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sábado, 28 de julho de 2007

Vida e Arte: Arte do Povo

Nordestinos ou Nordestinados?

Comumente somos rotulados pelo termo Nordestino, e é bem interessante percebermos que este termo traz em si toda uma carga de identidade cultural e não só uma identificação regional, tendo em vista que ninguém da região Sudeste do país é caracterizado como sudestino, ou do Centro-Oeste como centroestino. Esse rótulo na grande maioria das vezes tem servido como aporte gerador de inúmeros preconceitos, principalmente para quem migra para a região Sul do Brasil (a mais desenvolvida economicamente).

A imagem que o Brasil tem do Nordeste é de uma região seca, inóspita, atrasada, o que não deixa de existir, embora isso não seja uma totalidade, o Nordeste não é só sertão.

A identidade regional nordestina nem sempre existiu, ela surgiu historicamente há menos de século e foi criada e elaborada pela elite desse espaço (o Nordeste).

Em 1924, um grupo de intelectuais e líderes políticos encabeçados por Gilberto Freyre, entre outros como Odilon Nestor, Ulisses Pernambucano, Pedro Paranhos e Luiz Cedro, fundaram, no Recife, o Centro Regionalista do Nordeste com o objetivo de promover o sentimento de unidade do Nordeste. Esse movimento visava dar ao Nordeste uma identidade cultural, torná-lo mais que um simples recorte geográfico. A partir de então surgirá um verdadeiro movimento literário onde essa imagem nordestina será apresentada na obras de escritores, ditos regionalistas como José Lins do Rego, José Américo de Almeida, João Cabral de Melo Neto entre outros.

O movimento contribuiu para que as elites econômicas dos estados que compõe a região, em processo de decadência perante o Sul do país, se articulassem politicamente no Congresso Nacional a fim de conquistar recursos e benesses para suas áreas de atuação e benefícios financeiros para seu interesses particulares.

Os políticos nordestinos ao servirem de base para os governos federais na garantia do domínio de votos, conseguiram arrancar do mesmo, investimentos e criação de órgãos públicos que serviram e muito à especulações. Como o DNOCS (Departamento Nacional de Obras Contra a Seca) no governo do presidente Arthur Bernardes e o IAA (Instituto do Álcool e do Açúcar) durante a Era Vargas, e a SUDENE (Superintendência Para o Desenvolvimento do Nordeste) durante o governo de Juscelino Kubitschek.

Para o homem do Nordeste foi criada também uma identidade: A do ser abandonado pelo Estado, pela desatenção do homem do litoral, pobre, porém honrado. Vão ser explorados traços como a coragem, a valentia e principalmente a virilidade. O nordestino vai ser apresentado nos jornais, nas músicas, nos discursos parlamentares, nas obras literárias e poéticas como o “cabra da peste” ou “cabra macho”. Essa identidade servirá para a elite política explorá-la e conseguir sensibilizar o poder federal a fim de investir na região, só que, no espaço dos projetos saírem do papel para a prática, muitos bolsos, fazendas e latifúndios é que são beneficiados.

Essa identidade Nordestina imposta é baseada no masculino, uma identidade de gênero: “ser nordestino é ser macho”, até as mulheres quando apresentadas na literatura são masculinizadas como “Luzia-homem” e “Maria Moura”. Esta ênfase na masculinidade parece ser uma forma de compensar a crescente impotência econômica dessa elite que a criou.

Nas grandes obras literárias são bastante presentes as “figuras exemplares” do ser masculino, como o Coronel, o Jagunço, e Cangaceiro, como se coronelismo e jagunços particulares fossem fenômenos sociais que só existiram aqui. Isso é bem comum nas obras de Dias Gomes, Jorge Amado, Rachel de Queiroz entre outros.

A identidade Nordestina é dolorosa para quem migra para o Sul e sofre preconceitos e estereótipos como “brejeiro”, “sertanejo”, “baiano” e “paraíba”. É evidente que esta identificação se apóia em uma realidade bem desigual entre o feminino e o masculino e define formas bem arbitrárias de comportamento, ditando como devem ser e se comportar homens e mulheres.

Alimentar o mito do “cabra macho” é contribuir para a permanência, inclusive, da violência contra as mulheres e, ao mesmo tempo, alimentar um modelo de masculinidade que tenta manter um tipo de relação de desigualdade e dominação. Era muito mais humana e racional uma identidade baseada na ética, na justiça, na liberdade e honestidade do que só na força.

Usando as palavras do Professor e Historiador Durval Muniz: “este modelo vitima os próprios homens, já que os coloca em constantes situações de risco, e deles exige renúncias afetivas e emocionais importantes, como a do exercício da paternidade e da expressão de sentimentos e emoções. Em outras palavras, a macheza Nordestina faz os homens infelizes”.

Escrito por: Direção Cuca Livre

www.jornalcucalivre.blogspot.com

obs:. Baseamos o fio condutor de construção desse artigo na obra do historiador Durval Muniz de Albuquerque Jr., que entre outras obras valiosas sobre a identidade Nordestina escreveu o livro que indicamos para leitura: Nordestino: uma invenção do “falo” – uma história do gênero masculino (Nordeste, 1920-1940) Maceió: Catavento, 2003.

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