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segunda-feira, 11 de junho de 2007

A LUTA DE CADA UM

PAGU: O Anjo Anarquico


Pagu não tem modosTem Gênio...É o último produto de São Paulo...”

Raul Boop

Pagu é um pseudônimo, um dos muitos que teve Patrícia Galvão, nascida no interior do estado de São Paulo em 1910, aos 3 anos a família imigrou para a capital e foram morar no Brás (Bairro Operário), filha de empregado de fábrica e dona de casa.
O Brasil nesse momento vivia uma efervescência, ou melhor, o mundo: Estava acontecendo a 1ª Guerra Mundial, A Revolução Socialista na Rússia e em São Paulo a Modernização crescendo, a cidade se industrializando, operários e emigrantes estrangeiros fazendo greves pelos seus direitos e para não ficarem mais pobres e os ricos ficando mais rico com o café.
Esse contexto mexeu com a cabeça de muitos artistas, intelectuais a época que se viam dentro dessa São Paulo agitada, mas com uma mentalidade bastante arcaica e em 1922 fizeram a chamada Semana de Arte Moderna que foi um verdadeiro escândalo nas artes no Brasil, por que quebrava todos os conceitos de beleza e estética estabelecidos até então. Nessa época, a Pagu ainda era muito jovem, mais com uma personalidade inquieta sentia-se atraída por tudo isso.
Com muita dificuldade financeira iniciou o curso de normalista (ser professora ou operária eram as únicas profissões possíveis às mulheres). Nesse tempo, quase tudo era proibido às mulheres ditas decentes, nem pensar em pensar, sai sozinha jamais, trabalhar, votar, se divorciar e etc...
Ainda no curso normal, chocava a cidade com sua irreverência no vestir e em se comportar diferente de qualquer moça da época chegando a ser até motivo de chacota quando passava em frente a Faculdade de Direito (só para homens) por que não se identificava com nenhuma moça do curso normal, protestava tudo, fumava em publico e chamava palavrão.
Começou ainda como estudante a escrever para o jornal do Brás, onde denunciava a situação miserável dos trabalhadores das fábricas, iniciou também o conservatório de música onde foi aluna de Mario de Andrade (Organizador da tão comentada Semana de Arte Moderna de 1922). Nessa época, com 18 anos já fazia parte da roda intelectual paulistana, por intermédio de Mario de Andrade conheceu Oswald de Andrade (escritor casado com a famosa pintora Tarsila do Amaral). Pronto, estava no meio que gostava e sempre sonhou gente que pensava inteligente, ousadamente e diferente como ela. Conquistou a todos com sua maneira de ser ao ponto de ir morar na casa do casal Oswald e Tarsila, e desse convívio, Pagu e Oswald se apaixonam e passam a viver encontros secretos até que ela fica grávida e foi o maior drama: mulher solteira, grávida de homem casado e amiga da mulher! Para se sair dessa situação casou de fachada com o irmão de Tarsila, mas na viagem de lua de mel fugiu com Oswald e foram viver juntos no Espírito Santo.
Em 1930, entra para o Partido Comunista junto ao seu companheiro e vão viver juntos numa forte militância em prol do Socialismo e da construção de um mundo sem injustiças. Juntos começam a publicar um Jornal de cunho contestador e a policia acabou fechando. Em outras manifestações grevistas foi presa e depois de libertada, junto a Oswald passou a viver na clandestinidade, fugindo e militando às escondidas, foi nessa período que escreveu seu famoso livro: “Parque Industrial”. Tempos depois ela e seu companheiro passaram a viver muito distante, um no Rio de Janeiro, outro em São Paulo, militando, escrevendo artigos para jornais, fugindo e Ela sempre mais ativa do que Ele, deixou o filho para ele criar, pois estava como segurança armada das reuniões clandestinas do Partido Comunista. Em 1933, sua inquietação era tanta que partiu sozinha para conhecer o mundo e de onde estava se correspondia com vários jornais, nessas viagens conheceu muita gente, artistas famosos, entrevistou Freud (pai da psicanálise) e fez amizade profunda com Pu Yi o imperador da Manchúria, do qual recebeu em mãos sementes de feijão-soja que imediatamente enviou para o Brasil nas mãos do Ministro da Agricultura. Hoje a soja é um dos nossos granes produtos e só chegou aqui por causa dela é tanto que chama-se Soja-Pagu. Viajou a Rússia para conhecer de perto o “Socialismo” e se decepcionou um pouco devido o radicalismo de Joseph Stálin que conduzia arbitrariamente o sistema. Nem por isso desistiu, nunca deixou de acreditar na construção de um modelo mais justo, que deveria ser buscado longe do modelo de Stálin.
Em passagem pela França, é presa numa manifestação em Paris e devido ao Embaixador brasileiro, consegue retornar ao Brasil. Chegando aqui, Oswald já está casado novamente e seu filho já bem crescido.
Em 1935, um ano depois, acontece a tentativa de Revolução Socialista no Brasil, liderado pelo partido Comunista com o apoio Russo, o movimento muito infiltrado e mal estruturado acabou levando muitos para a prisão como o líder Luis Carlos Prestes, sua esposa Olga Benário que foi deportada para a Alemanha e morta na câmara de Gás, muitos mortos na tortura da policia e tudo isso só serviu para Getulio Vargas então presidente do Brasil instalar a Ditadura do Estado Novo que durou 8 anos.
Dos 25 anos aos 30, Pagu passou na cadeia, presa pelo que se chamava “crime político” e sua pior experiência foi ser torturada não só pela policia, mas também por companheiros do Partido só porque questionava e criticava ações da Cúpula. Saiu da prisão quase definhando, quando encontrou Geraldo Ferraz que passou a ser seu companheiro até sua morte.
Depois de recuperada, passou a trabalhar diariamente com a juventude na área cultural, afastou-se um pouco do Partido Comunista, não porque tinha abandonado suas idéias, mas por que achava que o Partido ainda estava muito dominado pelo Stalinismo Radical e sem abertura discursiva.
Fez amizade profunda com filho Rudá, que teve com Oswald e que tinha-o deixado criança com o pai. Hoje o seu filho Rudá de Andrade, nutre forte admiração e compreensão com a mãe que teve, “cheia de idéias, sonhos, ideais e muita garra”.
Em 1962, com 52 anos descobre-se vitima do câncer, luta muito contra a doença, mas acabou morrendo e deixando a certeza e a verdade de que: “Quem não finge, não nem mente, quem mais goza e pena é quem serve de farol”.

Escrito por: Kleber Henrique
E-mail: porf_kleber_henrique@hotmail.com


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