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segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Eu No Tempo!

A sensibilidade do homem para perceber a verdade na criança.


“Algumas pessoas acham que o artista tem que rir tem que encher o vídeo de dentes. Não tenho a menor pretensão de ser coerente. Além do mais, sou feio. E faço letras claras que às vezes, as pessoas demoram a sacar”. (Gonzaguinha).

O cuca chega a sua 4ª edição, passamos por muitas dificuldades até chegar a publicar, recebemos várias cobranças, criticas construtivas com relação à ansiedade dos leitores e tal, tudo isso é muito bom, assim sabemos e nos sentimos felizes em saber que o jornal ta caindo no gosto dos leitores “que também tem cucas livres”.

Escrever pra o jornal é inexplicável, só quem escreve sente. Nessa 4ª edição, escolhi uma música bastante conhecida, de um compositor também muito conhecido, a música se chama O que é, o que é? Seu compositor Gonzaguinha (Luiz Gonzaga do Nascimento Junior) filho do rei baião e de Odaléia Guedes dos Santos, cantora do Dancing Brasil. Desde o ventre já trazia em suas veias o sangue de um grande poeta popular e de um artista, e em sua alma o canto que iria encantar um povo, uma nação. Gonzaguinha era notável, primeiro por ser filho de Luiz Gonzaga e depois consagrado como compositor e intérprete (gravado por Simone, Nana Caymmi, Fagner, Maria Bethânia e muitos outros). Sua mãe morreu de tuberculose, ainda muito moça com apenas 22 anos, deixando Gonzaguinha órfão aos dois anos, e o pai, não podendo cuidar do menino porque viajava por todo Brasil entregou-o aos padrinhos Dina (Leopoldina de Castro Xavier) e Xavier (Henrique Xavier), o "Baiano do Violão" das calçadas de Copacabana, do pires na zona do mangue, morro de São Carlos, no Estácio, foram eles que o criaram.

As primeiras letras, Gonzaguinha aprendeu numa escola local, mas as verdadeiras lições de vida recebeu pelas ladeiras do morro. Quando garoto, para conseguir algum dinheiro, carregava sacolas na feira e avisava os bicheiros do local, quando da chegada da polícia.
Moleque Luizinho – seu apelido de infância, vivia nas ruas soltando pipas, jogando peladas, bolinha de gudes, pião era uma criança feliz e como tal, sofreu acidentes de infância como as três vezes em que furou o olho esquerdo, fazendo com que perdesse 80% da visão desse olho. No carnaval fugia com Pafúncio, um vendedor de caranguejos que morava nas redondezas e era membro da ala de compositores da Escola de Samba Unidos de São Carlos, a partir daí, o samba estaria definitivamente em sua vida. Gonzaguinha cresceu, entre a malandragem dos moleques de rua e o carinho da madrinha. Do pai, recebeu o nome de certidão, dinheiro para pagar os estudos e algumas visitas esporádicas. Imerso no dia-a-dia atribulado da população, Gonzaguinha ia aprendendo a dureza de uma vida marginal, a injustiça diária vivida por uma parcela da sociedade que não tinha acesso a nada. O aprendizado musical se fez em casa mesmo, ouvindo o padrinho tocar violão e tentando fazer o mesmo. Gonzaguinha ouvia Lupicínio Rodrigues, Jamelão e as músicas de seu pai. Gostava de bolero e era assíduo freqüentador de programas sertanejos. Ouvia também muita música portuguesa, pois D. Dina sua madrinha e mãe adotiva era filha de portugueses e manteve-se ligada às tradições familiares.
Aos catorze anos, Gonzaguinha escrevia sua primeira composição: "Lembranças da Primavera". Pouco mais tarde, compôs "Festa" e "From U.S of Piauí", que seu pai gravaria em 1968 e 1972, respectivamente.

Gonzaguinha seguiu uma linhagem musical totalmente diferente de seu pai. Estudou economia lia todos os jornais e guardava tudo num saco de estopa, ele dizia que esses jornais podiam ajudar nos estudos. Só depois de formado é que ele jogou tudo fora. Trancado no quarto, estudava economia e tocava violão. Quando saía, ia para a praia jogar futebol, sua outra paixão. A vivência da pobreza no Estácio, os problemas familiares e o espírito crítico que possuía, aliados aos estudos na Universidade e ao clima pesado da ditadura militar foram o ambiente onde se desenvolveu um dos mais criativos e inteligentes compositores da MPB contemporânea.

As canções de Gonzaguinha são verdadeiras obras primas, e dessas obras em especial gosto muito dessa “O que é, o que é?”. Ouvi, pela primeira vez à pouco tempo, a uns cinco anos, quando participava de um pequeno grupo de teatro. Lembro-me que Marcelo Faustino, meu amigo e coordenador do grupo, levava a música pra um exercício de relaxamento, e para que pudéssemos refleti-la. Gonzaguinha compôs essa música em meados dos anos 80, a qual foi composta e presenteada a Grande intérprete Maria Bethânia com quem tinha grande afinidade sensitiva e que, segundo algumas línguas, viveram uma história de amor. Inúmeras outras que fez sucesso na voz da intérprete, inclusive as canções mais combativas durante o período militar e até hoje, geralmente seus shows terminam com essa canção. Uma canção que fala sobre a vida, o quanto ela é bela e significativa. Acredito que seu autor, com toda sua carga crítica, sentiu-se inquieto diante do quanto os seres humanos complicam algo tão simples como viver. O quanto a humanidade caminhou para produzir um fenômeno tão nocivo quanto a ganância, que gera as guerras e a fome. Vejo nas calçadas, nas ruas crianças jogadas pedindo esmola pra sobreviver. Passam fome, sentem frio, são marginalizadas, não tem direito a educação, vivem simplesmente largados e sem ninguém. São felizes? Com certeza não, até podem ter alguns minutos felizes: quando ganham uma esmola, um prato de comida, um calçado ou até mesmo um trapinho velho pra se proteger da brisa fria em uma madrugada silenciosa e triste.

Viver e não ter a vergonha de ser feliz... Como é difícil, mas sonhado. A verdade é que vivemos de sonhos, sonhamos em crescer na vida, em ter sorte, sonhamos num amanhã novo, cheio de vida e sem diferenças sociais, mas muitas vezes nos perdemos em tudo isso e limitamos o existir em uma busca obsessiva por se dar bem como se o ter fosse garantia de felicidade plena. Nessa canção, Gonzaguinha faz uma explicação do sentido da vida.

 
“Viver e não ter a vergonha de ser feliz,
Cantar, e cantar, e cantar,
A beleza de ser um eterno aprendiz.
Ah, meu Deus! Eu sei
Que a vida devia ser bem melhor e será,
Mas isso não impede que eu repita:
É bonita, é bonita e é bonita!
 
Como seria entusiasmante se pudéssemos sair cantando sem vergonha a beleza da vida, nos recuamos diante do meio em que vivemos, quantas diferenças, quantos pensamentos diversos. Quantas dificuldades encontramos primeiro em escolher o que queremos pra nossas vidas, temos medo, somos narcisistas, entre tantas outras coisas. Temos vergonha da verdade, e nos firmamos numa sociedade erguida em culpas, hipocrisia e mentiras onde o “socialmente apresentável” é o que importa. Hoje, presenciamos racismo, preconceito, violência e tantas outras mazelas. Tornamos-nos adeptos das coisas que o meio nos impõe e com medo de errar erramos em não ver que somos eternos aprendizes, e esquecemos que em meio às simplicidades é onde encontramos a verdade e a pureza da vida. 
 
“E a vida? E a vida o que é, diga lá, meu irmão?
Ela é a batida de um coração?
Ela é uma doce ilusão?
Mas e a vida? Ela é maravida ou é sofrimento?
Ela é alegria ou lamento?
O que é? O que é, meu irmão?
Há quem diga que a vida da gente é um nada no mundo,
É uma gota, é um tempo
Que nem dá um segundo,
Há quem fale que é um divino mistério profundo,
É um sopro do criador numa atitude repleta de amor.
Você diz que é luta e prazer,
Ele diz que a vida é viver,
Ela diz que melhor é morrer
Pois amada não é, e o verbo é sofrer.
 
O importante no todo, é que a vida é um mistério. E tudo que é misterioso é trágico, cômico, excitante, perigoso. Como animais “racionais”, trazemos em nosso ser a vontade e o desejo de nos conhecer, de derrubar as barreiras que tanto nos fere, que tanto nos amedronta. Pra uns, como Gonzaguinha faz a pergunta: E a Vida?  A vida é definida do ponto de vista de cada momento, do que a pessoa vive, pensa e passa. Ou seja, definimos “A Vida” no fio do que passamos. Se estamos bem a vida é boa, se estamos mal ela é uma desgraça.
 Partindo desse princípio de que cada um define sua vida a partir do que passa, esbarramos no conceito de que somos mesquinhos em limitar algo que é tão maior.
Gonzaguinha morreu aos 46 anos num acidente de trânsito em 1991, mas antes de morrer deixou nesta letra a melhor definição da vida, onde cada um de nós pode viver a vida como quiser. Escolheu como melhor definição para a vida, a resposta das crianças:
 
“Somos nós que fazemos a vida
Como der, ou puder, ou quiser,
Sempre desejada por mais que esteja errada,
Ninguém quer a morte, só saúde e sorte,
E a pergunta roda, e a cabeça agita.
Fico com a pureza das respostas das crianças:
É a vida! É bonita e é bonita!
É a vida! É bonita e é bonita!”
 
Engraçado, a poucos dias quando pensava em escrever para o Jornal, sobre essa música em um encontro etílico, entre muitas conversas, Kleber disse:
 - Josa, porque quando tu for escrever teu texto não pergunta a uma criança o que é a vida?
- Eu falei: Poxa! nego que idéia da porra! Vou perguntar a Nega (Beatriz) o que é a vida pra ela.
Assim eu fiz,sabe qual a resposta: 
- A vida é bom!!!!! (E riu).
Nesse momento, entendi a pureza que Gonzaguinha expressava em sua letra. Ele percebeu com seu lado sensível que a resposta de uma criança era a verdadeira face da vida. Ela não tinha medo de falar a verdade, ainda não concebeu ao todo os padrões ditados, portanto está mais perto da essência. 
 
 
Escrito por: Josias Albino
Técnico em Informática e Funcionário da rede privada de Educação.
E-mail: josiasbad@hotmail.com

6 comentários:

Anônimo disse...

Josias,meus grandes parabéns a você e seus grandes amigos do jornal.Que coisa boa deve ser trabalhar por uma causa entre amigos de verdade,como seria bom se em educação no Brasil fosse assim.Li tudo de vocês,e não achei defeito.Sou pedagoga aqui em Timbaúba e já dei o endereço para que alunos leiam e já trabalhei esses textos em sala.Esse seu texto ficou muito bom mesmo.Muito boa a escolha.Sugiro a você que depois trabalhe canções de Gil,Caetano e Chico césar.Sei que eles virão.Tentem dar um jeito de fazer o jornal vir até aqui,impresso tem outro sabor,o jornal é local,mas também universal,cultural.Um primor!

Anônimo disse...

PROFESSOR JOSIAS
MUITO LEGAL MESMO ESSE SEU ARTIGO,SOU FÃ INCONDICIONAL TANTO DO GONZAGÃO QUANTO DO GONZAGUINHA.MUITO SENSÍVEL E CONSISTENTE SUAS COLOCAÇÕES.ESSE JORNAL TEM CARA DE COISA BEM ALTERNATIVA E POR ISSO MESMO JÁ MOSTRA LIBERDADE.VI QUE O ÚNICO COMPROMISSO DE VCS É COM A EVOLUÇÃO CULTURAL DAS MENTALIDADES E O COMPROMISSO SOCIAL,COISA QUE POUCOS ESTÃO AÍ.NÃO DEEM OUVIDO AO QUE VIR DO CONTRA,ESCUTEM SÓ QUEM FAZ ALGO MELHOR QUE VCS.QUE ESSA PATOTA TÃO AMIGA E À FRENTE DAS COISAS CRESÇA!SOU PROFESSOR DE SOCIOLOGIA DO RIO

Anônimo disse...

Josias
Gostei de todos os artigos do jornal,como sempre.Não posso dizer que a qualidade aumentou,a verdade é que ela nunca caíu.Tudo é tão bom e demonstra ser feito com tanto carinho que já nos deixa ansiosos pelo o que virá nos próximos.Particularmente gostei muito do seu texto,grande escolha e grande análise.Parabéns a vcs todos e não esqueçam de nos abastecer com esse tesouro.

Anônimo disse...

JOSIAS
LI TUDO QUE VC ESCREVEU E DOS OUTROS CARS.VOCÊS SÃO DO CARALHO!ACHO QUE ESPECIALMENTE VC EVOLUIU MUITO,FOI GRADATIVO.CONVIVER É APRENDER.PESSOAS ESPECIAIS É MELHOR QUE DINHEIRO.VOCÊ RECONHECEU ISSO NUM OUTRO TEXTO ONDE HOMENAGEIA SEU CAMARADA E EX PROFESSOR,ALIÁS APRENDEMOS SEMPRE E TENHO CERTEZA QUE A CONVIVÊNCIA FOI MELHOR QUE A ESCOLA.PARABÉNS!

Anônimo disse...

ACABEI DE COLOCAR NA COLUNA DO PROFESSOR KLEBER UM COMENTÁRIO E NÃO PODERIA DEIXAR DE PASSAR AQUI TBM.É QUE EU SOU LOUCO POR TUDO QUE RESPIRA POESIA E MÚSICA.TRBALHEI ESSE SEU TEXTO JUNTO COM A MÚSICA ESSA SEMANA NA TURMA DO 1° ANO,FOI MUITO PRODUTIVO.PASSEI O ENDEREÇO DE VCS PRA OS ALUNOS QUE TEM ACESSO.PARABÉNS A TODOS.

Cuca Livre disse...

Caro amigos cucas, fico muito feliz pelos comentarios e por saber que o jornal está conseguindo levá-los a refletir nos textos. obrigado a todos que perdem um minuto para postar um comentário.
Forte abraços dos Camaradas Daniel, Dudu Amjel, Josias e Kleber