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Caros amigos sejam bem vindos ao Blog Cuca Livre Um Jeito Diferente de Pensar. Aqui você pode ler, refletir, através do senso crítico opinar e também expor suas idéias.

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segunda-feira, 12 de maio de 2008

Apresentação

“Quem não lutar por sua

liberdade, não a merece”.

Herbert de Souza

Estamos em abril, no numero II do ano II. Na terra das grandes incertezas nunca falta assunto, recebemos noticiais de conterrâneos nossos, Jane que hoje reside no Rio de Janeiro e lá achou o Cuca pela internet e recebemos também uma letra de uma canção do camarada Thynho que será contribuidor mensal do Jornal.

Em nossa entrevista, conversamos com Pe. Tiago que há muitos anos vem lutando no meio do povo pelo direito à terra, através da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e no dia 14 de abril, realizou junto aos sem-terra uma caminhada no Bairro do Recreio. Grande fato histórico na cidade.

Enquanto nossos veículos de comunicação não comunicaram, nós fazemos. Não deram voz ao padre Tiago que teria tanto a nos ensinar porque o que ele teria a dizer não agradaria a um grupo e também, seus comentários poderia fazer muitos perderem seus salários por ter lhe dado a oportunidade de externar seu pensamento.

Nesse mês, direcionamos o foco de analise para questões bastante locais, o que está dentro de nossa proposta é além de pensar sobre o mundo, o país, a História, a nossa localidade não pode ficar fora desse ângulo, tendo em vista que falar de onde se vive é lutar mais diretamente por cidadania, justiça e fortalecimento de nossas raízes e identidades.

Quando se é da resistência, quanto maior o acocho, maior a resposta!

Um abraço caloroso aos leitores!

Nossa Direção: Carlos Jefté, Daniel Ferreira, Josias Albino e Kleber Henrique.

Pensar é causar!

Um Desenho

Pensar é Causar!

São Vicente Férrer: a puta que me pariu.


Já pensei em lhe largar, entregar os pontos. Permitir que sigas a tua própria sorte.

Que os claros buracos se unam à incompetência, ao descaso e aos oportunismos variados.

Mas, sempre tremo. Principalmente quando vejo tuas pobres crianças sendo vítimas de um prazer que as presenteia com dor.

Elas surgem aos montes e elas produzem outros montes.

O cenário se constrói todos os dias ao cair da tarde.

Quando tudo escurece e a população vai se enclausurar nos seus leitos para beber da sabedoria das novelas da Rede Globo.

Suas vestes, o uso do português errado denuncia as jovens fêmeas em tempo de puberdade.

São braços finos, dentes estragados, roupas aos fiapos que se multiplica em uma velocidade que se pode acompanhar.

Nas margens da PE-89, no pátio da Ceasa, a Praça Pedro Pereira Guedes ou onde haja seres dispostos a se aproveitar, elas aparecem.

O tempo, o maior agente transformador, fornece provas reais do grave problema que se alastra na cidade onde o santo padroeiro recebe mais atenção do que a espécie humana em situação de cuidados.

Os discursos são aplainados a cada nova inauguração de um monte de pedras, areia, cal e cimento.

A atenção aos problemas dos oprimidos são facilmente esquecidos por conta da manipulação barata de um montante de locutores semi-analfabetos e sentenciados a fornecer distração em troca dos problemas que sempre voltam após o término dos festivais de “besteirol coletivo”.

O que se vê é o que não se pode comentar. Os setores que representam à lei encontram-se na inércia do trabalho, amordaçados em seus abstratismos que são desfeitos pelos problemas sociais.

A educação continua reproduzindo modelos adequados às exigências do sistema mágico, encantador e que transforma tudo em uma grande reunião de alienados conscientes.

A economia dá seus últimos suspiros de existência. O fim está próximo. Pode-se ver isso da privada de sua casa.

A religião oferece inconformismo, mas, busca transformação pela espera que nunca chega. Espera que um ser de outro planeta venha fazer o que eles não têm coragem de fazer.

Acho que não vou mudar, esse caso não tem solução.

Não quero ser profeta vestido de menino. Nem que a calma me perturbe a ânsia quando o assunto for justiça social.

Que música seria ideal pra esse momento? Quem conseguiria unir os elos que jamais foram ajuntados?

Me sinto traído dentro de meus pensamentos que se confrontam e se misturam em uma composição magnífica, constituindo uma grande mão. Isso! Vejo várias mãos agora se direcionando rumo à mudança que fará da minha “puta fictícia” uma personagem redimida pela escolha, pela coragem, rompimento com a subserviência programada.

Sinto novos ares, novos rumos. É mais uma mente que se abre, que brilha.

Somos nós mesmos fazendo as nossas escolhas.

Escrito por: Daniel Ferreira

Professor de História e especialista em História do Nordeste.

E-mail: prof_daniel.ad@hotmail.com

Eu No Tempo!

A Mais nova composição de Petrônio Andrade (Thynho), Filho de São Vicente Férrer e atual residente de Fortaleza – Ceará

A ROTA!

Tynho Andrade

As tuas ruas têm cheiro de solidão
o vento lento varre os becos de escuridão
velhos jovens passeiam sem direção
por entre os bares lotados de ilusão

O destino se abraça a rotina
se crucifica numa dança suicida
as palavras mais novas ecoam
sempre de forma repetitiva

A alegria mais parece um analgésico
um plano de fuga tão fugaz
o futuro num presente indefinido
talvez algo que na prática se desfaz

um blues, um violão,
mais um gole
o afeto dos amigos
o alívio inseguro
uma dor que não sara

O amanhã tanto faz...
que diferença faria?
se o hoje é tão igual
e diferente do que agente queria!

As ruas têm cheiro de solidão
as lágrimas o gosto da desilusão
a solução tem a cor da saudade
que é pintada há quilômetros daqui.

E na saudade quase negreira
no banzo que mata a alma
buscamos o consolo destilado
que não resolve só acalma.


Os Filhos Deste Solo

Todos da cidade a conhecia dos tempos de professora e por ser filha do cidadão mais velho e dos mais sábios do lugar, mas no fins do ano de 1990 ela estava de volta a sua terra, agora com novas propostas, desta vez, ligada às questões da fé – era o movimento cristão da renovação carismática (RCC).

As reuniões começaram no terraço da grande casa de varanda da rua Coronel Henrique e ia gente de todas as classes e problemas sociais, as discussões partiam sempre de um eixo: “a fé é ação e é preciso ver a presença de Deus no outro”. Naquele mesmo ano, aconteceu naquela rua um natal nunca visto antes por aqui, um natal, onde as ceias individuais com suas mesas fartas e belas roupas cederam lugar para um natal de rua, com os pobres, onde todos deram o melhor de si. Poucos anos depois aquele movimento iniciado poderia tomar dimensões indesejadas pela inveja de muitos e tentaram dissolve-lo, mas a mensagem daquele momento ficou clara para todos até mim que com apenas dez anos, vestido de rei mago entendi que “todos podem e devem fazer sua parte”.

Maria Cleonice (Dona Cléo) – “Não podemos desistir de lutar pelo que acreditamos”.


Maria Cleonice de Oliveira, nasceu um 1938 em São Vicente Férrer, filha de dona Adélia pessoa e Sr. Manoel Caetano, era a mais nova das cinco filhos do casal. Nasceu em casa como a maioria das crianças daquela época e cresceu na pequena vila e no sitio da família e dos amigos.

Desde muito cedo, demonstrava claramente sua perspicácia, esperteza e inteligência e essa diferença a classificava como a criança caçula que é sempre impossível.

Participava de tudo. Estar presente nas festas da escola, nos pastoris, quadrilhas e brincadeiras era seu forte. Era muitas vezes a dor de cabeça de mãe Dedé, sua babá, quando a levava para a igreja ou quando no sitio de café de seu Caetano, ela se escondia nos montes de grãos de café, ou subia no topo das árvores. Seu irmão José Bartolomeu era seu companheiro maior de peripécias e quando a coisa esquentava a briga era feia. Só se ouviam as queixas de mãe deda: Adélia! Essa menina é fogo! Só podia ser fim de rama pra ser impossível assim. Todo menino derradeiro da casa é desse jeito! Se meter a brigar com o irmão!

Sua infância foi assim, atividade constante, só parava quando adoecia.

Ficava ligada a tudo, queira aprender tudo e isso não a deixava se desgrudar do paletó de seu Caetano e principalmente da política.

Estudou o primário aqui mesmo no brejo de São Vicente. Terminou com excelentes notas e dois anos depois, quando com 13 anos, recebeu a desafiadora proposta de seu pai: -“Pronto! Já está com 13 anos e eu quero saber de você se você quer continuar seus estudos, sua irmã já esta no colégio e lá é um internato de freiras onde só vai poder vir em casa nas férias. Se quiser eu farei todo o sacrifício necessário, mas você só sai de lá formada”.

Cleonice prontamente aceitou, mas o pai fez ressalva maior: _ “então, se vai, eu vou fazer o possível, agora tem um coisa, a media no colégio é 6,0, mas essa não vale pra mim, a minha média é 8,0, pois se você consegue seis, sabe pouco, se consegue 8,0 sabe um pouco mais e se consegue 10,0 sabe de tudo. Não conseguindo, volta para casa e vai trabalhar com o café no sítio”.

Diante desse desafio, a menina não hesitou, decidiu que iria. Aprontou-se o enxoval, foi feita o teste de admissão e ela foi aprovada para cursar o Ginasial no Colégio Santa Maria em Timbaúba.

Nos primeiros dias no internato foi de adaptação para viver com outras meninas e seguir as tarefas rígidas das freiras alemãs vestidas de preto e com o sotaque carregando. Com pouco tempo ela fez muitas amizades, conquistou o carinho das irmãs e não deixou de aprontar as escondidas e ser de vez em quando chamada diante do conselho de irmãs que falavam uma com as outras em alemão para deliberarem a “sentença final”.

Nada a impediu de cumprir as exigências do pai até concluir o ginásio com excelente desempenho. Mais uma vez, um desafio, que seria decidir a carreira profissional. Inicialmente queria ser enfermeira, mas aconselhou-se com seu pai que lhe mostrou as vantagens de ser professora, o que a fez seguir e não se arrepender do magistério. Voltou ao colégio e cursou o magistério, formando-se aos 18 anos, regressou a sua terra natal. Para a surpresa dessa moça recém-formada como fora a promessa do seu pai o leva-la ao internato, num dia de conversa animada com as filhas do então prefeito Sandoval do Egito, recebeu dele o convite para ocupar uma cadeira de professora e ela assim aceitou. Voltando para casa comunicou a Sr. Caetano que iria trabalhar e o mesmo, descrente, alertou que podia ser provocação do prefeito, tendo em vista que a família oliveira era oposição ao prefeito e seu Caetano era um homem firme em suas posições políticas e não acreditava nos favores, coisa que dura injustamente até hoje, mas o pai disse que se era da vontade dela aceitar a cadeira que aceitasse e no primeiro dia acompanhou a filha até o povoado da Chã do esquecido para assumir a sala.

Chegando na Chã, a tal escola era garagem vazia e suja. Então, seu Caetano imaginou que tinha se cumprido sua interpretação de que a proposta do cargo dado pelo prefeito, fora de fato uma provocação e chamou Cleonice a voltar pra casa e esquecer aquilo. A determinação da moça naquele dia foi maior orgulho de seu pai e ela prontamente disse que iria ser sim a professora dali, feito isso, seu pai ficou de longe a observar aquela moça, sua filha, bem jovem e muito bem vestida e maquiada, deixara de ser uma menina, ali sentada debaixo de uma árvore, mandou que dois moleques avisassem na vila que chegara uma professora e daí a pouco, formou-se uma fila de pais para matricular as crianças, feita a matricula, ela organizou o pessoal e disse que a situação era aquela que todos viam e que era preciso a ajuda de todos. Dividiu tarefas, organizou os planos e na mesma semana, a garagem foi limpa, caiada, chegaram tabuas e cavaletes para fazer as mesas e bancos que dividiam as séries. Umas das mães se comprometeu em fazer as merendas no fogão de carvão e quando tudo ficou pronto as aulas começaram. Cleonice passava a semana na Chã em casa de parentes e mostrou com quantas mãos unidas se fazia educação. Organizava festas do calendário cultural como São João, pastoril e teatrinhos e assim foi surpreendendo a todos, inclusive a uma das mães que no final do ano disse que inicialmente ficou desconfiada de que aquela moça magrinha e toda vaidosa não daria conta de ser professora e dos meninos levados da comunidade.

Aquelas ações incomodaram a muitos incapazes que tanto fizeram picuinhas políticas que Cleonice perdeu o cargo. Nem por isso seu ânimo se abateu. Voltando para casa, criou uma escola particular, na atual praça João pessoa, sua escola chamava-se João XXIII e ensinou muitas crianças da época, deixando os pais satisfeitos.

Como era jovem, juntou-se a outros e durante a noite montou um clube de jovens, onde se reuniam para jogar xadrez, pingue-pongue, cartas e discutir leituras. As invejas e comentários maldosos e preconceituosos surgiram, principalmente depois que passou a dar aulas a um grupo de rapazes que iriam prestar concurso na polícia. Nada disso perturbava sua consciência. Veio o golpe militar de 1964 e em alerta de um delegado local, o clube de jovens teve se ser fechado porque os golpistas militares proibiam qualquer tipo de associação.

Naquele mesmo ano, Cleonice viu que sua terra natal não era seu horizonte e prestou concurso público estadual e passou indo lecionar no recife. Pouco depois, os militares anularam o concurso e fecharam algumas escolas do Recife inclusive a que ela estava ensinando, por terem, sido do extinto MCP (movimento de cultura popular) do governo Arraes que tinha sido deposto pelo golpe.

Novo concurso, nova aprovação no Estado. Daí ensinou em vários bairros do Recife e de cidades vizinhas como São Lourenço da Mata. Fez curso superior na UNICAP, dirigiu escolas e desempenhou da melhor forma sua profissão até se aposentar.

Depois de aposentada, abraçou a renovação carismática católica como missão e morou muitos anos numa casa de retiros e fazendo trabalhos comunitários nas periferias.

Voltou a São Vicente Férrer e foi uma das fundadoras do movimento religioso aqui.

Hoje coordena o grupo de orações e também a comunidade filhos de Sião que esta engatinhando mais já produzindo um belo trabalho e olha para o futuro com muita fé e vontade.

P.S: Ofereço esse texto a Dona Cleonice que me ensinou lições, a Guida por quem tenho grande apreço e à toda a família Oliveira.

Escrito por: Kleber Henrique

Professor de História e especialista em História do Nordeste.

E-mail: prof_kleber_henrique@hotmail.com

Umas Palavras

Pe. Tiago (sacerdote e militante da Comissão Pastoral da Terra (CPT)

Data: 14/4/07

Local: Escola Coronel João Francisco

Cuca Livre: Pe Tiago, até onde sabemos a pastoral da terra é um movimento ligado a teologia da libertação que é uma corrente de pensamento da igreja que interpreta o evangelho em sua essência ligado aos excluídos. O que é a pastoral da terra?

Pe. Tiago: A pastoral da terra não é só um movimento, é uma pastoral da igreja católica aqui no Brasil. E uma pastoral a serviço do povo do campo, é uma pastoral que tem como alvo o trabalhador como protagonista, o trabalhador e a trabalhadora do campo, são eles que tomam o sumo e a CPT apóia e na medida do possível ajuda a esse povo do campo, seja canavieiro, posseiro, sem terra a viver no campo, a lutar pela terra, conquistar a terra, permanecer na terra e como a gente diz, ter direito de ter direitos.

Cuca Livre: Há quantos anos o senhor trabalha com a pastoral da terra?

Pe. Tiago: Meu irmão, eu acho que você já nasce com a estrela da CPT (risos). Eu cheguei no Brasil em outubro de 1968, dois meses antes do nefasto ato institucional n. 5 que vocês não conheceram, mas estão vivendo as conseqüências deste nefasto ato da classe dominante desse país que deveria ser extirpada como um câncer do corpo, esse câncer no corpo do pais que é o latifúndio da classe dominante que atrasa o país. Aqui em Pernambuco, na zona rural, então eu falo neste espírito de extirpar esse câncer do latifúndio e do monocultivo da cana das terras de Pernambuco.

Cuca Livre: Como foi para o senhor ter vivido no Brasil, ter vindo como estrangeiro (escocês) e ser ligado à teologia da libertação em plena ditadura militar. O senhor sofreu repressão ou tortura durante esse período?

Pe. Tiago: Meu irmão Kleber (risos), eu falo até rindo que eu, quando estava nos primeiros dez anos que cheguei aqui no Brasil, eu estava na periferia de Brasilândia na região norte da cidade de São Paulo. Depois dessa periferia onde eu trabalhava, por trás eram os macacos da Serra da Cantareira. Eu estava tão na periferia, tão fronteira, que dificilmente se encontrava com esse povo da ditadura. Vou dizer, agora falando sério: amigos e amigos foram presos, alguns foram assassinados pela ditadura. Naquela época, nós tivemos um grande homem à frente do povo de Deus em São Paulo, Paulo Evaristo Arns (cardeal arcebispo). Eu tive muita sorte de conhecer um homem que ainda está vivo, um homem que com a sua posição não ficou lá no seu gabinete, lá no seu palácio diocesano e que por sinal não quis ficar no palácio, morava numa casa simples. Depois conheci outro bispo, quando fui pra Amazonas, Jorge Marcel, outro grande homem lá na floresta amazônica. Também diagnosticando na época com um câncer foi advertido a voltar para sua terra, Canadá, para ter uma passagem final mais tranqüila e ele disse não! Vou voltar para o Brasil, para o meio do meu povo!

Então, gente como Arns, Marcel, ultimamente quando vim para o nordeste do Brasil, Helder Câmara este homem que foi exaltado pela classe dominante, quando ele falou sobre os pobres e todo mundo da classe dominante batia palmas, mas quando ele perguntou: por que eles são pobres? Muitos gritaram: cala a boca comunista! Você é comunista! Eu espero que essa palestra que a gente deu hoje a tarde, essa conversa aqui, que dê lógica para as pessoas verem que não é normal, bananeiras só plantio de banana, saindo até pela boca da gente, você ver bananeiras entrando pela janela das casas, assim como se vê em vivência, a cana de açúcar, entrando nas janelas das casas. Isso não é normal! O modelo de agricultura aqui no Brasil está muito errado! E temos que extirpar esse modelo do latifúndio monocultor. Nada contra a cana, nada contra a banana, nada contra a uva, é contra o modelo do monocultivo do latifúndio que esta errado!

Cuca Livre: Como a Pastoral da Terra trabalha com as bases, tendo em vista que o trabalhador rural está atrelado ao latifúndio e na maioria das vezes essa ligação do camponês com o proprietário, garante ao latifúndio poder político por conta do domínio da máquina eleitoral que se estrutura nesses laços? Como a Pastoral consegue mobilizar o camponês, tendo em vista que existe uma cultura de medo, muito presente no país?

Pe. Tiago: Meu irmão, o oposto do medo é a coragem! Ta certo? Ta errado! O oposto do medo é a fé! Você falou há poucos minutos sobre a teologia da libertação, meus irmãos, eu falo: teologia que não liberta não é teologia!! Não é! Não deixa nenhum pastor padre ou sei lá o quê enganar você. Se Deus é pai, este Jesus de Nazaré foi por isso que ele morreu, gente! Foi por lutar com o povo que ele morreu! Ele não morreu porque vivia desfiando terço, ele não morreu porque rezava missa, ele não morreu porque morava numa casa paroquial ou porque era amigo do prefeito. Jesus morreu porque viveu essa grande verdade: somos todos irmãos! O que mais me anima é esse amor, desse Cristo carpinteiro, é essa fé que me anima! Tem tanta gente boa nesse mundo, eu conheço tanta gente boa que luta pela justiça! O perigo, meus irmãos Kleber e Daniel, é dessa gente boa desanimar, é preciso acreditar até debaixo d’água, até debaixo da terra que o amor verdadeiro jamais se perde. Não faz nem um mês que celebramos a ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo e para mim, trocando essa ressurreição, trocando em miúdos no nosso dia-a-dia, nestas palavras: Jesus ressuscitou, significam: “o amor verdadeiro jamais se perde”! Continua! Ele vai até o fim dos dias! Então! Esse evangelho ligado ao homem do campo vem mostrar esperança para o trabalhador arrendado, o homem pobre, amputado de seus direitos explorando na terra dos outros. Nós temos que animar esse povo, vivemos um momento crítico no Brasil, mas é para sentirmos a novidade neste momento. Que alegria conversar com vocês, porque a cada momento, estamos passando a tocha para vocês mais jovens continuarem lutando. Aqui nesta Zona da Mata, tantos mártires da luta que nós reverenciamos. Eu poderia citar João Pedro, Teixeira, Inácio, Maria e outros. Esse mártires também entregaram a tocha para gente para com fé seguirmos em frente.

Cuca Livre: Como o senhor encara a ala conservadora da igreja e como o senhor encara o caso Leonardo Boff no seio da igreja católica?

Pe. Tiago: Meu irmão, eu lamento o Leonardo aceitar que o chamem de ex-franciscano. Uma vez franciscano, sempre Francisco! Estou certo ou errado? Ta muito certo! Sobre a igreja conservadora meu irmão, eu pergunto onde está o “Ide pelo mundo e fazer discípulos”. Eu lamento gente, porque tem gente que lê a bíblia e não entende que é pra sermos discípulos e não freqüentadores de igreja. Há uma grande confusão: igreja cheia muita fé, então... eu olho para alguns países que não são cristão e eu percebo o quanto é verdade o que Jesus disse: “os ladrões e as prostitutas vão anteceder vocês no reino”, vão passar em primeiro lugar e muitos vão ficar chupando dedo e dizendo: Senhor! Senhor! Nós falamos a verdade! Sim. Falaram a verdade, mas não é só falar a verdade, mas fazer a verdade, fazer uma sociedade justa. Meus irmãos Kleber e Daniel, não podemos ser só freqüentadores de igreja. um padre me questionou: onde é sua paróquia? Eu disse:- no campo. E sua igreja? Eu disse: - Debaixo do pau, das arvores? E o povo da paróquia? –são os sem-terra. E continuou: o senhor celebra missa? E eu: é... duas ou três vezes por ano. O que?!? Duas ou três vezes por ano?!? Só! Você é padre mesmo? Eu disse: sou sim! Eu perguntei a ele meu irmão, quantas missas Jesus celebrou? Ele coçou a cabeça e disse: uma! E eu disse: pela metade? Ele disse: - Foi. Jesus celebrou duas missas na vida dele, uma na cruz e outra na véspera. Muitos padres ficam nessa de missa, missa, missa e esquecem que o evangelho é boa noticia e a CPT procura fazer isso, ler o evangelho de novo e fazer Leonardo Boff faz, ler a partir da realidade e não a partir de “verdade eternas que nunca mudam”. Companheiro, nada é eterno, tudo muda!

Cuca Livre: Como cada um de nós, enquanto cidadãos, embora não dentro do ambiente rural, podemos ser solidários com a luta pela terra?

Pe. Tiago: Eu vou dizer uma coisa que é grave: quem é do meio urbano, zele bem pela sua comida. Não deixe que empresas como Adrent, Bunge, Dupon e outras envenenar tua vida com suas sementes, pesticidas, inseticidas, herbicidas, etc. gente! Estamos nos envenenando! Temos que estabelecer um contato comercial com esse pequeno agricultor que tem sítio e planta a macaxeira, feijão, maxixe, tomate, etc. E perguntar: - o senhor usa veneno? - não senhor. Então, eu preciso toda semana, tanto inhame, tanto de macaxeira e etc. mande preparar sua cesta e compre. Precisamos desse contato. Você come um abacaxi do campo e um do supermercado. Qual tem o gosto melhor? Eu estive nos Estados Unidos e me avisaram antes que comesse frutas e verduras aqui e é verdade. Quando cheguei lá, as frutas e verduras muito bonitas, mas com o gosto de plástico de tão envenenados. Por amor a você e sua família, procure comprar lá no sítio.

Cuca Livre: Que caminhos são possíveis para desmistificar a imagem negativa que a mídia faz acerca dos movimentos de luta pela terra?

Pe. Tiago: É muito difícil. É preciso parar e pensar. Vou te dar um exemplo. Semana passada me disseram que o povo é muito apático, o povo não quer nada. E que disse que não, que não era nada disso. Eu assisto televisão e vejo aquelas belas propagandas de carros enormes, BMW ou sei lá o quê, e a gente vê aqueles objetos de desejo e muitos saem e compram, então o povo não é apático, aprenderam a lição que eles dão. Uma vez comprados esses objetos de desejo, vai andar aonde? Antigamente tinha hora de rush nas capitais, hora de maior movimento, agora é o dia inteiro. São Paulo hoje, para se chegar a algum lugar tem que ser com 3 horas de antecedência. Só pegando esse exemplo dos automóveis é possível ver como tudo está errado. É preciso criar muito mais transportes públicos, mais metrôs, ônibus, ciclovias etc. não é possível todos dirigirem carro, pois esse sonho já acabou, é impossível comportar tudo. Nós temos que reconhecer o que é mais normal. Trânsito nas cidades como está não é normal, a agricultura monocultora e latifundiária também não é normal. Precisamos comunicar essas coisas na sala de aula, na celebração da fé e etc.

Cuca Livre: O senhor acha que a reforma agrária no Brasil está próxima? Uma reforma agrária que venha emancipar o povo?

Pe. Tiago: reforma agrária companheiro, vem dentro de uma transformação da sociedade. é muito difícil a reforma agrária dentro do sistema capitalista. Só que aqui, volto a dizer, enquanto houver latifúndio não haverá reforma agrária e a comida vai sumindo das mesas. É banana, cana, uva para exportação e o Brasil voltando a ser colônia, e uma colônia está sujeita a exploração.

Cuca Livre: Como seria o modelo ideal de reforma agrária?

Pe. Tiago: Meu irmão, eu estava na Venezuela no fórum social mundial há dois anos atrás e fomos visitar as comunidades e eu fiquei pasmado. Falam mal de Hugo Chaves, principalmente essa mídia a serviço da classe dominante, e quando essa mídia fala mal de uma pessoa é porque está fazendo algo de bom. Lá nas comunidades venezuelanas, tanta terra, tratores, sementes, instrumentos etc. E como funciona? O governo dá a cada um 200 hectares e nesses o camponês tem que produzir comida para o povo venezuelano. Eles enchem com comida, batata, feijão, inhame etc. essa é uma reforma agrária com assistência técnica. Enquanto aqui no Brasil, o governo das 8 hectares de terra e diz se vire. Esse governo que está aqui agora e foi nossa esperança, pois o ladrão rouba seu anel, seu óculos, seu relógio e quem rouba o sonho de um povo? E eu volto a dizer que é preciso ter muita fé para não desanimar e não cair na tentação de dizer que não adianta e que tudo a mesma coisa. Vamos fazer diferente, não pela via política, por que você ver hoje PT e PSDB andando juntos. Você vê o prefeito de Recife com o maior latifúndio urbano e o povo morrendo à mingua nos morros e favelas. E porque esse prefeito “socialista” não desapropria esse latifúndios urbanos? Reforma agrária quem vai fazer não são eles, somos nós. Nós somos esse povo da esperança, temos essa fé!

Bate Bola

Cuca Livre: O mundo?

Pe. Tiago: Fraterno

Cuca Livre: As pessoas?

Pe. Tiago: irmãos, irmãs, filhos do mesmo pai.

Cuca Livre: uma tristeza?

Pe. Tiago: A falta de consciência.

Cuca Livre: Uma Alegria?

Pe. Tiago: Eu tenho muitas. Eu acho uma alegria privilegiada andar com esse povo.

Cuca Livre: Uma possibilidade

Pe. Tiago: Eu só posso dizer para Deus que nada é impossível, eu sou filho dele e tu também! Uma palavra: essa palavra tão usada amor

Cuca Livre: Uma Palavra?

Pe. Tiago: essa palavra tão usada amor

Cuca Livre: Uma Frase?

Pe. Tiago: não mexe com o gato se não estiver com luva (risos)

Cuca Livre: Um Gesto?

Pe. Tiago: Mesa farta, prato cheio.

Cuca Livre: Um sonho?

Pe. Tiago: Viver no dia-a-dia e não ser dominado pela rotina monótona, transformar com criatividade essa rotina. Sempre ter a possibilidade de ver com novos olhos, ouvir com novos ouvidos e falar com nova voz, sentir com novos sentidos a realidade e transformar a realidade.

Vento e Raiz

Carta aos Vicentinos


Quando soube do projeto CUCA LIVRE e tive acesso ao jornal, senti um orgulho imenso pela belíssima iniciativa de criada um veículo de valorização da nossa cultura e da nossa terra.

O convite para escrever para o jornal, vindo do meu amigo Daniel (posso chamá-lo assim, pois já vivemos muita coisa juntos) me deixou muito feliz e aceitei de pronto. Então vieram as dúvidas sobre o quê escrever? Poderia tratar de algum tema em Psicologia, mas não seria nada que se aproximasse da relação que tenho com a minha terra. Também não queria escrever como uma universitária qualquer sobre um assunto qualquer, não queria palavras vazias.

Por sugestão de uma amiga, li um livro sobre identidades na cultura pós-moderna de Stuart Hall (2006) e decidi escrever sobre como as identidades contemporâneas estão se fragmentando, mas quando me deparava com o papel em branco não conseguia ser metódica e simplesmente construir um texto fazendo colocações sobre as idéias do autor faltava pessoalidade, faltava emoção; contudo o livro me levou a pensar. Hall em seu estudo diz que o conceito de identidade mudou através da história. Essas transformações ocorreram desde o sujeito na concepção iluminista completamente centrado e unificado, dotado de consciência racional com a qual baseia suas ações, identificando assim um núcleo interior como "centro", núcleo esse que nascia com o sujeito e se desenvolvia ao longo de sua existência. Com o decorrer da história o sujeito passa a ser encarado em uma perspectiva sociológica onde o núcleo do indivíduo se constitui na relação com o meio, como diz Hall "a sociedade é formada na interação entre o eu e a sociedade". Nos tempos atuais, atendendo a uma exigência pós-moderna, o eu é visto de uma maneira fragmentada, ou seja, assumimos diferentes identidades ao longo da nossa história, algumas vezes simultâneas, em outras totalmente incoerentes. Segundo Hall é fantasia pensar em uma identidade totalmente unificada, completa, segura e coerente. Para se chegar a esse pensamento aconteceram marcos de descentramentos desse sujeito através da história (mas não vou entrar nisso, pelo menos agora).

Foi somente aí que descobri minha dificuldade em escrever, não sabia qual identidade usar. Não sou somente nordestina ou vicentina, sou também mulher, sou filha, sou ex-aluna do CERU, sou aluna da PUC-Rio , sou atual moradora do Rio, sou amiga e sou simplesmente Jane que muitos conheceram e talvez agora desconheçam, pois esses quatro anos aqui foram de muitas mudanças, sou todas essas identidades e vou chegar a ser outras.

Escrito por: Jane Correia

Vicentina residente no Rio de Janeiro

Vista de Um Ponto

Evangelho na atualidade


Digamos que o cristianismo tem em si uma grande importância, uma história rica na cultura brasileira chegaram com tudo detonando a cultura brasileira tomando posse da fé predominante do nosso pais...

Cristianismo tem como base a vida de Jesus Cristo... e evangelho é a divulgação do cristianismo.

A pregação do evangelho tem em si um fim glorioso leva as pessoas ao conhecimento da bíblia, a palavra de Deus.

Mais o que tem acontecido na realidade dessa suposta pregação? Qual o objetivo da maioria que se entrega a essa vida de divulgação do evangelho?

Infelizmente eles têm se desviado não só da palavra, mas da vida de Cristo em si e suas maiores preocupações são: lotações das igrejas, bens materiais e alto mérito.

Esse suposto evangelho que predomina na atualidade consegue adeptos de uma forma muitas vezes ignorada.

O catolicismo no Brasil ocupa cerca de (64,0%) da população, enquanto o protestantismo (22,0%), ou seja, o cristianismo no país ocupa quase 100% da população.

Imagina se isso fosse explorado de forma mundial.

Não sei se fico feliz ou triste ao ver essa grande extensão ao alcance do evangelho no Brasil.

Sim porque a maioria destas pessoas que dizem seguir e amar estão apenas convencidos de que estão no caminho certo e não verdadeiramente convertidos ao chamado da cruz.

Minha crítica, especificamente, não é contra o cristianismo ou qualquer religião, mas sim contra aquelas pessoas que tiram à suficiência do evangelho e acrescentam doutrinas a algo que é tão simples de ser entendido ou até mesmo de ser vivido. Me deparo diariamente com pessoas que compram esse evangelho tão precioso e que na atualidade tem sido cada vez mais banalizado. Se entendessem que o evangelho é Cristo se revelando e que a sua preciosidade é bem mais do que doutrinas que apenas trazem conforto a suposta “alma” que eles manipulam. Mas o que eles têm feito?

Têm tornado não só o evangelho e o cristianismo superficiais como também a religião em si.

Se o evangelho de hoje pregasse o que Jesus Cristo quis passar ele pregaria sobre renúncia... O que Cristo quis dizer quando afirmou: “se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me.” Marcos 8:34 p.b.

Através desse versículo eu afirmo: “o evangelho é um chamado pra o alto sacrifício e não a alto realização”.

Certa vez eu me deparei com uma determinada pregação em uma igreja onde simplesmente pregavam que se você não for próspero, ou seja, se a igreja não for prospera essa pessoa supostamente não tem um pingo de fé ou não tem fé o suficiente pra se dizer seguidor de Cristo. Saí daquele local pasma e muito triste, pois me perguntei aonde está a suficiência da Bíblia ou melhor aonde esta a suficiência e a vida de Cristo? E me questionei novamente baseada na vida de Cristo se ele foi o homem de mais fé existente porque não teve uma vida próspera?

E percebi que eles se contradizem no próprio evangelho que dizem amar e pregar. Minha esperança é que esses seguidores do evangelho atual, ou melhor falando, do evangelho que ta na moda se toquem da grande bobagem e burrada que estão fazendo com suas próprias vidas.

E que as pessoas responsáveis por encaminhar outras pessoas tenham o bom senso de se corrigir enquanto ainda é tempo. Meu maior medo nisso tudo é que esse tipo de fé seja vista como uma forma normal e que acabe realmente com o sentido do evangelho o que já tem começado. E o que mais me dói é ver que esse extermínio da verdade esta indo em frente, com toda força.

E que os poucos como eu que enxergam essa realidade não a mostram pra o mundo. Aí é que me questiono novamente: Se essas pessoas amam realmente a verdade porque não lutam para que essa verdade seja realmente exposta, doa a quem doer?

O que mais me assusta é esse Deus que eles pregam e dizem adorar o torna uma completa “idiota” ou mais um papai Noel, quando na verdade Deus é definido em amor e justiça.

Realmente Deus nos ama com amor incondicional e que tem como conseqüência ”Justiça”, estou cansada de ver a suficiência de Deus sendo colocada da forma que o “público” quer que seja, sem se esquecer que o pior inimigo do evangelho não são outras religiões muito pelo contrário e o próprio evangelho contraditório.

O ser humano é feito de razão e emoção se na divulgação do evangelho não houver coerência com o que realmente do ser humano ele se torna cada vez mais superficial. Como definir esse evangelho atual: ele é simplesmente insuficiente pra alma, trazendo consigo apenas frustrações.

Minha oração hoje é para que apenas entendam a mensagem da cruz e vejam que vida com Deus e para Deus é bem mais do que o que eles fazem as pessoas acreditarem ser a verdade e que entendem o grande desvio que tem dado da palavra de Deus.

Escrito por: Rafaela Moura – Macaparana – PE

E-mail: rafaela.moura.@hotmail.com

A Luta de Cada Um!

Dom Hélder Câmara: o pastor da liberdade


“Quanto mais negra é noite mais carrega em si a madruga”.
Dom Hélder Câmara


Nascido a 07 de fevereiro de 1909, em fortaleza, Ceará, num anexo de uma escola pública onde na ocasião, sua mãe, a professora Adelaide Rodrigues pessoa câmara, estava como diretora. O episódio de nascimento de Dom Hélder pode ser comparado ao de Cristo. As estalagens, a situação econômica e o propósito de existência.
O seu pai era um guarda-livros e um estimado crítico de teatro João Eduardo torres câmara filho. Em uma das buscas de seu pai no dicionário com a finalidade de colocar um nome em mais um de seus filhos encontrou o nome Hélder e ficou vislumbrado com o significado, “fortaleza do norte da Holanda”.
Dom hélder teve 12 irmãos e 5 desses vieram a falecer por conseqüência de uma epidemia de difteria. Resolveu dedicar-se desde muito cedo a vida eclesiástica no seminário de fortaleza vindo a sair apenas com 22 anos e meio ordenado padre.
Participou de 1931 – 1937 da ação integralista ( versão brasileira do fascismo) que segundo o próprio Dom Hélder foi o seu “pecado da juventude”.
Em fortaleza exerceu várias funções além das eclesiásticas. Uma dessas foi a de diretor do departamento de educação do estado, pelo governador Francisco Pimentel, no ano de 1934.
Já residente no Rio de Janeiro no ano de 1936 Dom Hélder foi nomeado assistente técnico do secretariado de educação do distrito federal. Além de ser nomeado diretor do ensino religioso e da renovação catequética do arcebispado, e também, inspetor de ensino do ministro da educação.
Foi membro do conselho superior de ensino e conselheiro da nunciatura apostólica. Ao mesmo tempo em 1946, por vontade do arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Jaime de Barros Câmara, saiu do ministério da educação. Dom Jaime pretendia nomear Dom Hélder de seu bispo auxiliar. Mas, essa nomeação só viera a acontecer em 1952.
Em 1950, ao tornar-se amigo do Papa Paulo vi apresentou seus planos de criar a CNBB. Fundou o banco da previdência e a cruzada de São Sebastião, na intenção de ajudar os moradores das favelas cariocas, no tempo em que esteve como bispo - auxiliar do Rio de Janeiro.
Teve algumas divergências com o arcebispo Dom Jaime Câmara (RJ) e foi nomeado para atuar no Maranhão. Porém, com a morte do arcebispo de Olinda e Recife fizeram com que novos rumos fossem dados a vida de Dom Hélder.
Quando assumiu a arquidiocese de Olinda e Recife, no ano de 1964. o convívio entre igreja e governo militar não estavam nada bons. Eram tempos difíceis. Fazia poucos dias que os militares haviam tomado o poder. Havia uma querência por parte dos militares por um representante ilustre da igreja católica que discursasse em homenagem a instalação da ditadura. E isso aconteceria durante a marcha da família com Deus pela liberdade e que ficaria responsável por isso seria Dom Lamartine se negou a fazer apologia ao regime militar, como também, não indicou ninguém dará essa árdua tarefa.
Sem falar que proibiu bandeiras durante a passeata e estimulou a neutralidade do clero. Mesmo com divergências entre a igreja e o estado Dom Hélder foi bem recepcionado. Armaram até um palanque no centro do Recife, na praça do diário. Com direito a governador e puxa sacos. Mas, o que foi realmente impactante nestas boas-vindas, não foram as magníficas oferendas do governo militar, todavia, as palavras de Dom Hélder. “Tenho o coração aberto para os homens de todos os credos e de todas as ideologias”. “Não se espantem se me verem com criaturas da esquerda ou da direita”.
Que coragem! Pernambuco estava sobre o controle dos militares, mas não se intimidou foi preciso em suas palavras, ousado e fiel aos seus princípios. Foi uma tapa muito educada (risos) quem poderia? Uma tapa educada... O fato é que essas palavras provocaram discussões entre os seguidores do serviço militar.
Depois que assumiu a arquidiocese de Olinda e Recife Dom Hélder reuniu 17 bispos do nordeste e criaram um manifesto que concedia a igreja de Deus, maiores poderes, autonomia e a não submissão a qualquer regime ou governo.
Em 12 de agosto de 1966 o arcebispo foi acusado de demagogo e comunista, pelo fato de ter criticado as péssimas condições dos agricultores nordestinos.
Chamado de demagogo e comunista por ter se posicionado contrário a situação de miséria dos trabalhadores rurais nordestinos Dom Helder se tornaria um dos homens mais perseguidos no Brasil pelo regime militar. Em certa ocasião teve sua casa metralhada pos alguns indivíduos encapuzados. A mídia fazia propagandas classificando-o como comunista e demagogo constantemente. Seus assessores foram presos e um padre foi torturado e morto. Muitos de nós abandonam a luta pelo o que se acredita apenas com as ameaças.
Mas, as críticas a Dom Helder e as tentativas de extermina-lo não haviam acabado. Após ter sido indicado para o Nobel da paz o governo brasileiro procurou burlar a indicação. Divulgando um dossiê em que Dom Helder era acusado de disseminar a violência e não a paz.
O fato é que Dom Helder não conseguiu ficar com o Nobel da paz, e também, não conseguiu ficar em paz. Muitos jornalistas e intelectuais da época acusaram-no de causados da desordem pública. O sociólogo Gilberto Freyre defendia em uma matéria publicada pelo Diário de Pernambuco no dia 14 de junho de 1970, que a criminalidade havia aumentado em Pernambuco e principalmente as áreas que costumava mais freqüentar, após a chegada de Dom Helder.
A imprensa quando não detonava dom Helder distorcia seus sermões, como aconteceu em 1969. o jornal O Globo, do Rio de janeiro que havia editado que Dom Helder estava incentivando os jovens a consumir drogas, não seguir as leis da sociedade e por ai vai.
Mas caro leitor até onde vão as atrocidades empreendidas pelos que estão no poder para fazer com que uma pessoa desista de pregar, de falar o que os seus olhos enxergam, de lutar para que os pobres miseráveis tenham melhores condições de vida?
Para muitos não há limites, clemência. O próprio diabo relatado pela Bíblia Sagrada oferece presentes aos indivíduos que são torturados pelas tentações. Mas, nos casos dos militares não havia benefícios, presentes, isso mostra que eles eram piores que o próprio diabo. O que havia de fato eram as punições, a dor sem medida, ossos quebrados, o desaparecimento e o vazio no peito dos familiares que perdiam seus parentes.
Na noite de 26 e 27 de maio de 1969 Dom Helder foi arrebatado para o mundo da dor. Era na verdade mais uma terrível estratégia dos militares para calar definitivamente o pregador da liberdade. O padre Antônio Henrique Pereira da Silva Neto havia sido torturado até a morte. Este tinha recebido inúmeras ameaças de uma organização chamada (CCC – comando de caça aos comunistas), no entanto, ele não deixou de se reunir com os estudantes também procurados pelo regime militar.
Em meados da década de 970 a censura começou a ficar mais forte por causa de decretos-lei que estabeleciam a censura prévia a livros e periódicos. Ficavam de plantão nas redações para avaliar todo material e decidir o que poderia ser publicado. Quando não faziam isso enviavam informações por telex dizendo o veredicto final.
Eram comuns as mensagens às redações dizendo: “está proibida a publicação da entrevista de Dom Hélder Câmara”, como também, não podia se defender. Os meios de comunicação também lhe eram vetados.
Para deixar pior ainda mais a situação a 09 de novembro de 1970 foi determinado pelo governo que estava proibido de ser mencionado o nome de Dom Helder resolveu continuar com mais garra as suas pregações, dessa vez no exterior. Até porque quem se arriscaria de convidar dom helder para uma palestra?
O jejum imposto pelo governo brasileiro durou 7 anos e só foi extirpado em 24 de julho de 1977 na ocasião em que foi publicada uma extensa entrevista pelo jornal do Brasil, do Rio de Janeiro. Foi realmente um verdadeiro desabafo que iam desde sua militância política aos problemas sociais brasileiros. A partir de então o arcebispo não teria mais a censura como perseguidora.
Dom Helder faleceu em sua residência a 27 de agosto de 1999, às 22:20h, vítima de insuficiência respiratória aguda. Foi acompanhado por uma multidão até a igreja da Sé em Olinda, foi sepultado.

Escrito por: Daniel Ferreira
Professor de História e especialista em História do Nordeste.
E-mail: prof_daniel.ad@hotmail.com

Liberducação

Bullying


No seio Educacional como em todas as outras instituições existem os mais variados problemas, entre eles podemos salientar, mau pagamento dos professores, alunos cada vez mais desestimulados, falta de material de trabalho, professores correndo sérios perigos em desempenhar o seu trabalho devido a alunos mal intencionados que ameaçam seus educadores de morte se não fizerem o que eles exigem, dentre outras coisas mais.
Meu ex-professor e amigo pra as mais variadas horas, Tio Dan, devido a um seminário onde ele precisou ficar em casa estudando me incumbiu de uma tarefa que até antes nunca tinha desempenhado, que foi dar aula em seu lugar. “Nossa! Todo um processo de frio na barriga envolvido” (Pensei), Até que cheguei ao 1º Normal ‘A’ onde os alunos eram simpáticos e bastante participativos, (Uma felicidade para qualquer professor), e começamos a aula. Na aula anterior foi proposta uma atividade onde eles procurariam reportagens relativas a educação e fariam um comentário sobre elas para podermos discutir na sala de aula, no dia seguinte e começamos a debater. Foram citados temas bastante conhecidos como os já citados acima.
Ai me veio na mente falar sobre um tema não muito conhecido entre eles, mas que seria bem interessante fazer uma pequena explanação, um nome de difícil pronuncia de origem inglesa chamado carinhosamente de Bullying, mas afinal de contas o que diabos é Bullying? E ainda mais, o que ele tem a ver com a educação? Bem será isso que tentarei explicar.
Bullying são todas as formas de atitudes agressivas intencionais e repetitivas que ridicularizam o outro. Atitudes como comentários maldosos, apelidos ou gracinhas que caracterizam alguém, e outras formas que causam dor e angústia, e executados dentro de uma relação desigual de poder que são características essenciais que tornam possível a intimidação da vitima. A palavra inglesa Bullying ainda não tem uma tradução para o português, mas significa valentão, brigão, ameaça ou intimidação e, embora seja ainda pouco conhecida, refere-se a uma prática freqüente nas escolas.
Apesar desse termo não ser muito conhecido no Brasil, até por parte de alguns educadores e alunos, ele sorrateiramente vem se infiltrando na realidade educacional brasileira. Será que um dia já não presenciamos alguns jovens caçoando ou agredindo um colega? Mesmo que aquilo lhe pareça brincadeira? Mas muitas vezes não é.
A vítima de Bullying passa pelos mais variados constrangimentos dia após dia constantemente, e ela se pergunta o por que de estar sofrendo essa perseguição, muito dos Bullyes (Agressores) se acham no direito de menosprezar o colega só porque é para eles “estranho”, ou porque simplesmente não pertence a sua classe social ou a rodinha de amigos imbecis, e nos agressores vemos características latentes de falta de empatia, que para se exibir para o grande grupo ele agride seja com palavras ou agressões físicas o individuo para se exibir.
Vamos citar na própria televisão um caso notável de Bullying, o do seriado Todo Mundo Odeia o Chris (Everybody hates Chris) Onde de uma forma bem irônica mostra a humilhação diária do protagonista pelas mãos de um colega de sala, Caruso, que apenas pelo fato de ser negro ele acaba sofrendo toda sorte de infortúnio, salientando assim uma característica terrível do bullying que é a disseminação do preconceito.
E um fato importante de se ressaltar é que devido ao bullying, tem ocorrido um aumento significativo de suicídios jovens por causa da perseguição constante, e por outro lado já pode acontecer o oposto de as vítimas decidirem revidar,alguns dos casos citados na imprensa, como o ocorrido na cidade de Taiúva, interior de São Paulo, no início de 2003, no qual um ou mais alunos entraram armados na escola, atirando contra quem estivesse a sua frente, retratava reações de crianças vítimas de BULLYING. Merecem destaque algumas reflexões sobre isso: - depois de muito sofrerem, esses alunos utilizaram a arma como instrumento de "superação” do poder que os subjugava, - seus alvos, em praticamente todos os casos, não eram os alunos que os agrediam ou intimidavam. Quando resolveram reagir, o fizeram contra todos da escola, pois todos teriam se omitido e ignorado seus sentimentos e sofrimento.
Então o que devemos fazer em relação ao Bullying não é nos calarmos e deixar como está rezando para que isso um dia acabe, você vítima ou você testemunha, fale com as autoridades escolares competentes e de forma alguma nos deixamos intimidar por qualquer tipo de difamação, pois reconhecemos nosso valor e a nossa dignidade e isso é algo que nenhum desses bullyes (agressores) vai poder tirar. E um fato importante é que como a raiz do bullying é o preconceito, não desenvolvamos esse defeito desumano.
Saibamos respeitar as diferenças para assim vivemos em igualdade, pois cada um tem sua qualidade por mais peculiar que seja não temos de forma alguma o direito de tirar a felicidade e a liberdade de qualquer pessoa.
Uma música que foi composta pela banda norte-americana Korn retrata tanto na letra como no clipe como é a vida de uma vítima de bullying.
Então o que temos a fazer é viver, amar e acima de tudo respeitar, pois como já dizia um velho sábio: “Viver requer coragem então, viva para ser feliz e não viver em vão”. (Charlie Brown Jr.)

Escrito por: Adailton Gustavo
Estudante de História
E-mail:gu_craig_133@hotmail.com

Thoughtless ( Impensado )
Korn ( compositor )

Folheando as páginas das minhas fantasias
Pressionando toda a piedade para baixo, baixo...
Eu quero ver você tentar tirar uma da minha cara
Vamos lá, te colocarei no chão, chão...

Por que você está tentando tirar sarro de mim?
Você acha isso engraçado?
Que porra você acha que isso faz comigo?
Você gasta seu tempo batendo em mim.
Eu quero ver você chorando com o traseiro sujo na minha frente

Todo meu ódio não pode ser medido.
Eu não serei afogado por seus atos impensados.
Por isso você pode tentar me puxar para baixo.
Me jogar no chão.
Eu verei você gritando

Folheando as páginas das minhas fantasias
Eu estou acima de você, rindo de você, morra, morra, morra
Eu quero te matar e te violentar do jeito que você me violentou
E eu puxarei o gatilho
E você já era, já era, já era.

(Refrão)
Todo o meu ódio não pode ser medido
Eu não serei submergido por seus planos desconsideradores
Por isso você pode tentar me puxar para baixo
Me jogar no chão.
Eu verei você gritando.

Todos meus amigos se foram, eles morreram (vou te pôr no chão)
Todos eles gritaram, e choraram (vou te pôr no chão)

Eu nunca mais serei ferrado contra o muro (vou te pôr no chão)

Brasil Mostra Tua Cara

Panis et Circenses, do latim: pão e Circo.



“Eu vejo um museu de grandes novidades...” Só mesmo um poeta do quilate de Cazuza para traduzir e eternizar com palavras determinados sentimentos e sensações que nos acompanham e nos vem à tona em algumas situações. Foi exatamente assim que eu e tantas outras pessoas nos sentimos no último 05 de abril. Estávamos diante de um museu de grandes novidades! Em pleno século XXI foi possível se reportar para a Roma decadente da Antiguidade Clássica, se bem que em alguns aspectos já estamos em decadência a muito tempo.
O Império Romano que durou mil anos e parecia implacável e imbatível não se esquivou da ação do tempo que é o senhor da razão e ruiu comprovando a dialética da História e da sabedoria popular que diz sabiamente que “nada é para sempre”.
Nos últimos tempos da Roma decadente, ingovernável e de povo faminto era verdadeiro terreno fértil para surgir revoltas e rebeliões populares, fator que preocupava os governantes da época. Era preciso criar algo que contivesse a revolta do povo. Era preciso apagar qualquer centelha capaz de mobilizar a “rafaméia” contra seu imperador.
Governantes loucos e famosos até hoje como Nero, criaram ações políticas copiadas e seguidas à risca ainda hoje. Uma dessas ações foi a política de “Pão e Circo”, ou seja, construiu-se um grande teatro de arena onde todos as noites haviam espetáculos de luta de gladiadores ou simplesmente colocava-se no centro da arena um cristão qualquer e soltavam-se leões famintos para devora-lo diante da platéia que assistia bem sentada comendo um pão que recebia na entrada do anfiteatro ou circo. Essa política funcionou por muito tempo e ainda funciona. O povo romano passava fome o dia inteiro e se revoltava, mas à noite iam ao circo se divertir com os bárbaros espetáculos e enganar o estomago com o pão que ganhavam do imperador com isso era abafada a revolta popular.
Hoje, a coisa de modernizou, o pão e circo tornou forma de cesta-básica e trio elétrico. Para conter a revolta com a fome, com o desemprego com o sistema de saúde, de educação e de todas as outras coisas que garantem a cidadania, nossos políticos periodicamente recebem filas de pessoas famintas de tudo e para receberem de suas mãos os favores “e ainda seus ímpetos de bom ou mau humor de vez em quando uma festinha para não pensarem tanto em suas situações”.
Há alguns messes, aqui mesmo em São Vicente Férrer, o povo da comunidade do cruzeiro sabiamente se organizaram sozinhos com a brilhante colaboração e liderança do professor Severino, filho do Senhor Lampião – (um dos cidadãos mais velhos da comunidade) e a comunidade unida organizou um evento que mergulhou fundo na nossas raízes, fizeram tiro ao alvo, feirinha de bacurau, pau-de-sêbo e arrecadaram fundos que serão destinados para a revitalização e restauração do cruzeiro, da gruta de Nossa Senhora de Fátima, das escadarias e da pracinha como num todo. Foi uma prova da força que tem um povo organizado em prol de uma necessidade ou um sonho coletivo, onde se trabalha junto, se pensa junto e se constrói junto.
Não tardou para o poder municipal perceber que dali podia surgir e se fortalecer algo de maior abrangência ou profundidade como uma associação de bairro que viesse realmente a funcionar e a se organizar para cobrar, se mobilizar e reivindicar e então, passou a se mostrar como atencioso à comunidade e logo foi montado o circo da inauguração do calçamento da ladeira. Não estou dizendo que o poder municipal ou outros poderes deixem de colaborar, mas que essa ajuda não soe como apadrinhamento, onde por intenções menos nobres, a força da organização popular termine descambando para a fila de pedintes, como tem acontecido com muitas associações daqui.
O calçamento foi necessário e importante, como tantas outras coisas o são, com saneamento básico, atendimento de saúde, coleta de lixo e educação de qualidade, que são coisas que a comunidade do Cruzeiro e São Vicente toda precisa e merece.
Mas, vamos para a festa: foi pontuada de discursos apelativos que deixavam claro a intenção de paternalista, coisa do tipo: “... a minha ação de trazer o calçamento para esta localidade trouxe lucro para os bares locais, desenvolvimento, livrou as criançinhas que caíam na lama do inverno, blá, blá, blá... Essa festa do padroeiro aqui vai virar tradição blá, blá, blá...”. Dessa festa, se fosse comentar seu caráter pitoresco dava um texto humorístico à parte, aquilo que estamos acostumados a ver dos políticos, como andar com os bolsos das calças bem engomadas cheios de trocados pelos bares apertando as mãos do povo e fornecendo umas roelas para os votantes “beber, cair e levantar”.
É interessante como há tantos anos se faz festa de São Vicente Férrer, por que só esse ano ela passou a ser no Cruzeiro? Por que não antes? Em nossa história houve inúmeras festas religiosas no Cruzeiro, mas todas feitas pela fé e organização do povo e não da prefeitura. É para desconfiar, principalmente nesse ano, de um minuto pra outro se organizar um evento onde se deu até a roda – Gigante!
O que é preciso dizer é para ser dito, embora poucos façam ou queiram fazer devido a cultura do silêncio que vivemos nesta cidade, essa cultura do calar que só nos faz “correr de costas” enquanto povo. Aqui se tenta provar o contrário, impede-se o acesso de todos e se favorece uma minoria para mostrar que quem fala é quem fica para trás. Foi montada uma indústria da bajulação onde os valores humanos são sepultados e onde os órgãos administrativos se assemelham a carniça rodeada de aves de rapina, querendo arrancar um pedaço para si. Nessa indústria da bajulação, competência é o que menos conta, caiu nas graças dos poderosos de plantão, ta tudo certo. Daí se consegue ver o que vemos todo dia, saúde e educação capengando, e olhe que esses dois sistemas são os mais básicos e principais. Hospital faltando remédios e profissionais competentes e educação faltando merenda, profissionais bem remunerados e outras cossitas más. Uma coisa ainda é confortante para quem gosta dessa cidade e de seu povo e se revolta ao ver esse tipo de coisa é saber que essa indústria dos favores é tão instantânea e dura tão pouco que no final, quando saem, muitas vezes estão com seu caráter e valores individuais em ruínas. É bom perceber que essa galinha dos ovos de ouro, na verdade é um mandacaru que não da sombra nem encosto.
O vicio de conseguir fácil, além de ser peculiar dos incapazes, está suplantando o esforço de conseguir lutando e desenvolvendo. Diz o ditado que política é tudo igual, nem sempre, mas o povo é que deve perceber que unido pode muito mais e toda ajuda é bem-vinda, ajuda não padrinhos. É preciso perceber que muitas mãos dadas são mais fortes do que duas estendidas com duas mil mal intenções por trás.

Escrito por: Kleber Henrique
Professor de História e especialista em História do Nordeste.
E-mail: prof_kleber_henrique

Vida e Arte: Arte do Povo

As trincheiras da rua Alcedo Marrocos e o esquecimento coletivo


Segundo o site www.wikipédia.com.br em suas explanações sobre a I Guerra Mundial (1914-1918) uma trincheira éum canal estreito e longo, escavado no solo, com a finalidade de proteger os soldados dos ataques de seus inimigos. Geralmente tem uma profundidade suficiente para ocultar completamente um homem de pé, abrigando-o do fogo inimigo. A trincheira é, essencialmente, um meio defensivo, cuja utilidade em si reside no deslocamento das tropas de forma dissimulada, possibilitando o seu posicionamento de forma a poder fazer fogo de uma posição protegida”.

Como vimos as trincheiras serviam como abrigo, um escudo quando os tiroteios começavam. O fato é que acredito estarmos nos preparando para uma grande guerra aqui em nossa cidade. E estamos quase certos de que os primeiros focos de resistência já iniciaram, e a rua Alcedo Marrocos está dando os primeiros passos nessa direção. Os treinamentos acontecem sempre em tempos chuvosos. Os moradores da rua armam barricadas nas portas de suas casas, atravessam rios de lama podre e objetos velhos que descem pela correntenza. Confesso que não é uma tarefa nada fácil. Muitos já desistiram do treinamento e se mudaram para outras ruas. Venderam suas casas ou alugaram. Tudo por conta dos treinamentos militares oferecidos pela prefeitura municipal que mais se assemelham ao treinamento do BOBE de tropa de elite.

Mas, assim como as duas Grandes Guerras Mundiais onde os países resolveram se armar até os dentes para enfrentar seus inimigos, aqui em São Vicente Férrer, a população também está se preparando na luta contra o mosquito da dengue. É carro de som nas ruas o dia inteiro, são os agentes de saúde tendo até que trabalhar nos dias de sábado, sem receber pelo menos um “extrazinho”; as escolas avisam dos perigos que o mosquito pode trazer à saúde do infectado, etc, etc, e etc. Não se fala em outra coisa, quer dizer... a morte de Izabella Nardoni também tem atraído a atenção de muita gente, inclusive sendo motivo de especulação por parte da mídia. Dissiminando nos telespectadores vicentinos um ódio extremamente irracional, que é o ódio estimulado pela própria mídia a pessoas que nem sabemos quem são. Confesso que a nossa mídia é muito competente, tao boa que consegue nos distrair com os casos dengue X Izabella dos nossos problemas reais, dos nossos problemas cotidianos, do que realmente vemos todos os dias ao sair de nossa casa. Mas parece que com o auxilio da midia brasileira nos esquecemos que moramos naquele lugar. Somos transportados para um mundo magico, um mundo de fanstasias, um mundo que não é o nosso.

Meu caro leitor, fomos tão afetados por essa onda de dengue X Izabella que nos esquecemos da coleta de lixo, dos problemas com a iluminação da praça Pedro Pereira Guedes e de muitas outras ruas de nossa cidade. Esquecemos dos buracos que vez por outra um senhor ou senhora idosa tropeça, ou alguém danifica os amortecedores de seu veículo. Esquecemos da falta de medicamentos considerados básiscos em um hospital interiorano, como também, a evasão e repetência escolar. Esquecemos dos casos de usuários de drogas e de prostituiçãode de nossas meninas e meninos da pequenina cidade de São Vicente Férrer.

Será que essas coisas serão resolvidas apenas nos poucos meses que antecedem as eleções municipais? Vou deixar vocês responderem.

Certa feita, em uma de minha História aulas na escola Coronel João Francisco questionei com meus meus alunos do I Normal Médio para onde relamente iriam os conhecimentos escolares. Todos riram com a minha resposta. Disse que acreditava que esses conhecimentos pareciam que estavam sendo expelidos pela urina e pelas fezes.

Como todo ser humano pensante tenho dúvidas quanto as escolhas que resultam na felicidade, todavia, em grande parte dos casos deixamos nos influeciar pelos presentes dos políticos em épocas de eleição, trocamos o nosso voto por metros de areia, cimento, tijolos, contratos temporários e por ai vai. Parece que estamos revitalizando os tempos da República Velha praticando a troca de favores. E depois ainda “desce o cacete” nos representantes políticos. Gostaria de informar que esses não entraram no poder pela força, mas por meio do voto que você concedeu.

A escola Coronel João Francisco tem sido vítima da falta de interesse do poder público local por não solucionar um problema que se repete todos os anos, sempre em tempos chuvosos. Muitos de nossos alunos dizem: “hoje não vou a escola porque está chovendo”. E isso pode parecer aos leitores que não têm conhecimento do nosso alunado, pura preguiça. Mas, posso assegurar-lhes que não é verdade.

A trincheira que falei no começo do texto foi iniciada nos fundos da escola Coronel João Francisco que passa pela rua Alcedo Marrocos e termina no rio Capibaribe Mirim. A imagem que se tem da rua Alcedo Marrocos é de verdadeiro abandono. Os moradores se queixam, mas, tem receio de se manifestar. Porém, deve-se salientar que os moradores que preferem ficar calados diantes desse lamentável quadro sao as maiores vítimas em épocas chuvosas.

Tornou-se comum ver garotos retirando areia do “rio Alcedo Marrocos”. Pois é, acabei de batizar. (Risos) O fato é que neste rio não vem apenas areia como foi mencionado, mas também, dejetos humanos, o que pode resultar em uma serie de doenças a esses garotos.

Os moradores fazem montantes de lama e os garotos de areia e aos poucos são formadas barrigas ao lado da “Grande Trincheira” que batizei como o “rio Alcedo Marrocos”. Em poucos instantes você tem um cenário ideal para realização de uma guerra.

Espero que a falta de posicionamentos mais eficientes sejam consubustanciadas em ações realmente concretas, elimiando assim “as barrigadas”, “a trincheira” e permitindo o trafego de todos os transportes e pedestres que sempre passavam pela rua Alcedo Marrocos.

Sem dúvida, é preciso mais união entre os moradores da rua Alcedo Marrocos, serem mais ativos na guerra contra que por enquanto é apenas de lama, areia e água.

Escrito por: Daniel Ferreira

Professor de História e especialista em História do Nordeste.

E-mail: prof_daniel.ad@hotmail.com