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segunda-feira, 12 de maio de 2008

A Luta de Cada Um!

Dom Hélder Câmara: o pastor da liberdade


“Quanto mais negra é noite mais carrega em si a madruga”.
Dom Hélder Câmara


Nascido a 07 de fevereiro de 1909, em fortaleza, Ceará, num anexo de uma escola pública onde na ocasião, sua mãe, a professora Adelaide Rodrigues pessoa câmara, estava como diretora. O episódio de nascimento de Dom Hélder pode ser comparado ao de Cristo. As estalagens, a situação econômica e o propósito de existência.
O seu pai era um guarda-livros e um estimado crítico de teatro João Eduardo torres câmara filho. Em uma das buscas de seu pai no dicionário com a finalidade de colocar um nome em mais um de seus filhos encontrou o nome Hélder e ficou vislumbrado com o significado, “fortaleza do norte da Holanda”.
Dom hélder teve 12 irmãos e 5 desses vieram a falecer por conseqüência de uma epidemia de difteria. Resolveu dedicar-se desde muito cedo a vida eclesiástica no seminário de fortaleza vindo a sair apenas com 22 anos e meio ordenado padre.
Participou de 1931 – 1937 da ação integralista ( versão brasileira do fascismo) que segundo o próprio Dom Hélder foi o seu “pecado da juventude”.
Em fortaleza exerceu várias funções além das eclesiásticas. Uma dessas foi a de diretor do departamento de educação do estado, pelo governador Francisco Pimentel, no ano de 1934.
Já residente no Rio de Janeiro no ano de 1936 Dom Hélder foi nomeado assistente técnico do secretariado de educação do distrito federal. Além de ser nomeado diretor do ensino religioso e da renovação catequética do arcebispado, e também, inspetor de ensino do ministro da educação.
Foi membro do conselho superior de ensino e conselheiro da nunciatura apostólica. Ao mesmo tempo em 1946, por vontade do arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Jaime de Barros Câmara, saiu do ministério da educação. Dom Jaime pretendia nomear Dom Hélder de seu bispo auxiliar. Mas, essa nomeação só viera a acontecer em 1952.
Em 1950, ao tornar-se amigo do Papa Paulo vi apresentou seus planos de criar a CNBB. Fundou o banco da previdência e a cruzada de São Sebastião, na intenção de ajudar os moradores das favelas cariocas, no tempo em que esteve como bispo - auxiliar do Rio de Janeiro.
Teve algumas divergências com o arcebispo Dom Jaime Câmara (RJ) e foi nomeado para atuar no Maranhão. Porém, com a morte do arcebispo de Olinda e Recife fizeram com que novos rumos fossem dados a vida de Dom Hélder.
Quando assumiu a arquidiocese de Olinda e Recife, no ano de 1964. o convívio entre igreja e governo militar não estavam nada bons. Eram tempos difíceis. Fazia poucos dias que os militares haviam tomado o poder. Havia uma querência por parte dos militares por um representante ilustre da igreja católica que discursasse em homenagem a instalação da ditadura. E isso aconteceria durante a marcha da família com Deus pela liberdade e que ficaria responsável por isso seria Dom Lamartine se negou a fazer apologia ao regime militar, como também, não indicou ninguém dará essa árdua tarefa.
Sem falar que proibiu bandeiras durante a passeata e estimulou a neutralidade do clero. Mesmo com divergências entre a igreja e o estado Dom Hélder foi bem recepcionado. Armaram até um palanque no centro do Recife, na praça do diário. Com direito a governador e puxa sacos. Mas, o que foi realmente impactante nestas boas-vindas, não foram as magníficas oferendas do governo militar, todavia, as palavras de Dom Hélder. “Tenho o coração aberto para os homens de todos os credos e de todas as ideologias”. “Não se espantem se me verem com criaturas da esquerda ou da direita”.
Que coragem! Pernambuco estava sobre o controle dos militares, mas não se intimidou foi preciso em suas palavras, ousado e fiel aos seus princípios. Foi uma tapa muito educada (risos) quem poderia? Uma tapa educada... O fato é que essas palavras provocaram discussões entre os seguidores do serviço militar.
Depois que assumiu a arquidiocese de Olinda e Recife Dom Hélder reuniu 17 bispos do nordeste e criaram um manifesto que concedia a igreja de Deus, maiores poderes, autonomia e a não submissão a qualquer regime ou governo.
Em 12 de agosto de 1966 o arcebispo foi acusado de demagogo e comunista, pelo fato de ter criticado as péssimas condições dos agricultores nordestinos.
Chamado de demagogo e comunista por ter se posicionado contrário a situação de miséria dos trabalhadores rurais nordestinos Dom Helder se tornaria um dos homens mais perseguidos no Brasil pelo regime militar. Em certa ocasião teve sua casa metralhada pos alguns indivíduos encapuzados. A mídia fazia propagandas classificando-o como comunista e demagogo constantemente. Seus assessores foram presos e um padre foi torturado e morto. Muitos de nós abandonam a luta pelo o que se acredita apenas com as ameaças.
Mas, as críticas a Dom Helder e as tentativas de extermina-lo não haviam acabado. Após ter sido indicado para o Nobel da paz o governo brasileiro procurou burlar a indicação. Divulgando um dossiê em que Dom Helder era acusado de disseminar a violência e não a paz.
O fato é que Dom Helder não conseguiu ficar com o Nobel da paz, e também, não conseguiu ficar em paz. Muitos jornalistas e intelectuais da época acusaram-no de causados da desordem pública. O sociólogo Gilberto Freyre defendia em uma matéria publicada pelo Diário de Pernambuco no dia 14 de junho de 1970, que a criminalidade havia aumentado em Pernambuco e principalmente as áreas que costumava mais freqüentar, após a chegada de Dom Helder.
A imprensa quando não detonava dom Helder distorcia seus sermões, como aconteceu em 1969. o jornal O Globo, do Rio de janeiro que havia editado que Dom Helder estava incentivando os jovens a consumir drogas, não seguir as leis da sociedade e por ai vai.
Mas caro leitor até onde vão as atrocidades empreendidas pelos que estão no poder para fazer com que uma pessoa desista de pregar, de falar o que os seus olhos enxergam, de lutar para que os pobres miseráveis tenham melhores condições de vida?
Para muitos não há limites, clemência. O próprio diabo relatado pela Bíblia Sagrada oferece presentes aos indivíduos que são torturados pelas tentações. Mas, nos casos dos militares não havia benefícios, presentes, isso mostra que eles eram piores que o próprio diabo. O que havia de fato eram as punições, a dor sem medida, ossos quebrados, o desaparecimento e o vazio no peito dos familiares que perdiam seus parentes.
Na noite de 26 e 27 de maio de 1969 Dom Helder foi arrebatado para o mundo da dor. Era na verdade mais uma terrível estratégia dos militares para calar definitivamente o pregador da liberdade. O padre Antônio Henrique Pereira da Silva Neto havia sido torturado até a morte. Este tinha recebido inúmeras ameaças de uma organização chamada (CCC – comando de caça aos comunistas), no entanto, ele não deixou de se reunir com os estudantes também procurados pelo regime militar.
Em meados da década de 970 a censura começou a ficar mais forte por causa de decretos-lei que estabeleciam a censura prévia a livros e periódicos. Ficavam de plantão nas redações para avaliar todo material e decidir o que poderia ser publicado. Quando não faziam isso enviavam informações por telex dizendo o veredicto final.
Eram comuns as mensagens às redações dizendo: “está proibida a publicação da entrevista de Dom Hélder Câmara”, como também, não podia se defender. Os meios de comunicação também lhe eram vetados.
Para deixar pior ainda mais a situação a 09 de novembro de 1970 foi determinado pelo governo que estava proibido de ser mencionado o nome de Dom Helder resolveu continuar com mais garra as suas pregações, dessa vez no exterior. Até porque quem se arriscaria de convidar dom helder para uma palestra?
O jejum imposto pelo governo brasileiro durou 7 anos e só foi extirpado em 24 de julho de 1977 na ocasião em que foi publicada uma extensa entrevista pelo jornal do Brasil, do Rio de Janeiro. Foi realmente um verdadeiro desabafo que iam desde sua militância política aos problemas sociais brasileiros. A partir de então o arcebispo não teria mais a censura como perseguidora.
Dom Helder faleceu em sua residência a 27 de agosto de 1999, às 22:20h, vítima de insuficiência respiratória aguda. Foi acompanhado por uma multidão até a igreja da Sé em Olinda, foi sepultado.

Escrito por: Daniel Ferreira
Professor de História e especialista em História do Nordeste.
E-mail: prof_daniel.ad@hotmail.com

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