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quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Vida e Arte: Arte do Povo

Para destruir uma cultura não é preciso queimar os seus livros


Do ponto de vista antropológico a cultura pode sofrer mudanças, perder os seus traços dando lugar a outros em velocidades variadas nas diferentes sociedades, por conta de três instrumentos que estimulam a transformação cultural: a INVENÇÃO (incrementação de diferentes concepções), a DIFUSÃO (conceitos de outras culturas) e a DESCOBERTA (tipo de cultura surgido pelo conhecimento de algo ainda não conhecido pelo grupo). Mas também, defende a idéia das manifestações contrárias por parte dos participantes de cada grupo cultural a tais mudanças. As mudanças não são aceitas pacificamente por nenhum grupo cultural, uma vez que, qualquer alteração por mínima que seja contribui no desencadeamento de efeitos que podem mudar a vida cultural de um povo.

Transformações como no jeito de se fabricar um determinado objeto pode interferir na escolha dos indivíduos para o governo ou até mesmo nos segmentos de leis designadas pelas sociedades.

Certamente as transformações culturais sejam inevitáveis por conta das necessidades humanas e, tais necessidades atreladas ao avanço das descobertas resultam na reciclagem do que já havia sido produzido. Porém, não se pode esquecer que apenas o grupo pode decidir o que deve ser transformado ou não.

O representante do grupo/povo é na verdade um sintetizador de forças coletivas, um instrumento representativo-democrático, um simples administrador dos bens que são em legítima natureza do povo.

O povo por sua vez, precisa dos seus bens patrimoniais para conhecer a sua história, a história local que desfecha no instante de sua contemplação. Outras cidades também precisam saber de nossa existência, da nossa história e memória. Mas também, é necessário que o povo tome conhecimento da essência que se esconde por traz de cada patrimônio. Conhecendo o dia-a-dia do povo, como eles se vestiam, brincavam, namoravam, construía suas casas, etc. para dessa forma despertar interesse e sentido de preservação sobre a memória e os patrimônios.

O povo não pode amar o que não conhece. Podem até achar bonitinho, engraçadinho, interessantezinho...

O fato é que não se pode mais esperar que outras manifestações dessa natureza se realizem aos nossos poucos e quase inexistentes patrimônios.

A Lei Orgânica Municipal da Cidade de São Vicente Férrer – PE, em sua seção VII que tem por título: Da Administração Dos Bens Patrimoniais, também não assegura a existência e um estado de conservação satisfatório dos patrimônios imóveis do município de São Vicente Férrer, o que deixa vulnerável tais bens ao descaso e as mutações intencionadas por qualquer gestor municipal.

Construída em 1912, tinha como dono o Sr. Pedro Pereira Guedes que chegou a ser prefeito do município de 1968 a 1973. O Gracioso da Serra como era chamado durante o seu funcionamento foi um grande empregador no município, este, produzia não apenas açúcar, mas também, fumo. O Sr. Pedro Pereira Guedes era um indivíduo bastante receptivo a modernidade, inclusive empregou uma família de judeus, fugidos da Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial. “Esses judeus tinham um projeto bastante ousado de tentar trazer energia elétrica para a cidade, embora o projeto não tenha sido efetivado, devido alguns impasses políticos”, como afirmou a Sr. Ilka Valéria Tavares de Andrade em entrevista (junho de 06)

O Engenho Gracioso da Serra deixou de funcionar em meados da década de 1970, logo após a morte do seu proprietário, e suas antigas instalações passaram a servir de depósito para produtos agrícolas.

Já em 1978, o engenho foi demolido para a construção da praça principal da cidade inicialmente denominada Praça Governador Moura Cavalcanti, que em seguida passou a ser chamada de Praça Pedro Pereira Guedes, em homenagem ao antigo proprietário. Da estrutura original foi deixado apenas o bueiro, localizado no centro da praça como uma espécie de obelisco.

Em 2006 a estrutura da praça foi parcialmente modificada para construção de um abrigo de moto-taxista, que mais serve para se jogar dominó do que realmente abrigar os motoqueiros. Tendo em vista que o número de motos em nossa cidade tem aumentado em uma velocidade assustadora (ausência de alternativas empregatícias supõe-se).

No final do mês de julho de 2007, outro ato crime patrimonial foi cometido contra a história vicentina, ao destruir parcialmente a praça para a construção de uma lanchonete. Cometeu-se algo irreparável. Foi destruída não apenas parte da memória vicentina, como também um testemunho extremamente importante do ponto de vista histórico que serve de elo entre nós e os nossos antepassados. Maria Célia T. Moura Santos do departamento de história da UFBA dizia em seu livro museu, escola e comunidade: uma integração necessária (1987: 85-90) que: todas as vezes que se destrói ou se transforma qualquer coisa que tenha valor histórico ou cultural, como monumentos, técnicas desenvolvidas pelo homem para a sua sobrevivência , ou objetos de uso e, mesmo, suas crenças e suas manifestações artísticas, sem que se justifique ou sem que o povo possa se manifestar, é sempre uma agressão à sua memória histórica. A evolução é necessária, mas não se pode, em nome do progresso, destruir indiscriminadamente o patrimônio cultural de um povo. Nesses cinqüenta anos, muitos outros monumentos históricos foram e continuam sendo destruídos ou abandonados, não só neste estado como em todo o país. “Só a comunidade como um todo é a melhor guardiã dos seus bens culturais”.

Pode-se perceber na idéia de SANTOS que a preservação da memória e dos bens imóveis contribui para a construção de significados/identidade de cada integrante da comunidade em que vive.

A partir dessas citações e explanações reflito... O que será que se passa na cabeça desses parlamentares? Será que o interesse deles por nós está intrínseco ao voto que os proporciona carros, casas confortáveis, salários e status quo? Será que serão lembrados pelas gerações mais esclarecidas?

Por certo serão motivos de piadas de péssimo gosto, por se posicionarem como indivíduos que não fizeram o dever prometido por eles mesmos instantes antes de sua escolha como representantes das vontades do povo.

O tempo, o SENHOR da RAZÃO se encarregará de apagar da memória vicentina os representantes que não costumam fazer suas “tarefinhas de casa” (Promessas em épocas de eleições). Acredito que seus netos não os o honrarão, pelo contrário farão questão de esquecê-los.

A Praça Pedro Pereira Guedes não é apenas um amontoado de pedras que testificam o descaso como dizem muitos de nossos munícipes, é também uma história, uma cultura que ganha beleza quando integrada a história oral de nossos antepassados.

Faço um apelo aos nossos representantes políticos da câmara municipal local, que olhem com carinho pra sua terra, sua parentela, para os bens que a fazem ser genitora. Todos os bens que se encontram sob esse solo são frutos dele, partes integrantes de um todo que resulta em IDENTIDADE, DESEJO de PRESERVAR (apenas para quem a ama), SAUDADE (para os que por motivos de sobrevivência tiveram que sair daqui para outras localidades), REVOLTA (os que se beneficiam dos seus suprimentos das mais variadas formas), DESTRUIÇÃO (possuído pelo vazio impreenchível); por esses motivos tão fortes e peculiares de cada grupo que as manifestações culturais precisam ser protegidas por leis municipais mais eficazes.

A direção Cuca Livre oferece sua ajuda, no que se refere aos aportes como historiadores e especialista em patrimônios, para pensarmos nas possibilidades de um novo posicionamento diante dos nossos patrimônios locais.

Escrito por: Daniel Ferreira

Professor de História e especialista em História do Nordeste

E-mail: prof_daniel.al@hotmail.com

Um comentário:

Anônimo disse...

Professor Daniel
Que texto bem fundamentado,gostei demais,aliás,o jornal é sem defeito.Vou aprender a ir praí e vou procurar vcs pra batermos um papo num sei qd rsrs.
Percebi que os caras gostam de bom papo e bons goles.Moro no patrimônio Olinda.