso, nossa elite política está tentando tirar a dignidade do trabalhador empregado.
Este tipo de coisa é bem comum no Brasil, os homens do colarinho branco, ao contrário que muitos pensam, não estão em Brasília só para tomar cafezinho e disparar esculhambações uns contra os outros educadamente e divertir a população com coisas do tipo: “Vossa Excelência é um filho da puta!”. Quando esses atores saem do palco, nas coxias eles apertam as mãos, dão tapinhas nas costas e se agregam em torno de interesses comuns. Interesses da classe que representam.
A última cartada dos caras foi a poucos dias atrás, aprovaram um lance que já rondava na Câmara Federal a alguns anos. Vamos rodar um filminho: em 03 de outubro de 2001, o presidente Fernando Henrique Cardoso enviou ao Congresso o Projeto de Lei 5.483/2001 que visava à “flexibilização das relações de trabalho” o qual visava a alteração do artigo 618 da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho). Essa CLT são as Leis criadas desde o período de Getúlio Vargas que regularizam as relações de trabalho dentro dos padrões capitalistas, o que já é uma desgraça para o trabalhador, mas que pior seria se pior fosse.
A CLT tem suas imperfeições, mas inegavelmente tem seus méritos. É certo que as Leis devam ser algo de aperfeiçoamento, afim de acompanhar as evoluções da sociedade, mas há que se ter cautela para que tais modificações não venham a interferir nos direitos já adquiridos pelo trabalhador.
Esse tal projeto de Lei, que visa “flexibilizar” as relações de trabalho, não trata de forma clara dos temas (como sempre). Segundo a CUT (Central Única dos Trabalhadores) esses aspectos estão implícitos e vão prejudicar os trabalhadores. As conseqüências serão desastrosas para o trabalhador, pois direitos conquistados poderão ser alterados ao bel prazer dos empregadores. Benefícios como férias, 13º salário, seguro-desemprego, salário-maternidade, poderão ser pagos parceladamente ou até suprimidos. O tal projeto favorecerá o capital em detrimento ao trabalho.
Pois pasmem! O projeto já foi aprovado pela Câmara Federal e já está no Senado, tramitando sob o nº. PLC 134/01 e o Senado está para deliberar. O relator é o Senador Mendes Ribeiro (PFL/RO).
E ai? Quem votou a favor? Que deputados federais votaram contra o trabalhador que votou nele? Por que votaram? – simples, eles em sua maioria são empregadores, latifundiários, gente grã-fina. Aprovar Leis que os garanta ganhar com essas Leis.
Enquanto muitos trabalhadores não sabem mais nem em quem votaram nas últimas eleições, sofrem com a bola de neve que ajudam a criar. A maioria dos deputados que votaram a aprovação do projeto são do PFL e do PSD e dois deles que aprovaram, foram bem votados aqui
Só há uma possível e distante saída: A mobilização política da massa trabalhadora é que poderá barrar esse desmonte dos direitos trabalhistas. Infelizmente isso é uma coisa meio longe, muitos brasileiros só vão pra rua “atrás do trio elétrico” ou quando são insuflados pela Rede Globo de Televisão como no “Fora Collor!”. A maioria nem se sindicaliza por medo ou para não tirar 10% do salário para pagar um sindicato, enquanto só servem para encher comício e urnas e depois receber golpes.
É preciso encarar a política com mais critérios e seriedade, porque muitas vezes a culpa é só nossa.
Esses eventos a Rede Globo não mostrou, para também ter a liberdade de não ter que mostrar que o seu contrato com o Ministério das Comunicações a respeito da licença do canal 13, está para ser renovado por mais 15 anos. Enquanto para nós em acontecimentos como esse só resta o refrão da canção para dançar e dançar mesmo:
“É debaixo dos panos que eu me atolo
Que eu me dano sem ninguém saber
É debaixo dos panos
Que a gente entra pelo cano
Sem ninguém ver...”
Escrito por: Kleber Henrique
E-mail:prof_kleber_henrique@hotmail.com"
Professor de História
Um comentário:
ESCLARECEDOR,SIMPLESMENTE ESCLARECEDOR!
É FODA COMO NESSE PAÍS A GENTE TA CERCADO DE UMA CANALHICE SEM PRECEDENTES.PROFESSOR,PELO AMOR DE DEUS,QUAL O CAMINHO?UM DELES EU SEI QUE É UMA EDUCAÇÃO QUE MUNICIE O INDIVÍDUO COM CAPACIDADE DE LER O MEIO E SABER FAZER ESCOLHAS,MAS NA MAIORIA DOS CASOS,OS QUE MAIS PRECISAM DE PROFESSORES ASSIM COMO VOCÊ,SÃO OS MAIS ESQUECIDOS.É PERIGOSO PRA ESSE POVO PODER CONTINUAR NA SOMBRINHA AGRADÁVEL DO PODER.
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